Fed & Grécia

O Fed não está com pressa para começar um processo gradual de alta de juros, mas está preparado para dar início a este processo assim que os dados econômicos derem maior confiança ao cenário de recuperação da atividade e de um processo gradual de elevação das taxas de inflação. Assim, é natural esperar que os ativos de risco se tornem mais voláteis e mais sensíveis a qualquer número referente a economia norte americana.

Nos EUA, hoje, a divulgação do Core CPI mostrou uma inflação ainda branda, sem sinais claros de um processo gradual de alta mais persistente. Por outro lado, o Philly Fed (junho) e o Leading Indicator (maio) ficaram acima das expectativas, mostrando sinais adicionais de recuperação da economia. O mercado de trabalho, por sua vez, continua apresentando sinais mais robustos, com o Jobless Claims se mantendo nas mínimas desde 2006/2007.

Estou surpreso com a maneira como o mercado está lidando em um cenário de gigantesco potencial de default da Grécia. Ainda não tenho convicção de que uma reação negativa ainda irá ocorrer, caso o default se concretize, ou se o mercado já está definitivamente preparado para lidar com este default de maneira que não haja qualquer tipo de contágio. Enquanto isso, me parece prudente trabalhar com baixa exposição a risco e buscar apenas assimetrias que mostrem risco/retorno favorável

Os ativos de risco, a grosso modo, e retirando casos especiais (bolsas na Europa, juros locais no Brasil, por exemplo), encontram-se já, há algum tempo, em dentro de algumas bandas, sem sinais claros de alguma tendência mais consolidada. Por exemplo, o BRL segue em uma ampla banda de 3,00-3,20, a Treasury 10 anos em torno de 2,25%-2,50%, o S&P500 na ordem de 2.080-2.130 e assim por diante.

Acredito que essas bandas devem ser olhadas como níveis para tentar maximizar os ganhos do portfólio, até que sinais mais claros favoreçam o rompimento, para qualquer um dos lados, desses ranges. Acredito que apenas o acumulo de dados econômicos mais sólidos nos EUA será capaz de promover o rompimento desses níveis, ou eventos pontuais e localizados, como uma crise mais aguda na Grécia.

No Brasil, a despeito da melhora da dinâmica dos ativos locais nos últimos dias, vejo uma deterioração dos fundamentos nas últimas semanas. Acredito que a melhora dos ativos locais seja pontual, puxada por fluxos específicos devido a um cenário externo mais ameno no curto-prazo. Contudo, o mercado precisa ser respeitado, dado que é sempre difícil prever até onde o movimento pode chegar.

No caso do BRL, o patamar abaixo de 3,05 já me parece atrativo para adicionar, de forma parcimoniosa, posições compradas em dólar. Entendo que o curto-prazo possa continuar desafiador para esta posição (fluxo, juros mais alto, externo e etc), mas ainda acredito no fortalecimento estrutural do dólar no mundo. No Brasil, acredito que a depreciação cambial é parte do processo de ajuste econômico, com o BCB mostrando que será oportunista na rolagem dos swaps cambiais, de acordo com os fluxos que venham a aparecer no mercado.


No mercado local de juros, além de uma dinâmica ruim, o cenário ainda se mostra desafiador para esta classe de ativo. Os sinais de crescimento econômico local são a cada dia piores, mas a inflação se mostra preocupantemente alta e resistente. As posições nesta classe de ativo devem ser táticas, pequenas e com stop curto. Não vejo um cenário de inversão de tendência de alta de taxas no curto-prazo. Hoje ainda é difícil prever onde o BCB irá encerrar o ciclo de alta de juros, em um ambiente de piora no cenário de inflação, fiscal e político.

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