Fed, Positions and Valuations

Os ativos de risco tiveram uma sexta-feira de forte sell-off, com aumento das correlações entre as classes de ativos, e com magnitudes de movimentos que não víamos há alguns meses. O trigger para estes movimentos foi sem dúvida a sinalização, por parte de membros do Fed, de que uma alta de juros poderá ocorrer nos EUA, mais cedo do que tarde. Contudo, acredito que a posição técnica do mercado, assim como o valuation de algumas classes de ativos, em especial no universo dos bonds dos países desenvolvidos, estão sendo vetores determinantes para o aumento da volatilidade dos mercados financeiros globais.

Comentei hoje pela manhã que,

Os mercados financeiros globais começaram a questionar se os limites da política monetária no mundo desenvolvido foram esgotados, ou estão prestes a se esgotar. A reação racional foi uma abertura de taxa de juros, e um steepening das curvas globais de juros, lideradas pelo mundo desenvolvido.  Na minha visão, estes movimentos deveriam ser restringidos por uma ausência quase que completa de inflação no mundo desenvolvido. Contudo, em meio a uma posição técnica claramente excessiva nos bonds globais (especialmente DM), com níveis de preços extremamente “esticados”, não podemos descartar um movimento pontual, mas que poderia ser acentuado, de abertura de taxas de juros no mundo desenvolvido. Um cenário como este não seria inédito, já que no ano passado observamos, em um curto espaço de tempo, os Bunds saírem de próximo a 0,0% para cerca de 1%, sem mudanças relevantes de cenário, mas em um ambiente de quadro técnico e valuation parecido com o atual. O cenário requer uma dose extra de hedges nos portfólios.

Mantenho essa minha visão. Assim, vejo os movimentos atuais como naturais dentro de um ciclo econômico. Acredito que estamos diante de um período pontual de ajuste de preços e posições. É sempre difícil ter precisão da magnitude e extensão desses movimentos. Contudo, minha visão de médio-prazo, mais construtiva, só será alterada caso fique claro que a inflação no mundo desenvolvido esteja “saindo da tumba”, e que a postura dos principais BCs do mundo tenha que ser, definitivamente, alterada. Por ora, este não parece ser o caso. O Fed pode, e até deve, elevar as taxas de juros em 25bps ainda este ano, mas o processo de normalização monetária promete ser longo e gradual.

Estou aproveitando o dia para reduzir o excesso de hedges que tínhamos adicionado aos portfólios, mas mantendo algumas opcionalidades relevantes caso a piora dos ativos de risco se mostre mais persistente e acentuada. Mantenho minha visão de concentrar risco na curva local de juros, com plays relativos no mercado de moedas.

No Brasil, o IPCA ficou em linha com as expectativas em agosto, com alta de 0,44% MoM e 8,97% YoY. O qualitativo do indicador apresentou deterioração, mas grande parte deste movimento pode ser explicado pelo efeito das olimpíadas, e deve ser revertido já no próximo mês.


Ao que tudo indica, o período de volatilidade baixa, ou inexistente, ficou para trás. Teremos pela frente um ambiente de maior incerteza e volatilidade, mas oportunidades de investimento costuma surgir exatamente nestes momentos.

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