Big Day Ahead!
Enquanto esperamos as decisões
do BoJ esta noite, e do Fed na tarde de amanhã, o momento parece oportuno para
tentar avaliarmos os efeitos potenciais de ambos sobre os mercados financeiros
globais.
Minha impressão é que,
caso não haja uma surpresa relevante, poderemos ter duas incertezas sendo
retiradas do cenário no curto-prazo, abrindo espaço para o retorno de algumas
tendências que prevaleceram até começarem a surgir ruídos em torno do BoJ, e
logo após a decisão do ECB em não anunciar medidas adicionais de política
monetária em sua última reunião.
O risco fica por conta
de uma eventual leitura do mercado de que a política monetária no mundo
desenvolvido esteja próxima do fim, com um poder cada vez mais limitado. Isso
poderia levar a mais uma rodada de pressão nos bonds dos países desenvolvidos,
levando a uma nova realização dos ativos de risco.
BoJ – As expectativas em torno do BoJ
são extremamente dispersas, o que torna a leitura do que seria o consenso atual
um tanto quanto complicada. Podemos inferir, contudo, que o melhor dos cenários
para os ativos de risco seria o anuncio de um corte de juros, uma extensão do
QQE e a promessa de que novas medidas possam ser adotadas caso necessário.
O cenário mais negativo
seria a ausência de medidas concretas, ao mesmo tempo em que o BoJ poderia
concluir (ou deixar implícito) que novos cortes de juros, e/ou uma extensão do
QQE, seria contra produtivos no atual cenário.
Qualquer decisão neste
meio termo, o que me parece ser o cenário base, podem gerar interpretações das
mais variadas possíveis. Contudo, reforço minha visão de que o BoJ deveria
deixar claro que não há a intenção de reverter sua postura ainda extremamente
expansionista no horizonte relevante de tempo.
Fed - Acredito que o Fed não irá elevar os juros nesta reunião, mas
irá sinalizar para uma probabilidade elevada de uma alta de juros em dezembro.
A precificação do mercado, com probabilidade de alta até o final do ano em
50%-55% me parece justa.
Ao contrário do que o mercado parece esperar,
não vejo ganhos por parte do Fed em reduzir ainda mais os “dots” (ou seja, as
expectativas de juros) para 2017 e 2018. A manutenção dos “dots” pode ser vista
como pontualmente mais hawkish.
Porém, a dissonância entre os dots e o mercado é muito grande, a muito tempo, o
que tornou essa comunicação, de certa forma, pouco produtiva nos últimos meses.
Yellen deveria dizer que
estamos próximos de uma nova alta de juros, que a economia está em linha com
suas expectativas em termos de crescimento e inflação, mas que todo o processo
de elevação dos Fed Funds será extremamente gradual.
Brasil – Nos últimos dias vimos um
descolamento dos ativos locais em relação aos seus pares externos, para o lado
positivo. Como tenho afirmado, acredito que um misto de melhora na posição
técnica, e sinais políticos mais positivos no tocante ao ajuste fiscal, foram
vetores determinantes para essa melhora de dinâmica.
Hoje, observamos um
forte recuo das coletas de inflação, adicionando um vetor a mais nesta equação
positiva para o país. Apesar de ser apenas uma observação, caso a trajetória
declinante da coleta seja reforçada nos próximos dias, será um sinal claro de
que poderemos estar entrando em um ciclo mais virtuoso para a inflação, abrindo
caminho para o BCB dar início ao tão esperado ciclo de queda da taxa Selic.
Na minha visão, há
espaço para os ativos locais continuarem a apresentar desempenho relativo (e
absoluto) positivos. O cenário externo no curto-prazo, contudo, ainda se mostra
um risco. Caso o BoJ e o Fed não consigam convencer o mercado de que suas
políticas monetárias continuarão extremamente expansionistas, a despeito de
ajustes pontuais, será inevitável que a abertura de taxas de juros nesses
países acabe gerando contágio negativo para o resto do mundo. Todavia, caso
esses riscos sejam dissipados, há espaço para uma nova reprecificação dos
ativos brasileiros.
No tocante as taxas
locais de juros, acho válido fazer algumas observações:
- A curva hoje embute
uma queda de juros em torno de 250-300bps, iniciando com um corte de 15bps em
outubro (ou uma probabilidade de cerca de 35% de queda de 25bps) e continuando
a um ritmo em torno de 50bps nas reuniões subsequentes.
- A curva apresentou
forte steepening nas últimas semanas,
fruto do aumento da probabilidade de uma queda de juros já no Copom de outubro
mas, principalmente, devido ao movimento global pós ECB.
- As opções digitais de
queda de 50bps em outubro estão operando em torno de 15% e de queda de 25bps
está operando em torno de 40%.
Acredito que elevou-se
a chance de um corte de juros em outubro, mas o cenário base ainda é o último
Copom do ano. Acho que algumas opções apresentam um bom risco/retorno para a
queda de juros em outubro, mesmo não sendo meu cenário central. Na minha visão,
uma vez iniciado o processo de queda da Selic, o ciclo poderá ser muito maior
do que o precificado atualmente, por isso ainda gosto do jan19. Finalmente,
caso o BoJ e o Fed não apresentem surpresas negativas, a curva poderá “fletar”,
ajudada pelo técnico e pelo cenário externo.
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