Keep Calm, and Carry On!

Nesta terça-feira tivemos vetores locais e externos caminhando na direção do cenário que temos alertado neste fórum já há algumas semanas.

Nos EUA, o ISM Non-Manufacturing caiu de 55,5 para 51,4 em agosto, muito abaixo das expectativas de 55,0. O qualitativo do indicador foi tão ruim quanto o headline, com quedas nos principais sub itens. Tendo em vista a queda do ISM Manufacturing, que ficou abaixo de 50 pontos no mesmo mês, cresce o cenário de que a economia possa estar passando por uma nova rodada de desaceleração, mesmo que seja apenas um “soft-patch”.

Nesta mesma direção, o Labor Market Conditions Index – índice desenvolvido pelo Fed para compilar os principais indicadores do mercado de trabalho – apresentou queda de 0,7pts em agosto, após pequena alta de 1,3 no mês anterior.

Diante dos recentes indicadores de atividade econômica, mercado de trabalho e inflação, não parece haver a necessidade de um ajuste de juros tão cedo por parte do Fed, o que foi devidamente precificado pelo mercado. A probabilidade de alta de juros de 25bps no FOMC de setembro caiu de 35% para 25%, com a probabilidade de alta este ano caindo de 60% para 50%.

Neste ambiente, prevaleceu um cenário de busca por ativos com carry/yields. Acredito que esta dinâmica dos ativos de risco permanecerá, enquanto prevalecer um cenário de crescimento global baixo, sem riscos aparentes de recessão, com flutuações em torno desta tendência.

Vale a pena destacar que, pela primeira vez em muitos anos, vemos um cenário de enfraquecimento de algumas economias desenvolvidas, ao mesmo tempo em que alguns países emergentes começam a dar sinais mais positivos. Este ambiente costuma permear um cenário bastante positivo para ativos emergentes.

No tocante aos riscos, existe a possibilidade do Fed optar por dar seguimento ao processo de alta de juros. Acredito, contudo, que postura como essa causará apenas ruídos e volatilidade pontual. A ausência de pressões inflacionárias aparentes deveria evitar uma inversão deste cenário mais construtivo. O outro risco fica por conta de um cenário de desaceleração mais acentuada de alguma economia mais relevante para o mundo, como a China ou o próprio EUA. Olhando de hoje, essa probabilidade parece reduzida, mas não pode ser totalmente descartada.

No Brasil, a Ata do Copom reafirmou o que o comunicado após a reunião já havia esclarecido. O Comitê será dependente dos dados. Caso uma combinação de inflação corrente mais baixa, expectativas recuando e avanço do ajuste fiscal seja atingidos, haverá espaço para a flexibilização da política monetária. Como frisado pela Ata: Não há fator que seja determinante por si só para as decisões de política monetária. Em outras palavras, nenhum dos fatores constitui condição necessária ou suficiente para uma flexibilização das condições monetárias.

A queda da taxa Selic em outubro parece em aberta. Dependerá dos dados de hoje até a reunião. De qualquer maneira, parece que o cenário para juros mais baixos no Brasil já está plantado, pendendo ser colhido.

Reforço minha visão de que diante do cenário que vislumbro para os próximos meses, de queda da inflação corrente, aprovação do ajuste fiscal, consequente queda das expectativas de inflação, e possível início do ciclo de queda da taxa Selic, parece haver espaço para o mercado precificar um ciclo de queda maior do que o atual.


No campo político, o governo está fazendo um “corpo-a-corpo” junto ao congresso para a aprovação da PEC do Teto dos Gastos. Vejo essa postura como bastante positiva. Obviamente, vamos depender da boa vontade do congresso para a aprovação dessas medidas, mas nunca tivemos um cenário tão favorável para avançar nestes temas estruturalmente importantes para o país.

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