Ativos de risco se recuperam, mas riscos ainda existem.

Os ativos de risco apresentaram rápida e acentuada recuperação na tarde de ontem e estão mantendo um viés positivo essa manhã. O dia terá como destaque o ADP Employment e o Jobless Claims na agenda dos EUA, os últimos e talvez os mais importantes indicadores antecedentes para os dados oficiais de emprego a serem divulgados nesta sexta-feira nos EUA. Números fracos poderão ser lidos como um sinal de aumento da probabilidade de uma desaceleração mais forte da economia. Números muito forte poderão trazer a tona o debate em torno da política monetária americana. Assim, parra um desempenho positivo dos mercados financeiros globais, o ideal são números em torno das expectativas, ou seja, um ADP entre 125 mil e 200mil postos de trabalho criados no mês.

No Brasil, o governo interino sofreu ontem sua primeira derrota na Câmara. Em uma votação apertada, por apenas 4 votos, o governo não conseguiu aprovar o caráter de urgência para a negociação da dívida dos estados. Vitórias e derrotas fazem parte do jogo político, mas a “lua de mel” do governo parece ter acabado muito rápido. Nas últimas semanas, já havíamos mencionado a perda de momento na aprovação e apresentação de propostas de reformas econômicas. A divulgação do déficit fiscal primário em torno de R$150b para 2017, o provável anuncio de aumento de impostos e, agora, essa derrota, devem manter os ativos locais na defensiva no curto-prazo. Eu não alterei minha visão construtiva em torno das reformas econômicas para o país no médio e longo-prazo, mas vejo a ausência de momento no curto-prazo para o bom desempenho dos ativos locais.

Nos EUA, ISM Non-Manufacturing divulgado ontem ficou acima das expectativas do mercado e as Minutas do FOMC mostraram um Comitê bastante cauteloso . Acho bastante difícil que o Fed tenha uma nova janela para voltar a subir os juros no curto-prazo. Apenas uma mudança radical do cenário de inflação me parece capaz de alterar um cenário em que a taxa de juros se mantenha baixa por um período prolongado de tempo. O ISM Non-Manufacturing mostrou uma economia saudável as vésperas do Brexit. Agora, o número ficou de certa forma “dated” e o cenário precisará ser reavaliado nas próximas semanas.

Na Austrália, a agência de rating S&P rebaixou o outlook da nota de crédito do país de neutra par negativa, mas manteve a classificação de “AAA”. A medida era de certa forma esperada.

Na Alemanha, produção industrial de maio caiu 1,3% MoM, muito abaixo das expectativas de alta de 0,1% MoM. O número mostra uma economia que perdia momento mesmo antes do Brexit. O cenário para o país era de crescimento baixo (em torno de 2%), mas sem risco elevado de recessão, com flutuações em torno da tendência. O Brexit elevou as chances de um cenário mais adverso.

Na China, as reservas internacionais ficaram acima das expectativas, mostrando um alívio nos “outflows” do país, o que afasta, no curto-prazo, o risco de uma depreciação mais acentuada da moeda. O cenário é fluido mas ainda merece atenção.

A despeito do bom desempenho dos ativos de risco nas últimas horas, não vejo nenhuma evolução nos temas que tem sido levantados neste fórum.

Na Itália, o país ainda negocia um acordo junto a União Europeia para recapitaliza os seus bancos. As negociações parecem emperradas. Segundo a Bloomberg: Talks between Italy and the European Commission to recapitalize Banca Monte dei Paschi di Siena SpA and other banks are stuck on whether creditors should face losses if taxpayer funds are used, according to people familiar with the discussions. Italy favors a precautionary recapitalization under the European Union’s bank-resolution rules, which allow governments to bolster lenders when capital gaps emerge in stress tests, said the people, who asked not be identified because the talks are private.
Após um estudo um pouco mais profundo sobre o problema nos bancos da Itália, eu cheguei a seguinte conclusão. O mercado e os governantes conhecem o problema e o seu tamanho. Existe uma compreensão sóbria em torno da solução que precisa ser implementada. Também existe uma disposição política, por parte dos governantes italianos, em resolver definitivamente o problema. Contudo, existe um problema legal, e uma barreira política, dentro da União Europeia, para que uma solução definitiva seja colocada em prática.

Na Inglaterra, novos fundo imobiliários (UK Property Funds e o CRE Market) anunciaram fechamento temporário para resgates. Em uma medida nova, um fundo da gigante Aberdeen anunciou que irá remarcar seu fundo imobiliário a preços 17% inferiores ao anteriormente imaginado.

Os fundos em questão são detentores de propriedades comerciais, em sua maioria. O resgate acelerado de cotas desses fundos tende a gerar a necessidade de venda de parte desses imóveis, criando um “mismatch” de curto-prazo. As vendas deveriam pressionar os preços dos imóveis, especialmente em áreas onde já existiam sinais de “bolha”, como Londres. É natural supor que o Brexit gere um menor crescimento do país, pressionando também os preços dos imóveis residenciais. Este cenário poderia acarretar em aumento da inadimplência em dívidas imobiliárias, afetando a rentabilidade de um setor bancário que já apresenta enormes desafios.

Repito, por hora, essa dinâmica é uma dinâmica normal em um processo de menor crescimento e de crise econômica. A crise econômica se tornaria uma crise financeira caso a situação dos bancos se mostre menos saudável do que o imaginado anteriormente. Não há sinais de que existe hoje, na Inglaterra, a mesma alavancagem, e os mesmos derivativos, que existiam nos EUA em 2008. A situação é fluida, mas merece atenção. Abaixo, algumas estimativas da exposição dos bancos europeus ao mercado de CRE na Inglaterra:

Here is the verdict, first from SocGen:
o    RBS exposure to CRE is GBP26b, most of U.K.’s major banks, and equivalent to 63% of tangible equity
o    Lloyds 2nd most exposed at 46% of tangible equity, Santander 3rd at 24%, Barclays 4th at 23% and HSBC 5th at 17%
o    U.K. banks debt financing of CRE is down 34% since 2008 to GBP168b, according to De Montfort University
o    Says watch out for other banks, challenger banks have relatively high proportion of more highly leveraged CREs on books
o    Lloyds is most preferred, will be able to absorb Brexit bumps; RBS is least preferred

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