Dados de emprego nos EUA e contas públicas no Brasil.
Os ativos de risco estão operando próximos a estabilidade, a
espera dos dados oficiais de emprego nos EUA, agendados para hoje pela manhã.
Na minha visão, os investidores estão em uma agenda que transpõe os dados de
crescimento de curto-prazo, muitos deles anteriores ao Brexit, e com pouco
poder preditivo em relação a real situação da economia mundial atual.
Assim, vejo uma assimetria nos dados que serão divulgados em
breve. Números muito fortes podem ser descontados como “pre Brexit”, e de pouco
valor para o cenário atual. Números muito fracos reforçarão a tese de uma
economia que já dava sinais de arrefecimento antes do Brexit, um cenário que
poderá ser lido de forma muito negativa pelos investidores.
Uma boa combinação para os ativos de risco seria uma criação
de postos de trabalho saudável, em torno de 150 mil e 200 mil vagas, sem
pressões de salários aparentes. Neste caso, os ativos de risco poderiam ter um
alívio de curto-prazo, já que mostra uma economia americana robusta, as
vésperas do Brexit, sem a necessidade de o Fed mudar sua postura. A combinação
de uma criação modesta de vagas de trabalho, algo abaixo de 100 mil vagas, com
sinais mais claros de pressões inflacionárias de salários, seria a pior
combinação possível para os ativos de risco, já que mostraria uma economia
próxima ao pleno emprego, com produtividade baixa, pouco crescimento e inflação
latente. Este ambiente poderia levar a necessidade do Fed mudar sua postura (ou
levar o mercado a acreditar que o Fed poderia ser mais hawkish) mesmo em um ambiente de crescimento baixo. Seria uma combinação
terrível para os ativos de risco.
Os demais riscos externos que temos alertado neste fórum
continuam rondando o mercado, sem uma solução concreta. Os bancos na Itália
estão no limpo, em busca de uma solução de longo-prazo. O problema de
capitalização bancária, agora, começa a atingir bancos de menor porto em outros
países de Europa, como na Alemanha, como alertei em alguns comentários ao longo
do dia de ontem. O Brexit ainda apresenta efeitos colaterais, com o problema de
liquidez dos fundos imobiliários na Inglaterra no radar do mercado. Finalmente,
a moeda da China está mantendo sua tendência de depreciação, mesmo após um mês de
aumento das reservas internacionais do país.
No Brasil, o governo anunciou uma meta de déficit fiscal
primário de R$140b para 2017. O número é grande, mas inferior aos R150-170b que
chegou a se ventilar na mídia ao longo da semana. O numero não conta com
aumento de impostos e nem o fim das desonerações, o que pode ser visto como
positivo. Por outro lado, a estimativa de mais de R$50b de receitas com vendas
de ativos pode ser vista como “esticada”. De maneira geral, vejo o número como “atingível”
e realista. Na minha visão, após a
aprovação definitiva do Impeachment, Temer poderá dar inicio a um “novo governo”,
adotando uma postura ainda mais austera e, talvez, mais impopular, com a
proposta de medidas um pouco mais duras.
Ontem, no meio da tarde, a comissão aprovou as mudanças na
Lei do Pre Sal, em mais um importante passo micro econômico da agenda do
governo. A medida é positiva para a Petrobras, para os investimentos no país,
para o crescimento e mostra que, a despeito de ruídos pontuais, a agenda econômica
continua em andamento no país, algo que não ocorria no governo anterior.
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