Digerindo o comunicado do FOMC e a espera do BoJ.

Os ativos de risco ainda estão digerindo o comunicado do FOMC nos EUA divulgado ontem. Hoje pela manhã, chama a atenção um movimento de queda do dólar, especialmente contra G10, liderado pelo JPY, ao contrário do que eu esperava. O dólar opera próximo a estabilidade contra EM. Após ameaçar uma recuperação durante a noite, o petróleo voltou a operar em queda neste momento, o que requer atenção especial. As bolsas na Europa e nos EUA apresentam leve alta, após mais uma sequencia de resultados corporativos acima das expectativas do mercado. Os juros no mundo desenvolvido voltaram apresentar fechamento de taxas, com o Fed sendo percebido como não apresentando pressa em retomar o seu processo de normalização monetária.

Vejo um quadro técnico pior do que há algumas semanas atrás, mas ainda longe de totalmente "esticado" ou contaminado. O mesmo vale para o nível de preços e valuation de algumas classes de ativos. O cenário, assim, enseja uma continuidade da busca porcarry/yield que virou regra nas últimas semanas. No curto-prazo, exceto por eventos inesperados, o BoJ será o grande evento para os mercados financeiros globais, podendo ser um trigger para uma nova pernada de busca por ativos de risco, ou um motivo para uma realização adicional de lucros ou acomodação dos mercados. Acredito que as expectativas em torno do BoJ já estejam extremamente elevadas e o Banco terá um enorme desafio em atender a demanda do mercado. Contudo, não podemos desprezar a capacidade dos policy makers em se reinventarem na adversidade.

Na agenda do dia, o destaque ficará por conta dos Jobless Claims nos EUA. Os indicadores de confiança da Europa divulgados agora a pouco surpreenderam positivamente as expectativas do mercado, reforçando um cenário em que o Brexit, por ora, não parece estar impactando de forma relevante o cenário econômico da região.

No Brasil, destaque apenas para uma matéria de Ribamar Oliveira no Valor, em que o jornalista afirma que os modelos do Ministério da Fazenda estão apontando para um cenário ainda frágil de recuperação da receita da União para os próximos meses, até mesmo em 2017. Os números ascendem um alerta na equipe (vide abaixo). Acredito que o artigo apenas reafirma que, em algum momento após o impeachment, será necessário o anuncio de novas medidas de ajuste fiscal, em especial no âmbito da receita (leia-se, aumento de impostos).

Os modelos econométricos que o Ministério da Fazenda utiliza para estimar a receita da União estão deixando a área econômica preocupada. Eles estão projetando uma nova queda da receita em 2017, na comparação com este ano, informa uma fonte credenciada do governo. O resultado desfavorável aparece mesmo quando se introduz nos modelos uma variável positiva, que é a retomada do crescimento da economia no próximo ano. O governo trabalha com um aumento real de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Há uma discussão bastante intensa dentro do governo sobre essa questão. "Estamos em um processo de perda de arrecadação que não é explicada apenas pelas desonerações", avalia uma autoridade. "Temos um problema estrutural na receita", arrisca a mesma fonte. Até agora, a principal explicação para a derrocada da receita federal nos últimos anos era a excessiva desoneração tributária promovida pela presidente afastada Dilma Rousseff em seu primeiro mandato. Os técnicos estão achando que há algo mais além disso. Uma fonte informa que de 1997 a 2011, a receita cresceu, em média, 7% ao ano em termos reais. No mesmo período, o PIB cresceu, em média, 2,5% ao ano. A capacidade arrecadatória federal era, portanto, significativa. Mesmo com um crescimento anual relativamente modesto, a receita crescia de forma continuada e expressiva. Essa realidade começou a mudar a partir de 2012. Já em 2014, a arrecadação dos tributos federais administrados pela Receita Federal (incluindo a contribuição à Previdência Social) apresentou a primeira queda em termos reais desde 2009 ­ ano em que a economia brasileira sofreu de forma mais intensa os efeitos da crise financeira internacional. Nova redução ocorreu em 2015 e, é muito provável, que ocorra novamente neste ano. De janeiro a maio, a arrecadação caiu mais de 6%, em termos reais, na comparação com igual período do ano passado. Alguns técnicos acreditam que os modelos estejam "contaminados" por dados registrados nos últimos anos e que, por isso, podem não mais refletir a tendência atual da tributação. Outros argumentam que houve uma mudança na estrutura da receita, com a indústria perdendo participação na arrecadação. É mais fácil tributar a indústria do que o setor de serviços, por exemplo. Além disso, a legislação do PIS/Cofins é considerada um "pandemônio" pela área técnica e uma verdadeira "fábrica de crédito", que reduz a arrecadação.

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