Brexit, Bancos na Itália e Ajuste Econômico no Brasil.
Os ativos de risco estão mantendo o tom negativo verificado
ao longo da quarta-feira. Não há esta manhã, nenhum desenvolvimento diferente nas
frentes que tem impactado negativamente os mercados financeiros globais. O
problema no sistema bancário da Itália segue sem uma solução definitiva, a
moeda da China continua em uma clara tendência de depreciação, e os fundos
imobiliários na Inglaterra estão sobre pressão. Não podemos descartar o
surgimento de efeitos colaterais adicionais do Brexit nos mercados financeiros
globais no curto-prazo.
A situação é delicada, porém fluída. A aparente ausência de
um pânico mais generalizado nos mercados financeiros globais pode acabar dando
uma falsa impressão de estabilidade aos policy
makers, evitando que medidas mais duras e concretas sejam tomadas no
curto-prazo. Reforço minha visão de que existem instrumentos e disposição
política para que todo o esforço seja utilizado a fim de evitar uma crise econômica
global mais aguda. Contudo, tenho a preocupação de que as medidas corretas só
tendem a ser utilizadas quando todas as outras são testadas anteriormente.
Assim, não podemos descartar novas rodadas de pressão nos ativos de risco. A
história recente mostra que os policy
makers tendem a ser reativos, e não proativos, nestes períodos mais
turbulentos.
Não podemos esquecer, ainda, o contexto em que entramos nesta
“crise”. A economia global mostra um crescimento positivo, porém baixo. As
taxas de juros no mundo desenvolvido encontram-se baixas. Em alguns casos as
taxas já são negativas, e em outros casos, já estão em seu limite inferior.
Novas rodadas de QE são possíveis, mas o efeito positivo me parece cada vez
menor, com custos cada vez maiores. Enfim, o cenário ainda é de baixo crescimento
global, com flutuações em torno desta tendência. Os investidores estavam
dispostos a adicionar risco em suas carteiras, em busca de yield, enquanto este cenário fosse verdade. O aumento da
probabilidade de que algum choque inesperado venha a levar a economia global a
uma trajetória mais negativa (Brexit?, Bancos na Itália? Crise na China? E etc)
faz com que os investidores reavaliem seus portfólios.
No Brasil, o mercado está as voltas com o que será anunciado
de déficit fiscal primário para 2017. As primeiras indicações não são
animadores. A mídia está ventilando que o déficit poderá ficar muito próximo
dos R$170bi anunciados para este ano. O aumento de tributos poderá ser
necessário e já se fala na inclusão da CIDE.
A verdade é que, nas ultimas 2 semanas, o governo Temer
perdeu um pouco de momento no tocante ao ajuste econômico. Eu não alterei meu
viés positivo em relação a melhora estrutural do país, mas estamos passando por
uma fese cíclica, de curtíssimo-prazo, em que o news flow parece ter se tornado um pouco mais negativo. Talvez seja
necessário que o impeachment seja definitivamente aprovado para que Temer possa
adotar uma postura mais dura e austera, menos preocupado com as manobras
políticas, e com a sua popularidade, e mais voltado a um ajuste econômico agudo.
Eu ainda acredito neste cenário estrutural positivo de longo-prazo, mas
confesso que tenho receio do cenário de curto-prazo, especialmente com a
posição técnica dos mercados locais menos construtiva e um cenário externo mais
incerto.
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