BoJ Underdelivered!

O BoJ no Japão anunciou apenas medidas cosméticas de estímulo monetário, surpreendendo negativamente as elevadas expectativas do mercado. O Banco anunciou um aumento das compras de ETF de Y$3,3T para Y$6T por ano. Além disso, adotou um “foward guidance” mais específico e agressivo, sinalizando a disposição e a intenção de implementar uma nova e completa revisão de sua política monetária na próxima reunião, em setembro. Além disso, afirmou que as políticas monetárias e fiscais devem trabalhar lado a lado. O mercado reagiu de forma clássica, com uma forte apreciação do JPY, e leve movimento de aversão a risco no mundo.

Na minha visão, as medidas anunciadas são extremamente pontuais. O BoJ está jogando o peso do ajuste sobre a política fiscal, que agora também corre o risco de decepcionar as expectativas do mercado.

Espero a continuidade de um cenário de realização de lucros e/ou acomodação dos ativos de risco no curto-prazo, na prerrogativa de que os estímulos monetários esperados pelo mercado demorarão a ocorrer (se ocorrerem).

Desde a vitória do Brexit na Inglaterra, vimos uma rápida e acentuada recuperação dos ativos de risco, baseados em sinais um pouco mais positivos para o crescimento global mas, principalmente, na expectativa de uma atuação mais firme a agressiva das políticas fiscal e monetária ao redor do mundo. Nas últimas semanas, as reuniões do BoE, ECB, Fed e, agora, BoJ, mostraram que os bancos centrais dos países desenvolvidos estão optando por manter uma postura mais passiva, esperando por mais tempo sinais mais claros no tocante a saúde da economia global. Assim, podemos esperar movimentos mais reativos do que proativos por parte dos bancos centrais.

No tocante a política fiscal, na minha visão, o grande problema em relação a este quadro, é que a política monetária é mais facilmente ajustada, com medidas proativas, flexíveis e ágeis. A adoção de QE, queda de juros, taxas de juros negativas e afins são implementadas em decisões rápidas por parte dos bancos centrais. A política fiscal, por sua vez, necessita de um consenso político, muitas vezes inexistente. Além disso, por outras vezes, as medidas tomadas são inadequadas ou insuficientes. Finalmente, medidas concretas e adequadas costumam ser reativas, e não proativas. Assim, os governantes costumam atuar apenas após um período de “crise”, ou pressão por parte dos mercados e/ou da sociedade. Devemos viver uma expectativa crescente de uma atuação mais agressiva da política fiscal, mas as medidas devem ser pontuais e localizadas. A política monetária deverá perder potencia com o tempo, mas o G20 em nada altera o cenário de curto-prazo.

Os PIBs do 2Q de França e Espanha, divulgados agora a pouco, ficaram abaixo das expectativas do mercado, mostrando um quadro ainda de fragilidade do crescimento da Europa, mesmo diante de indicadores de confiança mais robustos verificados nas últimas semanas.

O dia será de agenda relevante, com destaque para o PIB, ECI e Core PCE nos EUA.

No Brasil, os jornais estão trazendo mais ruídos em torno do ajuste econômico em curso. Este tipo de ruído pode manter os ativos locais em leve trajetória de realização de lucros. Reforço minha visão de que, neste momento, precisamos diferenciar entre o cenário de curto-prazo, e o cenário estrutural para o país. Em termos estruturais, acredito em um cenário ainda bastante positivo para o país. No curto-prazo, acredito que a posição técnica, o nível de preços, o cenário externo e a falta de “momento” podem favorecer um período de acomodação de preços. A equipe formada por Michel Temer é competente. Conhece os instrumentos e as medidas que precisam ser implementadas, mas estão pecando no curto-prazo em questões pontuais. Acredito que, passado o impeachment, as medidas necessárias serão colocadas em prática. Caso isso não ocorra, o cenário positivo deverá ser reavaliado.

Segundo Ilmar Franco, do O Globo: A lei do teto de gastos públicos está sangrando. O governo federal abriu a guarda para aprová-la e está negociando concessões para atender os governadores. Estes querem excluir da conta os gastos não só com terceirizados, mas também os repasses para despesas e folha de pessoal dos tribunais de Justiça, do Ministério Público, das polícias militares e das defensorias estaduais. Essas mudanças na lei foram tratadas ontem pelo presidente interino, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O sonho do teto está virando um pesadelo. Temer está cedendo. Quer evitar que a oposição receba o reforço de bancadas aliadas, mas que estão insatisfeitas.

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