Trump & Juros Locais.
A semana começou com poucas novidades no cenário econômico, mas
com alguns movimentos de mercado que indicam uma narrativa parecida com aquela
que sinalizamos na sexta-feira passada, ou seja:
Net/net, não podemos
descartar uma realização de lucros no curto-prazo. O mercado parece
tecnicamente esticado, a posição técnica piorou e os eventos recentes não estão
corroborando com as expectativas do mercado. Contudo, ainda não vejo esses
vetores como suficientes para alterar o cenário central. Por isso, neste
momento, vejo apenas espaço para correções pontuais. Os próximos eventos
precisam ser analisados a luz dessas questões.
Podemos citar alguns vetores que estão ajudando o movimento de
realização de lucros/acomodação no curto-prazo: ausência de uma atuação por
parte do BoE e ECB; ajuste de posições para um Fed que poderá ser percebido
como mais hawkish do que o esperado
até poucos dias atrás; e ganho de fôlego da campanha de Donald Trump para
presidente dos EUA, com algumas pesquisas mostrando avanço do Republicano desde
a convenção da semana passada.
O dia foi de abertura de taxas de juros ao redor do mundo, queda
das bolsas e das commodities, e um movimento misto do dólar. O que chama mais a
atenção é o movimento de queda do petróleo, que neste momento está rompendo
níveis técnicos importantes, dando sinais de que estaria entrando em uma nova
tendência de baixa.
No Brasil, os ativos locais estão basicamente seguindo o humor
global a risco. O governo começa a dar sinais de que talvez necessite elevar
impostos, ao menos temporariamente, com intuito de ajustar as contas públicas
nacionais. Nos últimos dias, fomos surpreendidos por algumas medidas que podem
ser percebidas como sinais de fraqueza do governo diante de demandas de parte
da sociedade. Na minha visão, faz parte do processo político de ajuste este
tipo de postura. Tenho grandes expectativas que, passado o impeachment, Temer
possa adotar medidas mais duras e concretas para lidar com a elevação da dívida
pública nacional. Entendo, contudo, que não será um caminho sem obstáculos.
Alterarei minha visão caso este cenário se mostre equivocado nos próximos
meses.
A expectativa de inflação medidas pelo Relatório Focus mostrou
recuou das expectativas de IPCA para 2018, de 4,6% para 4,5%, em linha com a
meta de inflação. O recuo das expectativas é um sinal de que a postura do BCB
no tocante a política monetária está correta, e dever seguir neste rumo.
Amanhã será divulgada a Ata do Copom. A curva curta de juros
precifica cerca de 250bps de queda de taxas, iniciando o ciclo de queda da taxa
Selic próximo de outubro deste ano, e encerrando-se em torno de novembro de
2017. A mensagem do BCB tem sido de que não há espaço para queda de taxa de
juros no curto-prazo. Acredito que o BCB possa iniciar o ciclo mais tarde, afim
de ganhar credibilidade, e ancorar as expectativas de inflação. Após iniciado o
ciclo, contudo, deverá haver espaço para um ciclo superior a 250bps de queda da
taxa Selic. No curto-prazo, contudo, precisamos ter sinais concretos do recuo
da inflação corrente, e tomar cuidado com uma posição técnica um pouco
carregada pelos locais no mercado de juros.
Acredito que, neste momento, precisamos diferenciar entre o
cenário de curto-prazo, e o cenário estrutural para o país. Em termos
estruturais, acredito em um cenário ainda bastante positivo para o país. No
curto-prazo, acredito que a posição técnica, o nível de preços, o cenário
externo e a falta de “momento” podem favorecer um período de acomodação de
preços. A equipe formada por Michel Temer é competente. Conhece os instrumentos
e as medidas que precisam ser implementadas, mas estão pecando no curto-prazo
em questões pontuais. Acredito que, passado o impeachment, as medidas
necessárias serão colocadas em prática.
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