Turquia: Golpe militar frustrado e suas consequências.
No final
da tarde de sexta-feira os mercados financeiros globais foram pegos de surpresa
por uma tentativa de golpe militar na Turquia.
Neste momento, o golpe foi debelado, sendo classificado como mal sucedido. A consequência
foram dezenas de mortes de civis e militares. Desde então, o atual presidente
do país adotou uma postura extremamente dura e autoritária, prendendo militares
e tirando juízes de seus cargos.
Existe uma
infinidade de teorias para o golpe, desde um golpe orquestrado por um
dissidente e inimigo do atual governo, que vive atualmente nos EUA, até mesmo a
teoria de que o golpe teria sido forjado pelo próprio governo, para justificar
uma postura mais radical de agora em diante. Apenas o tempo dirá qual a real
história por trás desta trama. A
verdade é que a instabilidade política se instaurou no país. O maior risco,
neste momento, fica por conta da relação da Turquia com o mundo Ocidental, em
especial os EUA e seus aliados da OTAN.
Acredito que os eventos na Turquia
são graves, mas deveriam ser vistos como problemas pontuais e localizados.
Estes eventos devem ser capazes de trazer alguma pressão para os ativos turcos,
trazendo algum contágio pontual (leia-se volatilidade) para os demais ativos
emergentes. Contudo, a situação política do país me parece muito particular. Não
vejo países relevantes no mundo emergente que poderiam ter o potencial de
apresentar problemas da mesma origem que na Turquia. Assim, vejo um cenário de
maior volatilidade para a tendência recente de busca por carry/yield no mundo
emergente. Estes eventos, em separado, contudo, não deveriam alterar a tendência
de busca por ativos emergentes cujos fundamentos apresentam-se positivos, assim
como yields que justifiquem alocação
nesta classe de ativos.
No curto-prazo, meu receio continua por conta dos sinais de “reflation”
que vemos na China, mas, em especial, nos EUA. Com a curva de juros dos EUA
precificando um processo extremamente gradual de alta de juros nos próximos 2
anos, qualquer indicação por parte do Fed de que este processo pode ser mais
rápido do que o imaginado teria o potencial muito maior de alterar a dinâmica
de curto-prazo dos mercados financeiros globais. Como venho reforçando a cerca
de 2 semanas:
Vimos uma rápida e acentuada busca
por carry/yield nas últimas semanas, visando um cenário de baixo crescimento,
inflação inexistente e perspectiva de bancos centrais ainda extremamente
expansionistas por um período prolongado de tempo. Os últimos números alteram levemente
este ambiente, já que colocam uma alta de juros por parte do Fed ainda este ano
de volta ao radar, mas sem a necessidade (na ausência de pressões
inflacionárias maiores), de um movimento brusco de elevação de taxas de juros. É natural supor, contudo, que haja
algum tipo de realização de lucros e rotação de posições, diante do cenário
descrito acima. Reduz-se a chance de uma recessão, enquanto eleva-se a chance
de um novo movimento de alta de juros nos EUA. Podemos ver um movimento de
realização de lucros no curto-prazo, com alguma volatilidade (antes inexistente),
mas ainda vejo um cenário relativamente favorável para ativos emergentes,
especialmente aqueles que oferecem bons fundamentos econômicos, com um grande
“buffer” de yield. Devemos manter uma atenção especial na velocidade com que os
juros dos países desenvolvidos, liderados pelo EUA, irão abrir taxas, pois
estes poderão ditar a dinâmica dos demais ativos de risco. Acho prudente supor
em uma pressão altista no dólar (especialmente contra G10) e altistas para
taxas de juros nos países desenvolvidos, pelo menos no curto-prazo. Por um lado, a melhor perspectiva de
crescimento reduz os riscos de recessão, sendo positivo para ativos de
growth/value. Por outro lado, a abertura de taxa de juros pressiona o valuation
dessas classes de ativos (como as bolsas). Por hora, espero apenas realizações
pontuais de lucros nas posições consensuais do mercado, mas a velocidade da
abertura dos juros no mundo desenvolvido será determinante para que esta tese
não acabe migrando para um movimento mais brusco de realização de lucros de
posições mais voltadas para carry/yield.
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