4 de Julho.

No cenário externo, com o Brexit temporariamente superado, o foco se voltou para o sistema bancário na Itália. O Banca Monte Dei Paschi caiu 14%, atingindo novo mínima histórica, levando consigo os demais bancos do país, além de outros nomes em toda a Europa.

Me impressiona como a narrativa do problema nos bancos da Itália é muito parecida com todas as outras crises bancárias ou soberanas da história recentes (EUA em 2008, Irlanda, Grécia e etc). O problema de capitalização dos bancos existe, já foi devidamente apontado pelo mercado e pelos próprios policy makers, mas não há consenso em torno de uma solução, até mesmo pela rigidez das regras de bail-in em vigor na Europa atualmente. Por hora, a queda expressiva no valor das ações não gerou contágio para o resto do mundo, mas vale lembrar que em um primeiro momento, nem a crise nos EUA e nem na Grécia (ou Irlanda, ou Portugal e etc) geraram um contágio expressivo em um primeiro momento. A situação só reforça minha visão de que os governantes farão a coisa certa, mas só depois de tentar todas as outras. Talvez o mercado precisará pressionar os governantes, antes que uma solução definitiva seja anunciada.

O cenário de curto-prazo continua a ser de crescimento baixo, mas sem um risco evidente de recessão. O choque do Brexit, até o momento, se mostrou pequeno e de baixo impacto, o que trouxe conforto aos investidores para manter uma postura de busca por yields. O curto-prazo deve manter estas tendências, até que este cenário seja testado por algum choque adicional (Brexit? Bancos na Itália? China?). Os preços dos ativos de risco começam a mostrar valuations menos atrativos e a posição técnica vem se tornando menos positiva a medida que o tempo passa.

Não vejo nenhum motivo para pânico e o cenário base continua a ser pela busca por yields, mas precisamos manter uma atenção especial a choques adicionais, valuations e posição técnica.

No Brasil, em um dia de baixa liquidez, a atuação do BCB nos swaps cambiais reversos, acabou afetando a dinâmica do BRL no dia, que apresentou ampla under-performance em relação a seus pares. Acredito que a postura do BCB não será capaz de alterar a dinâmica (a tendência) da moeda, que deve seguir os fundamentos locais e o humor global em torno do dólar no mundo. Não vejo muito valor no USDBRL em torno de 3,20-3,25, mas entendo que estamos em um ambiente de busca por yield, e a moeda local apresenta características que atraem fluxos neste cenário, especialmente com um ajuste econômico em curso. Posições de valor relativo parecem mais prudentes neste momento.

No mercado de juros, o dia foi de leve fechamento de taxas, com pequeno movimento de flattening. Gosto de manter exposição as NTNBs longas e de estruturas de flattening da curva. Vejo a parte curta da curva nominal de juros com pouco prêmio para o cenário de inflação de curto-prazo, especialmente após as sinalizações recentes do BCB.


Destaque para o recuou das expectativas de inflação de longo-prazo na pesquisa Focus, que deveria ajudar a ancorar as taxas de juros mais longas no país.

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