Análise de cenário.

Me parece um momento oportuno para fazer uma breve revisão de cenário. O que aprendemos na última semana?

Brasil – O ajuste fiscal será lento e gradual, mas existe o desejo e a disposição de torna-lo realidade. A inflação continua desconfortavelmente elevada, mas sua trajetória de queda se mostra cada vez mais consolidada. Os indicadores de crescimento estão dando sinais incipientes de estabilização, com os indicadores de confiança apresentando recuperações rápidas e acentuadas, o que eleva as perspectiva de uma melhora na economia no futuro não muito distante. Conclusão: A despeito de ruídos pontuais no campo político e nas contas públicas, o governo interno continua no caminho correto de ajuste.

EUA – A economia do país estava em velocidade de cruzeiro antes do Brexit, com um crescimento flutuando em torno de 1,5%-2,0%. Os dados de emprego de maio se mostraram uma aberração, com dados de junho que confirmam uma média saudável de criação de vagas de trabalho ao longo dos últimos meses. Não há pressões inflacionárias na economia, pelo menos por hora. Após o Brexit, vimos um dólar relativamente estável, um forte fechamento de taxas de juros e novos recordes nos mercados de ações. É natural supor que as condições financeiras tenham apresentando um afrouxamento adicional. Conclusão: A próxima narrativa do mercado será a postura do Fed em meio a este ambiente. Será que darão mais atenção as condições internar ou ao cenário externo? Por hora, não vejo motivos para que o processo de alta de juros seja retomado no curto-prazo. Contudo, com o mercado precificando juros muito baixos por muito tempo, qualquer movimento nesta direção pode vir a causar volatilidade nos ativos de risco.

Europa – A região mostrava um crescimento relativamente estável, porém baixo, antes do Brexit. A Alemanha, em especial, já dava sinais de desaceleração. O problema nos bancos da Itália, que começa a reverberar para outros mercados na região, é um choque adicional à economia, já que provavelmente levará um menor crescimento do crédito na Europa, o principal canal multiplicador de crescimento, talvez mais importante do que o canal do mercado de ações e do mercado de bonds, como no caso dos EUA. A Inglaterra vive este mesmo problema, porém em escala muito maior. Conclusão: Existe disposição política e instrumentos para lidar com o problema dos bancos na Itália, mas os efeitos secundários na economia, de menor crescimento, me parecem inevitáveis.

China – O país vem mantendo uma tendência gradual, mas contínua de depreciação do câmbio. Por hora, o mercado se mostra confortável com este movimento. Os indicadores de crescimento se mostram mistos. Conclusão: Os próximos dias serão importantes para medirmos a real situação da economia, já que importantes números de crescimento serão divulgados. Até o momento, as visões mais alarmantes em relação ao país têm sido dissipadas pelos fatos.

Mercados – O cenário base continua a ser de baixo crescimento, com flutuações em torno da tendência. Os choques de curto-prazo (Brexit, Bancos na Inglaterra, Depreciação Cambial na China, e etc) estão se provando pontuais e localizados.

Enquanto este cenário for verdade, o mercado ficará confortável na busca por carry e poryields. Não me parece um cenário favorável para ativos de growth e value. Contudo, continuo um tanto quando receoso com a maneira que os investidores estão praticamente ignorando os riscos que surgem no cenário. Esta postura pode prevalecer por algum tempo, mas a cada dia que passa, cresce a assimetria de algumas classes de ativos, por questões de posição técnica e preço. Reforço que o cenário base deverá continuar até que (e se) um dos choques se mostrar mais contagioso, menos localizado e mais acentuado do que o imaginado.

Eu realmente tenho um viés menos confortável com cenário para carry/yield em um ambiente de baixo crescimento, sem o suporte que a China deu no passado, onde qualquer choque pode levar a economia mundial a um problema maior de crescimento ou de crise financeira. Contudo, tenho que ser honesto  que enquanto isso não se provar verdade, a busca por yields, em um mundo de juros zeros e negativos, irá continuar. Quando a próxima crise chegar, as consequências serão muito maiores. Até lá, “enjoy your yield!”.  

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