Artigo [Valor Econômico] - A gestão de patrimônio e a seleção de gestores de crédito
Para quem ainda não teve a oportunidade de ler, segue abaixo o artigo veiculado no Valor Econômico S/A desta semana, onde falo um pouco sobre o mercado de crédito privado, sua importância nos portfólios e o desafio de encontrar os melhores gestores nesta classe de ativo.
A gestão de
patrimônio e a seleção de gestores de crédito
Por Dan
Kawa
Os fundos de crédito privado
apresentaram crescimento exponencial nos últimos anos. A classe apresentou
captação expressiva e ganhou uma importância maior no portfólio dos clientes.
É interessante notar que esses fundos
tiveram anos bastante desafiadores, especialmente entre 2012 e 2015, com uma
"crise de crédito" no país e uma onda de "eventos de
crédito" que levaram a diversas marcações a mercados, reperfilamentos de
dívida, algumas fraudes e alguns "defaults" ou não pagamentos.
Vale ressaltar que o avanço da
Operação Lava-Jato ajudou este movimento, mas não foi o único vetor explicativo
para o problema. A situação econômica do país à época, no auge da crise
política e econômica, proporcionou um cenário de recessão e inflação elevada,
que costuma ser uma combinação mortal para o setor corporativo e para a
capacidade de geração de caixa das companhias e, consequentemente, de pagamento
para empresas mais alavancadas.
Neste período, vimos a abertura dos
spreads de crédito e um movimento de abertura de taxas de juros, o que costuma
afetar, na média, o desempenho dos fundos de crédito duplamente: pela piora no
"risco de crédito" (com os spreads abrindo) e pela piora no
"risco de mercado" (com as taxas de juros abrindo).
Com o evento do impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff, o mercado em níveis de preço mais atrativos e a
posição técnica mais saudável, os anos de 2016, 2017 e 2018 foram marcados pelo
movimento inverso. Foram anos de melhora no ambiente econômico e,
consequentemente, no fechamento dos spreads e das taxas de juros, o que acabou
favorecendo o desempenho desses fundos. Foi neste período que a classe voltou
ao radar dos investidores e passou a atrair recursos e atenção.
Em 2018, em especial com a taxa Selic
média abaixo de 7%, os fundos classificados como "high grade", ou de
baixo risco de crédito, passaram a encontrar um desafio adicional. Aqueles com
taxas de administração muito elevadas, em um pano de fundo de spreads mais
fechados e juros mais baixos, começaram a apresentar dificuldades em apresentar
retornos consistentes acima do CDI, apenas com o carrego de suas posições. Em
2018, ainda se favoreceram de mais uma rodada de fechamento de spreads e taxas
de juros. A partir de 2019, terão um desafio adicional para apresentarem
desempenho acima do CDI.
Olhando adiante, vemos um governo que
pretende reduzir a presença do Estado na economia, reduzir a participação do
BNDES e favorecer o mercado de capitais como fonte geradora de recursos para a
economia. Assim, acreditamos que o mercado de crédito privado continuará
ganhando espaço no mercado e no portfólio dos clientes.
Na atual conjuntura, é essencial
ampliar a análise de fundos "high yield", ou aqueles com maior risco
de crédito, capazes de gerar retornos consistentes bastante acima do CDI,
apenas com risco de crédito. Esta é uma classe de fundos relativamente nova no
país, mas de tamanho relevante em mercados desenvolvidos como os Estados
Unidos.
Ainda vemos espaço para o bom
desempenho de alguns fundos "high grade", mas entendemos que esta
será uma classe que precisará ser analisada mais no detalhe no curto prazo,
pois está perdendo atratividade, de maneira cíclica, ainda que não afete a
visão estrutural, de ser importante em qualquer portfólio de longo prazo. A
escolha de bons gestores será fundamental para as alocações bem-sucedidas nesta
classe, em um ambiente de juros baixos e spreads mais comprimidos.
Em relação à classe "high
yield", entendemos que os fundos ou os gestores dessa classe precisam ter
um histórico longo para comprovar a capacidade de gestão e geração de
"alpha" (geração de retorno) do gestor e sua equipe, sem apresentar
problemas recorrentes.
É natural que estes fundos apresentem
marcações a mercado e alguma volatilidade maior que os fundos "high
grade". Eventos de crédito nesta classe serão mais recorrentes e naturais.
É por isso que a escolha dos melhores gestores e um entendimento mais amplo
deste mercado e de seus fundamentos são ainda mais importantes.
O Brasil está passando por uma
transformação econômica e, consequentemente, no mundo dos investimentos. Taxas
de juros mais baixas, o estímulo ao mercado de capitais e a menor presença do
Estado na economia são vetores que podem determinar uma mudança estrutural para
o país.
Conforme o Brasil avance na agenda de
reformas econômicas e liberalização da economia, nós, gestores, precisamos
estar preparados para novos modelos de gestão, novas oportunidades de
investimentos e um pano de fundo diferente daquele que foi regra ao longo de
toda a história do país.
Dan Kawa é sócio e CIO (chief
investment officer) da TAG Investimentos
E-mail: dan.kawa@taginvest.com.br
Este artigo reflete as opiniões do
autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem
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