Daily News – Brasil: Ruídos políticos voltam ao radar.


Os ativos de risco estão operando com leve viés negativo, a despeito de uma recuperação dos índices de bolsa dos EUA ao longo da tarde de ontem. A noite foi de poucas novidades, mas a quarta-feira trouxe mais notícias negativas no âmbito local e global que merecem atenção.

No Brasil, a situação política voltou a apresentar um quadro mais negativo. O país foi assolado por protestos após o corte do orçamento para a Educação. Além disso, o governo continua mostrando imensa dificuldade em organizar e aglutinar uma base de apoio no Congresso. Para piorar a situação, a mídia voltou a apresentar aparentes vazamentos de informações envolvendo a investigação em torno do Senador e filho do Presidente, Flávio Bolsonaro (vide aqui: https://epoca.globo.com/guilherme-amado/mp-do-rio-de-janeiro-mira-cheques-de-queiroz-para-michelle-bolsonaro-23668794 e aqui https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/quebra-de-sigilo-de-flavio-atinge-ex-assessores-do-presidente-bolsonaro.shtml).

Da lado positivo, apenas Rodrigo Maia afirmando que a Reforma da Previdência será aprovada, com o governo ajudando ou atrapalhando (vide aqui: https://www.valor.com.br/politica/6258035/reforma-sai-mesmo-com-governo-atrapalhando).

No campo econômico, o IBC-Br – espécie de PIB mensal coletado pelo BCB – apresentou queda em março, confirmando o momento ruim do crescimento neste início de ano. O número justifica as revisões baixistas para o crescimento do PIB em 2019.

Vejo um curto-prazo de ruídos para os mercados locais e eventual pressão negativa adicional. Já vimos um certo ajuste de preços, com o Ibovespa saindo de 100 mil para perto de 91 mil pontos, com o dólar voltando ao patamar de 4.00.

Em um pano de fundo de maior desafio global, precisaremos de um endereçamento da situação política e da agenda de Reformas para que o mercado volte a apresentar uma melhora de humor. Estruturalmente, ainda gosto de portfólios balanceados no Brasil, com a participação de renda variável, por exemplo. Contudo, no ambiente que se coloca, será cada vez mais importante a escolha das ações corretas e, consequentemente, dos gestores capazes de escolher as empresas e os setores que navegarão este ambiente de maneira mais robusta.

Nos EUA, os números de ontem mostraram desaceleração da economia, com as vendas no varejo e a produção industrial surpreendendo negativamente as expectativas. Já há expectativas de uma desaceleração do PIB do segundo trimestre para um patamar abaixo de 2% de crescimento anualizado.

Estes números foram recebidos após novas indicações de desaceleração da China e da Europa. Ainda vejo o mundo em uma situação de desaceleração e fragilidade do crescimento. A Guerra Comercial irá apenas acelerar e acentuar este movimento.



Fonte: Goldman Sachs

Na noite de ontem Trump assinou um documento proibindo a utilização de equipamentos de telecom que sejam desenvolvidos por empresas chinesas. A medida é um claro movimento contra a empresa Huawei e deve aumentar a temperaura da Guerra Comercial.

Não vejo uma saída rápida e fácil para este relacionamento entre EUA e China. Acredito que Trump seja influenciado pela economia e pelos mercados. Assim, talvez a situação precise piorar antes de melhorar.

Contudo, me parece um ambiente natural de estágio avançado do ciclo econômico. Podemos ter mais alguns meses de “respiro”, mas eventualmente o ciclo chegará ao fim e não há muito o que ser feito neste momento. Me preocupa bastante a ausência ou o baixo poder de manobra de alguns bancos centrais, como é o caso da Europa. Na China, há instrumentos para lidar com uma eventual crise, mas com um endividamento elevado, estes instrumentos perdem poder ao longo do tempo.

Continuo recomendando portfólios mais defensivos e a utilização de hedges para um ambiente de fim de ciclo econômico.

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