Relatório Mensal de Asset Allocation:
Brasil - Cenário
sem grandes novidades. A inflação continua surpreendendo positivamente (para
baixo), o que tem permitido a manutenção do processo de queda da Taxa Selic. O
crescimento mostra sinais mais otimistas de recuperação. As contas externas
seguem saudáveis. O quadro fiscal de longo-prazo ainda preocupa, mas a
arrecadação federal de agosto mostrou sinais mais animadores, sugerindo que a
recuperação cíclica da economia poderá ajudar até mesmo no front fiscal.
A agenda micro avança de forma positiva e as notícias em
torno da Cessão Onerosa, como um possível acordo entre a Petrobras e a União, é
um exemplo importante do caminho que está sendo seguido por esta administração
(não entrando aqui nas questões políticas, que hoje parecem serem muito mais
ruído do que motivos de mudanças substanciais de cenário).
O Banco Central (BCB) parece disposto a reduzir o ritmo
de queda da taxa de juros, no atual estágio do ciclo. A despeito destes sinais,
a mensagem é de que os juros poderão se manter baixos por mais tempo, o que não
está totalmente precificado no mercado de juros. Acreditamos que haja espaço
para a extensão do ciclo de corte da Taxa Selic, mesmo que em ritmo mais
moderado. Contudo, para a curva de juros, os ganhos de capital devem se
concentrar, a partir de agora, nas perspectivas de juros baixos por mais tempo,
ou seja, favorecendo a parte intermediária da curva.
O Brasil parece estar no meio a um "Bull
Market" clássico. Isso não significa que movimentos de correção/realização
de lucros não irão ocorrer, mas que devem ser rápidos, pouco acentuados e
estimulados apenas por eventos pontuais e inesperados.
A dinâmica do Ibovespa é um exemplo claro deste processo.
O mercado está passando por uma realocação que parece mais estrutural do que
cíclica, e ainda parece longe do final, talvez ainda nem no meio deste
processo.
O cenário externo é um vetor que precisa ser acompanhado
de perto para avaliarmos a probabilidade de eventuais movimentos pontuais de
correção.
Gostamos das teses de investimentos positivas em relação
ao Brasil. Acreditamos que estamos em uma tendência, mas temos o receio de que
o mercado esteja taticamente esticado, especialmente vis-à-vis o que vemos do
cenário externo. Em linhas gerais, vemos espaço para alguma acomodação no
curto-prazo que, de fato, já está ocorrendo desde a última semana de setembro.
EUA - O cenário
continua a ser de crescimento moderado, acima do potencial. Os desastres
naturais que assolaram o país (e adjacências) devem afetar os dados de
curto-prazo, mas não a trajetória da economia. O mercado de trabalho segue
robusto. A inflação está baixa, mas deve manter trajetória ascendente.
O Comitê de Mercado Aberto (FOMC) trouxe poucas novidades
em relação às expectativas, mas acabou sendo mais hawkish do que o esperado,
dado o histórico passado (não recente) deste comitê. O Fed parece convicto na
manutenção do processo de normalização monetária, diante do cenário exposto
acima. Apenas mudanças substanciais serão capazes de tirá-los do "piloto
automático" de 3 altas de 25bps este ano nos juros, e na redução
previsível de seu balanço, anunciado oficialmente este mês, mas amplamente
esperado.
A grande novidade dos últimos dias, ao nosso ver, foi a
mudança de dinâmica no Congresso, e sua relação com o Governo Trump. Hoje temos
sinais mais positivos de cooperação, o que pode colocar a agenda legislativa
novamente na rota imaginada após as eleições de novembro passado. Neste
momento, pouco disso parece precificado, o que poderia dar sustentação às
taxas futuras de juros americanos e, consequentemente, ao dólar no mundo.
Temos defendido a tese de que o cenário de
"Goldilocks" que prevaleceu ao longo de todo o ano, até meados de
setembro, poderia estar se tornando um cenário de "Reflation". Este
roteiro parece estar sendo seguido à risca nas últimas duas semanas. O
"Reflation" não necessariamente será negativo para os ativos de
risco, mas pode se tornar pontualmente mais desafiador se a velocidade de
abertura de juros for muito acelerada. Este não é o cenário base, mas precisa
ser monitorado. Por hora, trabalhamos com uma "Reflation" que tenha
apenas o potencial de desestabilizar momentaneamente, e pontualmente, os ativos
de risco, e muito mais por questões de posicionamento técnico e preços/valuation.
Mundo ex-EUA – Os
sinais da economia global continuam positivos. Apenas para citar alguns
indicadores, vemos PMIs nas máximas deste ciclo econômico (e, em muitos casos,
nas máximas históricas); dados de exportações de economias abertas como a Coréia
do Sul e Taiwan ainda bastante robustos, apontando para uma corrente de
comércio global saudável; quedas recorrentes nas taxas de desemprego de
importantes economias mundiais, como os EUA e a Europa como um todo; robustez
da economia chinesa, mesmo em face a desafios estruturais e de curto-prazo,
etc.
Conclusão - Em
suma, vemos um cenário econômico muito parecido com aquele que prevaleceu ao
longo do ano, mas com algumas mudanças de dinâmica que, diante dos preços e da
posição técnica, podem gerar movimentos um pouco diferentes neste último
trimestre do ano.
No Brasil, trabalhamos com um pano de fundo de juros
baixos por mais tempo, sinais mais claros de recuperação do crescimento e uma
mudança clara de dinâmica por parte dos investidores, em busca de ativos
alternativos ao CDI.
Nos EUA, vemos a possibilidade de estarmos entrando em
uma tendência de abertura de taxas de juros. Este processo deve ser saudável,
mas pode causar períodos de aumentos pontuais da volatilidade.
Alocação/Estratégia:
Gostamos de estar “comprados em ativos brasileiros” em
geral, mas admitimos um receio de preços “esticados” taticamente. Como acertar
correções pontuais é sempre muito difícil, o ideal é manter uma posição
"core" e buscar assimetrias nos preços de cada classe de ativo, em
cada momento do tempo.
Fundo Icatu Vanguarda
Macro Fundo de Investimento Multimercado:
O Fundo manteve posição na parte curta da curva local de juros,
administrando tamanho e instrumentos. Continuamos com exposição nesta classe de
ativos. Ainda vemos espaço para o fechamento das taxas curtas de juros no país,
ajudadas por um cenário de inflação baixa, expectativas de inflação ancoradas,
crescimento fragilizado e demais variáveis estáveis.
Mantemos posição comprada em bolsa local na maior parte do mês.
Reduzimos a posição na metade final de setembro. Devemos continuar buscando
posições nesta direção.
Continuamos sem exposição estrutural relevante nos mercados
locais de câmbio. Mantivemos pequena posição vendida em Dólar Australiano.
Mantemos posição tomada nas curvas longas de juros de alguns
países de G10. Adicionamos pequenas posições compradas em volatilidade tanto no
mercado de juros dos EUA quanto no mercado de bolsa do país. Acreditamos que o
processo de normalização monetária nas principais economias do mundo irá
continuar, mesmo que de forma gradual. Acreditamos que pouco disso esteja
precificado nas curvas longas de juros. Além disso, vemos uma assimetria
razoável na compra de volatilidade em algumas classes de ativos do exterior.
Comentários
Postar um comentário