Reflation at (almost) full speed...
O dia foi de dinâmica interessante para os mercados locais.
Vamos primeiro aos fatos econômicos. Depois, tentaremos medir em que sentido a
dinâmica de hoje se enquadra no cenário que tenho descrito neste fórum (ou se há,
de fato, uma mudança de tendência e/ou cenário):
No campo econômico, nos EUA, vimos mais um recuo semanal do
Jobless Claims, que era amplamente esperado. O número apresentou alta ao longo
do mês de setembro, com o impacto negativo, mas pontual, das catástrofes
naturais que assolaram o país e suas regiões. O número mostra um mercado de
trabalho ainda robusto. O Trade Balance e as revisões do Durable Goods Orders
levaram os economistas a revisarem, marginalmente, suas expectativas de PIB
para o 3Q do ano.
Amanhã teremos a divulgação dos dados de emprego de setembro nos
EUA. Devido as catástrofes naturais, o mercado espera uma criação mais baixa de
postos de trabalho. Os rendimentos médios reais podem ficar firmes, devido a
questões sazonais. De qualquer maneira, qualquer resultado poderá ser
descontado pelo mercado, pois será de difícil leitura. O DB declarou que: The risks for market
participants are somewhat asymmetric in that a weak NFP print should be
rightfully discounted due to weather-related disruptions while a more robust
employment gain would add to policymakers’ confidence that the growth outlook
remains very much positive.
No Brasil, o dia foi de agenda relativamente esvaziada. Os dados
da ANFAVEA apresentaram um quadro de robustez na produção de veículos, o que se
encaixa no cenário de recuperação do crescimento. Ainda vemos ruídos emanarem
do Congresso, com uma forte queda de braço dentro do PSDB. Este ambiente tem
trazido ruído ao processo da denúncia contra o Presidente Temer na Casa. Por
ora, vejo os eventos recentes apenas como ruídos.
Observamos hoje mais uma rodada dos mercados precificando um
pano de fundo de “Reflation”. Desta vez, contudo, a alta nas taxas de juros dos
EUA, mesmo que marginais, trouxeram pressão negativa sobre algumas classes de
ativos. O dólar operou em alta no mundo, os ativos emergentes tiveram uma
quinta-feira negativa, mas vimos movimentos de alta nas commodities metálicas
não preciosas e no petróleo, a despeito da queda do ouro.
Os movimentos hoje foram clássicos de “Reflation”. Tenho
insistido que este panorama deve continuar, pelo menos até que este cenário
seja testado por números mais negativos de crescimento, ou por algum evento
exógeno. Quanto a pressão nos ativos emergentes, e no Brasil, em especial, vejo
como movimentos passageiros, pontuais e até esperados em qualquer processo mais
prolongado e estrutural de recuperação/apreciação.
Entendo que vimos uma alocação não desprezível para esta classe
de ativos nos últimos meses (EM/Brasil), os preços já são menos atrativos do
que no passado, e a alta dos juros nos EUA (e no G10 em geral), ajudados pela
redução do balanço do Fed, prejudicam esta classe de ativo no curto-prazo, mas
não vejo esses vetores como impedimentos decisivos para uma mudança clara de
tendência ou de cenário.
Espero movimentos de consolidação como o de hoje nos mercados
emergentes enquanto durar este processo de abertura de taxa de juros nos EUA. A
velocidade de abertura costuma ser, muitas vezes, mais importante do que sua
direção. Mas enquanto estamos no meio do processo, o mercado tende a optar por
uma postura mais conservadora. Apenas uma abertura mais rápida e acentuada dos
juros nos EUA, puxada por dados de inflação mais elevados, ou por uma mudança
clara de dinâmica mais estrutural (pacote fiscal elevado nos EUA com mercado no
pleno emprego, reforma tributária e etc) seriam capazes de alterar a tendência
e o cenário para os mercados emergentes em geral.
Em relação ao Brasil em especial, o técnico está claramente
prejudicando muito mais o mercado de juros do que o mercado de renda variável. O
BRL tem seguido o humor global em relação ao USD no mundo, mas tem apresentado performance
relativa melhor que seus pares nos últimos meses (até a janela de 3 meses). O
mercado continua concentrando suas apostas no mercado de juros o que, em
momento como o de agora, acaba afetando de maneira mais preponderante este
mercado. Entendo que o cenário de crescimento seja melhor, o mercado de
trabalho de recupera, as coletas de inflações estão marginalmente piores nos
últimos dias e o BCB está próximo ao fim do ciclo de queda da Taxa Selic.
Contudo, ainda vejo espaço, especialmente após a abertura recente de taxas,
para ganhos de capitais (mesmo que menos expressivos) na parte intermediária da
curva. Os argumentos continuam o mesmo: Inflação ainda baixa, expectativas
ancoradas, hiato do produto elevado e prêmios excessivos de altas de juros no
ano de 2018.
O que escrevi na carta mensal
ainda é amplamente válido: Temos
defendido a tese de que o cenário de "Goldilocks" que prevaleceu ao
longo de todo o ano, até meados de setembro, poderia estar se tornando um
cenário de "Reflation". Este roteiro parece estar sendo seguido à
risca nas últimas duas semanas. O "Reflation" não necessariamente
será negativo para os ativos de risco, mas pode se tornar pontualmente mais
desafiador se a velocidade de abertura de juros for muito acelerada. Este não é
o cenário base, mas precisa ser monitorado. Por hora, trabalhamos com uma
"Reflation" que tenha apenas o potencial de desestabilizar
momentaneamente, e pontualmente, os ativos de risco, e muito mais por questões
de posicionamento técnico e preços/valuation. Gostamos das teses de investimentos positivas em
relação ao Brasil. Acreditamos que estamos em uma tendência, mas temos o receio
de que o mercado esteja taticamente esticado, especialmente vis-à-vis o que
vemos do cenário externo. Em linhas gerais, vemos espaço para alguma acomodação
no curto-prazo que, de fato, já está ocorrendo desde a última semana de
setembro.
Comentários
Postar um comentário