Update

O dia trouxe poucas informações adicionais para o cenário econômico local e global, mas uma dinâmica um pouco diferente dos ativos de risco.

No Brasil, vimos um leve movimento de realização de lucros, com viés de steepening, na curva de juros. Observamos uma forte realização de lucros na bolsa, mas um bom desempenho do BRL. Acredito que parte desses movimentos sejam explicados pela posição técnica do mercado (aparentemente aplicada em juros, mas vendida em BRL, com algumas posições no mercado de opção com vencimento para o final do mês também podendo estar influenciando a dinâmica do câmbio), aliados ao fluxo de notícias mais desafiador do ponto de vista político (delações premiadas, novos flancos de investigação da Operação Lava-Jato, etc), e um movimento global de queda nas bolsas.

Até o momento, estou tratando o vazamento das delações premiadas, tanto da Odebrecht, como de outros personagens investigados na Operação Lava-Jato, apenas como ruídos políticos de curto-prazo. Eu entendo que o caso seja grave e merece atenção, mas os mercados financeiros locais não têm dado muita atenção a este tema. Acredito que este panorama poderá mudar caso as delações atinjam o coração do atual governo, afetando a capacidade de aprovar as reformas econômicas em curso.
As delações vindouras, especialmente da Odebrecht, contudo, por serem extremamente amplas, atingindo diversas figuras políticas nacionais, e uma série de partidos, pode acabar “banalizando” o efeito político dos eventuais ilícitos cometidos. Além disso, as investigações sobre políticos eleitos podem levar muito tempo, devido às restrições operacionais do STF, o que acaba por minimizar o impacto imediato dos eventos. 

No cenário externo, tivemos uma confluência de fatores que levaram a uma mudança de dinâmica dos ativos de risco, em especial, com um movimento de queda nas bolsas. Ruídos provenientes das negociações para o pagamento de mais uma parcela de ajuda financeira à Grécia, um cenário político desafiador na França e na Itália, além de decisões, no mínimo, questionáveis por parte de Trump, nos EUA, trouxeram uma pitada de incerteza ao cenário.

O que me chamou a atenção foi, pela primeira vez desde a eleição de Trump, uma perda de correlação entre o S&P, o USD e a Treasury. Mesmo em um dia de forte queda das bolsas, a Treasury permaneceu estável (não apresentou fechamento de taxas como em dias normais de risk-off). Além disso, o USD apresentou desempenho misto, ao contrário de mostrar fraqueza, como vinha sendo o caso em dias de enfraquecimento das bolsas dos EUA.

No domingo, escrevi que: Acredito que, em algum momento, e este momento pode estar próximo, os ativos de risco podem começar a olhar com maior desconfiança para as medidas de Trump. Na verdade, me impressiona como o mercado vem ignorando totalmente todas as sinalizações ruins que a nova administração vinha emitindo e/ou implementando. Trump está colocando em prática tudo aquilo que prometeu em sua campanha (construir um muro na fronteira do México, se retirar do TPP, renegociar o NAFTA, e etc). Intriga-me porque os investidores, até o momento, só estão vendo o lado potencialmente positivo de sua administração. Em algum momento, caso Trump mantenha sua postura, essa lua de mel do mercado pode acabar.


Acredito que precisamos tentar focar no cenário econômico, deixando os ruídos de Trump um pouco de lado. Ainda vejo um cenário em que a economia dos EUA se encontra muito próxima do pleno emprego, com o hiato do produto praticamente fechado, em um pano de fundo de crescimento estável em torno da tendência (2%). As políticas de Trump podem acelerar, ou não, este cenário, mas dificilmente irão reverte-lo. A agenda dessa semana será importante para confirmar, ou refutar, este cenário.

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