EUA: No more slack!

No final da tarde de ontem dois eventos foram extremamente importantes para confirmar o cenário com o qual eu venho trabalhando para a economia dos EUA e os mercados financeiros globais.

Primeiro, o Beige Book mostrou uma economia com o hiato do produto praticamente fechado. Começam a surgir dificuldades em encontrar não apenas trabalhadores de alta especialização, como também trabalhadores de especialidades menos específicas. Este cenário já está levando a uma alta nos salários e à pressões mais abrangente de inflação no país:

Employment and Wages
Labor markets were reported to be tight or tightening during the period. Employment growth ranged from slight to moderate and most Districts indicated that wages increased modestly. A couple of Districts mentioned layoffs, but even in those Districts, as in other regions, most responding firms were said to have added employment, on net. District reports cited widespread difficulties in finding workers for skilled positions; several also noted problems recruiting for less-skilled jobs. Wages in some Districts were pushed up a bit by increases in the states' minimum wages and most Districts said wage pressures had increased. Many Districts said contacts expect labor markets to continue to tighten in 2017, with wage pressures likely to rise and the pace of hiring to hold steady or increase.
Prices
Pricing pressures intensified somewhat since the last report. Eight out of twelve Districts saw modest price increases and the remainder experienced slight increases, or flat prices in the case of the Atlanta District. Increases in input costs were more widespread than increases in final goods prices. Cost increases were reported for coal, natural gas, and selected building and manufacturing materials. Retailers' selling prices were mixed, but on balance were flat or down amidst competitive discounting. Prices of most agricultural commodities stayed flat at very low levels. Home prices were stable or up modestly. Businesses in several districts reportedly expect further modest increases in input costs and selling prices in 2017.

Segundo, nesta mesma linha, Yellen proferiu um discurso, na minha visão, bastante hawkish, mostrando que a direção dos juros no país é para cima. Segundo ela, a economia americana já está atingindo os dois objetivos buscados pelo Fed (emprego e inflação) e isso deverá favorecer um processo de alta de juros no país. Por ora, ainda há a expectativa que este processo seja gradual. Contudo, no atual estágio do ciclo econômico, nada impede que a alta de juros tenha que ser acelerada.

Como o mercado precificava apenas 2 altas nos Fed Funds até o final deste ano, e cerca de 4 altas (todas de 25bps) até o final de 2018, é natural esperar uma reação mais abrupta dos ativos de risco após essas indicações.

No Brasil, o fluxo de notícias continua bastante esvaziada.

A agenda do dia terá IPCA-15 no Brasil, Jobless Claims nos EUA e decisão do ECB como destaques.

Os últimos eventos apenas reforçam minha visão central:

Os números recentes nos EUA em nada alteram o cenário de crescimento saudável, com flutuações em torno da tendência. O mercado de trabalho se mostra robusto, muito próximo do pleno emprego, o que tem dado sustentação a um movimento gradual de alta na inflação.

A política econômica apresentada por Trump apenas atua de forma a acelerar o processo de fechamento do hiato do produto nos EUA, em uma economia próxima ao pleno emprego, o que deverá gerar mais crescimento, porém com maior inflação, favorecendo um processo de elevação das taxas de juros.

Do ponto de vista político, as últimas sinalizações de Trump e de membros de sua equipe mostram que não houve nenhum recuo do novo governo em sua intenção de renegociar acordos comerciais e, caso necessário, colocar em prática medidas que podem ser vistas como protecionistas. Estas sinalizações ajudaram a dar sustentação aos “Trump Trades” ao longo desta quarta-feira, com destaque para o USDMXN e USDCAD (este último ajudado por declarações dovish do BoC).

Reforço que a visão de um dólar mais forte no mundo, e de juros estruturalmente mais elevados nos EUA, sempre foi mais baseada no fechamento do hiato do produto dos EUA, em um ambiente de crescimento saudável, mercado de trabalho sólido e inflação gradualmente mais elevada, do que na atuação de Trump propriamente dita. As declarações de Trump, e a política econômica apresentada na campanha eleitoral, foram apenas um indutor para que o movimento de fortalecimento do dólar e a abertura das taxas de juros fossem mais rápidas e acentuadas no final de 2016. Assim, me preocuparia mais com uma mudança de cenário econômico, do que com declarações pontuais de Trump a respeito de temas econômicos.



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