Relatório Semanal de Asset Allocation:
A
semana foi de agenda cheia no Brasil.
As
vendas no varejo de novembro vieram acima do esperado (+2%m/m dessazonalizado
vs. expectativa do Bloomberg: +0,3%m/m dessazonalizado), refletindo em boa
parte o fortalecimento da Black Friday no Brasil. Todavia, a tendência é
que haja alguma devolução no resultado de dezembro (pode ter ocorrido
antecipação de consumo do período de Natal), quando será possível fazer uma
análise mais precisa da atividade na margem (fazendo a média móvel de novembro
e dezembro). De qualquer maneira, os fundamentos para as vendas no varejo
permanecem ruins: (1) mercado de trabalho segue em deterioração; (2) a
confiança do consumidor voltou a piorar; (3) as condições de crédito seguem
apertadas. Por outro lado, há uma tendência de desaceleração no deflator
implícito do setor, a qual tende apenas a atenuar a fraqueza nas vendas no
varejo.
O
IPCA de dezembro apresentou alta de 0,30%m/m e 6,29% em 12 meses, cerca de 4bps
abaixo das expectativas. A inflação fechou o ano abaixo do teto da meta, de
6,50%. A inflação de serviços segue desacelerando, para 5,5% (após ajuste
sazonal) e com o índice de difusão de serviços em patamar relativamente baixo.
O qualitativo do IPCA foi bom, mas não representou novidade em relação ao que
tinha sido divulgado no IPCA-15 de dezembro. De qualquer maneira, criou-se um
cenário bastante favorável para a continuidade da desaceleração da inflação em
direção à meta.
Em
uma decisão que surpreendeu parte do mercado, mas não a totalidade dos
investidores (existia uma probabilidade em torno de 30% para um corte de juros
mais agressivo), o Banco Central (BCB) anunciou um corte de 75bps na Taxa
Selic, contra expectativas da ampla maioria dos economistas de um corte de
50bps. O comunicado indica que existe espaço para que o ritmo de queda de juros
continue neste patamar de 75bps. Ainda é cedo para afirmar se o BCB alterou o
seu orçamento total de queda de juros, ou está apenas antecipando o movimento,
frente a um cenário claro de desinflação e pressão sobre o crescimento.
No
cenário externo, o destaque ficou por conta da primeira entrevista coletiva de
Donald Trump, após a sua eleição. A entrevista foi marcada pela ausência de
detalhes do que será prioridade no período inicial do seu governo.
Na
Inglaterra, a possibilidade de um “hard Brexit” voltou à pauta, devido a
rumores de que o governo irá adotar uma postura mais dura nas negociações em
torno da saída do Reino Unido da União Europeia.
Na
China, a despeito de um cenário aparentemente estável, o governo continua
combatendo a pressão sobre os fluxos de saída de capital do país. Já vemos
alguns sinais de desaceleração do crescimento, em especial após a divulgação
das importações de dezembro, das vendas de veículos e dos números do setor
imobiliário.
Alocação/Estratégia:
Nossa
estratégia de manter recomendações acima da média para o mercado local de
juros, porém recomendações mais neutras para o mercado de câmbio e renda
variável estão colhendo resultados. A decisão do Copom em reduzir a taxa Selic
em 75bps na semana passada corrobora nossa visão de juros estruturalmente mais
baixos no país ao longo dos próximos meses.
No mercado de juros, vemos espaço para um processo estrutural de
queda de taxas no Brasil. Este processo, porém, não será linear, mas sim
pontuado por momentos de incerteza e instabilidade. Diante do nosso cenário de
inflação e crescimento, contudo, em um ambiente em que o ajuste fiscal avança
no Congresso, ficamos confortáveis com esta recomendação.
No
mercado de câmbio, a despeito de um cenário confortável para o balanço de
pagamentos, trabalhamos com um cenário externo favorável ao dólar do mundo, o
que deveria concentrar os eventuais ganhos na moeda brasileira em períodos
curtos de tempo. Assim, optamos por manter postura tática e não buscar posições
estruturais no Real.
No
mercado de renda variável, vemos espaço para o aumento dos fluxos para esta
classe de ativos, à medida que a melhora dos fundamentos se consolide. Já vemos
valor em alguns setores da bolsa local, mas entendemos que precisa haver uma
melhora no humor dos investidores no tocante as perspectivas de crescimento do
país.
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