Brasil: Ruídos da Lava-Jato/EUA: Trump cria polêmica maior.

Minha última análise de mercado foi feita na sexta-feira pela manhã. Desde então, vi poucas mudanças substanciais de cenário econômico, MS alguns desenvolvimentos políticos, especialmente nos EUA, mas também no Brasil, que podem acabar afetando, mesmo que pontualmente, a direção dos mercados financeiros globais.

Brasil – De maneira geral, o cenário econômico segue inalterado. O processo desinflacionário continua forte, com as coletas de inflação apontando para um IPCA bem abaixo do esperado pelo mercado e pelo BCB até poucas semanas atrás. O crescimento começa a dar alguns sinais de “green shoots” (dados de crédito, indicadores de confiança) mas em meio a um pano de fundo ainda de fragilidade. As contas externas seguem saudáveis, com as contas públicas ainda na penumbra.

No campo político, o retorno do recesso do MP trouxe de volta a tona, através do que pode ser visto como alguns vazamentos para a mídia, de delações premiadas em negociação e/ou já em andamento. De acordo com alguns veículos de comunicação, com informações divulgadas ao longo deste final de semana, novos e antigos personagens políticos surgem como possíveis investigados da Operação Lava-Jato e seus desdobramentos. Membros do alto escalão do atual governo continuam a circular como possíveis envolvidos nas investigações. Além disso, os desdobramentos da Lava-Jato no RJ podem trazer novas e importantes informações às investigações, com personagens envolvidos nas investigações podendo optar pela delação premiada.

Por ora, devemos ver o risco “Lava-Jato” como ruídos de curto-prazo, mas que pode vir a trazer volatilidade aos ativos locais, especialmente nos níveis em que se encontram. Continuo focado no tema de juros estruturais mais baixos no país, através de posições aplicadas em juros. Acredito que o BRL possa estar próximo da banda de baixa do que acredito que será um range relativamente estreito para ele ao longo do ano (3,10-3,50). Vejo espaço para alocações adicionais na bolsa local, mas não descarto realizações pontuais de lucro.

EUA – Os dados econômicos divulgados na sexta-feira (PIB, Durable Goods e Michigan Confidence) em nada alteram o cenário econômico para o país. A economia se mostra saudável, com crescimento em torno de 2%, e flutuações em torno da tendência. Existe uma expectativa de que a política econômica de Trump venha a elevar essa tendência de crescimento. Vejo um mercado de trabalho muito próximo ao pleno emprego, e uma inflação estruturalmente mais elevada no país.

Os números recentes em nada alteram este cenário, já existente antes mesmo da vitória de Trump. No curto-prazo, o risco é uma decepção do mercado em torno do crescimento do país. Por acreditar que os EUA encontram-se muito próximo do pleno emprego, poderíamos ter mais inflação, mas não necessariamente muito mais crescimento, um risco que hoje parece estar sendo totalmente ignorado pelo mercado.

Na sexta-feira à noite, Trump assinou um decreto (“executive order”) que até o momento foi o mais polêmico em sua curta administração. Trump baniu do país a entrada de imigrantes de 7 países muçulmanos. Ainda existe muitas dúvidas em torno da extensão da medida. Parte dela já foi revertida por um juiz do país. Contudo, em um primeiro momento, a medida estava valendo até mesmo para aqueles com vistos validos e “green card”.

A medida gerou uma forte reação de repúdio da população local, de países estrangeiros e de diversas corporações americanas com presença global.

Acredito que, em algum momento, e este momento pode estar próximo, os ativos de risco podem começar a olhar com maior desconfiança para as medidas de Trump. Na verdade, me impressiona como o mercado vem ignorando totalmente todas as sinalizações ruins que a nova administração vinha emitindo e/ou implementando. Trump está colocando em prática tudo aquilo que prometeu em sua campanha (construir um muro na fronteira do México, se retirar do TPP, renegociar o NAFTA, e etc). Intriga-me porque os investidores, até o momento, só estão vendo o lado potencialmente positivo de sua administração. Em algum momento, caso Trump mantenha sua postura, essa lua de mel do mercado pode acabar.

Europa – Aos poucos, e de maneira ainda incipiente, a Grécia está retornando aos noticiários financeiros. A nova etapa de negociação entre o país e seus credores mostra, uma vez mais, a situação extremamente caótica de sua dívida e a dinâmica insustentável da mesma.

China – Os números de dezembro mostraram uma economia estável. O país econtra-se no Ano Novo Lunar. O que vem me chamando a atenção são o conjunto de medidas de aperto que estão sendo implementados dia-após-dia. Não somente o controle da conta de capital está mais restrito, como há indícios de controle do crédito e aperto de juros. Continuo vendo uma desaceleração contratada para o país em cerca de 3 a 6 meses.

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