China: Crescimento OK. Desaceleração à frente.
Os ativos
de risco estão operando próximos a estabilidade neste momento, a espera do
discurso de posse de Donald Trump nos EUA.
A agenda econômica será esvaziada, devido a posse do novo presidente americano.
Eu espero que Trump mantenha o tom adotado em toda sua campanha eleitoral,
sinalizando para uma política econômica que irá buscar impostos menores para o
setor corporativo, além de acordos comerciais mais vantajoso ao país, com o
intuito de recuperar o crescimento da economia, senão estruturalmente, pelo
menos no curto-prazo.
Eu
continuo mais focado nos dados econômicos, do que nas sinalizações, muitas
vezes contraditórias do novo presidente dos EUA. Eu entendo que sua postura gera
volatilidade e, eventualmente, movimentos rápidos e acentuados em algumas
classes de ativos, mas acredito ser mais importante entender em que fase do
ciclo econômico encontra-se a economia do país. Nesta linha, reforço que vejo
uma economia sólida, com o hiato do produto praticamente fechado, em um mercado
de trabalho muito perto do pleno emprego. Este cenário deveria gerar pressões
de salários e, em algum momento, pressões altistas sobre a inflação geral. A
política econômica de Trump, caso reafirmada e concretizada, apenas acelera uma
economia já em um estágio avançado do ciclo econômico. Assim, a interpretação
de suas declarações é importante apenas para medir qual será a velocidade do
ajuste dos ativos de risco, se mais acelerada, ou um pouco mais gradual.
Na China, o PIB do 4Q ficou acima das
expectativas do mercado, com crescimento de 6,8% YoY (expectativas de 6,7%
YoY). Contudo, os dados de atividade econômica de dezembro apresentaram um
desempenho mais misto. A produção industrial ficou abaixo das expectativas (6,0%
YoY vs 6,1% YoY), o FAI decepcionou (8,1% YoY vs 8,3% YoY) mas as vendas no
varejo superaram as expectativas (10,9% YoY vs 10,7% YoY).
O
cenário para a economia do país continua a ser de um crescimento relativamente
estável no curto-prazo (1 a 3 meses), mas com grande potencial de desaceleração
no médio prazo (3 a 6 meses). A recente mudança de postura por parte do PBoC e
do governo em geral, que vêm tentado administrar bolhas em mercados específicos
(imobiliário, Bitcoin, Commodities, e etc), além postura mais proativa na
administração da depreciação cambial, que vem mantendo a liquidez e os juros de
mercados mais elevados, quase que certamente irão levar a uma desaceleração da
economia.
Impressiona-me
como o país apresentou uma estabilização apenas marginal e frágil, mesmo frente
a uma nova rodada de estímulos fiscais e de crédito nos últimos meses. Isso
confirma um cenário de “dimishing returns” deste tipo de política econômica
nesta fase do ciclo chinês. Este ambiente mostra que a economia da China está
muita próxima de um ponto de inflexão, em que um menor crescimento deverá ser,
obrigatoriamente, tolerado. Ainda não vejo motivos para acreditar em uma crise
aguda no país, pois a economia sendo mais planejada do que as demais economias
do mundo permite um cotrole maior desta desaceleração. Contudo, este cenário
não pode ser descartado, e cresce a cada novo dia, à medida que os ajustes
necessários não são implementados.
No Brasil,
a trágica mostre do Ministro do STF e relator do processo da Lava-Jato traz uma
pitada de incerteza ao cenário. Ainda me parece cedo para tirar conclusões
concretas a respeito do tema mas, no mínimo, deveremos ter uma desaceleração
das investigações, o que dará tempo ao governo e a classe político para atuarem.
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