Relatório Semanal de Asset Allocation:



Global - Os ativos de risco apresentaram alguns sinais negativos ao longo da semana, com destaque para a forte queda no preço do Petróleo e fechamento de taxa das Treasuries nos EUA. Estes movimentos vem a corroborar o fato que o ano tem sido marcado por grandes movimentos de “liquidação” das principais posições consensuais do mercado.
Já vimos uma grande reversão do dólar no mundo, uma enorme pressão nos ativos emergentes, uma acentuada queda das bolsas (em fevereiro) e agora estamos diante de pressões no petróleo e (baixistas) nas taxas das Treasuries.
Não vemos grandes mudanças de cenário, mas entendemos que o quadro técnico esteja, novamente, se sobrepondo ao cenário econômico no curto-prazo, em um momento de posição técnica menos saudável, preços menos atrativos e um cenário econômico mais desafiados ao redor do mundo.
No campo econômico, continuamos tentando entender a magnitude da desaceleração na Europa, os problemas políticos na Itália e Espanha, as questões idiossincráticas em países emergentes como Argentina e Turquia, e a política externa do governo Trump. Esses temas devem continuar ditando a dinâmica de curto-prazo dos mercados, trazendo volatilidade e poucas tendências claras ou objetivas. Além disso, gostamos de lembrar que estamos no meio do processo de normalização monetária nos EUA, com altas de juros programadas e uma redução do balanço do Fed em modo “piloto automático”, o que deve continuar atuando como restrição a rodadas mais prolongadas de apreciação dos ativos de risco como um todo.
Brasil - O Tesouro Nacional anunciou na noite de sexta-feira que irá cancelar os próximos leilões de vendas de títulos públicos e irá promover leilões de recompras diários. Acreditamos que a decisão tenha sido acertada e que tenha vindo em boa hora. Assim como o BCB conseguiu trazer mais racionalidade ao mercado de câmbio com os leilões de swap cambiais diários, o Tesouro deverá ser bem-sucedido em conter movimentos irracionais no mercado de juros.
Vale lembrar, entretanto, que essa atuação não visa mudar a direção do mercado, mas trazer menos volatilidade e maior racionalidade à liquidez e preços. Os ativos do país continuarão suscetíveis ao cenário externo e a eventuais reações a deterioração do cenário doméstico, seja político ou econômico.
A despeito do acordo anunciado entre o Governo e os caminhoneiros, o país continua em situação muito delicada. A autorização do uso da força militar está ajudando a liberar algumas estradas, em algumas regiões, mas a mídia, neste momento, continua reportando situação de bloqueio, falta de alimentos e combustíveis, perdas financeiras elevadas nas fazendas avicultoras e etc.
Na tarde de sexta-feira, foi anunciado o aumento da bandeira de energia para “Vermelha 2”. Segundo especialistas, isso poderá elevar a inflação entre 20bps e 30bps no mês.
Até algumas semanas atrás, existia um pano de fundo de recuperação cíclica da economia, a perspectiva de inflação baixa e juros mais baixos por mais tempo, o que dava impulso adicional à economia e tempo para que as reformas econômicas, indispensáveis ao país, fossem feitas ao longo do tempo. Além disso, o cenário externo se mostrava relativamente neutro.
Nas últimas semanas, observamos uma perda de momentum da economia, que acabou sendo surpreendida por uma rápida e acentuada depreciação cambial, uma piora do cenário externo e a atual “crise social” com a greve dos caminhoneiros que se instalou no país nos últimos dias. Diante deste pano de fundo, ainda não temos certeza do real impacto desses eventos recentes na economia. Todavia, temos alguma convicção de que houve uma piora perceptível do cenário que deverá se prolongar até que tenhamos uma definição mais clara do cenário eleitoral. Além disso, acreditamos que o cenário externo deixou de ser um “vento a favor”, passando a ser “neutro” e poderá vir a se tornar um “vento contrário” nos próximos meses.
Diante do exposto acima, reforçamos nossa visão mais cautelosa para os ativos de risco, em especial no Brasil, que já vem sendo regra neste relatório nos últimos meses.
De maneira geral, continuamos a ver o cenário como excessivamente nebuloso. Entendemos que teremos mais volatilidade ao longo do ano e os portfólios precisam estar preparados para este ambiente, tanto no sentido de preservação de capital, como no intuito de se apropriar da volatilidade em busca de “alpha”. Continuamos sem disposição de carregar grandes temas estruturais de investimento neste momento, mas estamos atuando de forma ágil, flexível e sem preconceito em busca de “alpha” para os fundos e portfólios.

Alocação/Estratégia:

Como temos reforçado neste fórum, as últimas semanas nos levaram a promover algumas revisões em nosso cenário base.

No cenário local, observamos números mais fracos de crescimento e emprego, o que sugere uma recuperação mais lenta e gradual do que o previsto anteriormente. O processo eleitoral começa a ganhar corpo, mas ainda com grande indefinição, o que dificulta desenvolver qualquer panorama para um prazo mais longo. Finalmente, no tocante ao cenário externo, vemos um acúmulo de pressões inflacionárias nos EUA e números de crescimento mais fracos na Europa e na China, o que faz com que ainda haja  muita indefinição no curto-prazo.

Assim, com este pano de fundo, estamos reforçando nossas recomendações mais neutras e cautelosas para os ativos locais.

Juros - Preferimos estar neutros na parte curta das curvas nominais e reais de juros, pois vemos o risco/retorno como não atrativo. Já não temos mais a convicção de que os juros ficarão mais baixos por muito tempo, a despeito do cenário de inflação corrente bastante contida. Precisamos entender de maneira mais clara o impacto dos eventos recentes na inflação prospectiva, antes de termos alguma opinião mais firme em relação à curva local de juros reais e nominais.


Câmbio - Continuamos sem recomendações estruturais para o mercado de câmbio. O menor carrego da moeda, o cenário externo mais desafiador e o cenário eleitoral ainda indefinido deverão manter o câmbio com elevada volatilidade e em patamares mais depreciados por mais tempo.

Renda Variável/Bolsa - Assim como no mercado de juros, preferimos estar com posições neutras (ou em torno da média) no mercado de renda variável. Estamos optando por fundos com menor “beta” ao mercado e que priorizem ações de valor e/ou com boa previsibilidade de resultados, como alguns fundos de dividendos.

Fundos Estruturados - Continuamos com recomendações acima da média para fundos multimercados. Gostamos de gestores que historicamente conseguem gerar “alpha” em mercados externos, e/ou que mostrem menor dependência a temas específicos, como a queda de juros no Brasil.

Fundos de Investimento no Exterior - Finalmente, acreditamos que existe espaço para fundos de investimento no exterior com viés neutro ao “beta” do mercado, como fundos long-short neutros, fundos macro, CTA e etc, nos quais a escolha do gestor seja um gerador maior de retorno do que a direção do mercado em si.



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