Brasil: Algumas reflexões.


A greve dos caminhoneiros ainda não foi totalmente debelada. A situação do país está sendo normalizada de forma ainda excessivamente lenta. Contudo, é natural esperar (e acreditar) que nos próximos dias a greve tenha ficado para trás e o país volte ao normal.
A associação de funcionários da Petrobrás anunciou uma greve de 72 horas com início na quarta-feira, com reivindicações parecidas à pauta dos caminhoneiros.
Com a atuação do Banco Central no mercado de câmbio, e agora do Tesouro no mercado de títulos públicos (comentado no sábado aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com.br/2018/05/cenario-externos-nebuloso-brasil.html) não descarto alguma acomodação, normalização ou até mesmo “relief rally” dos ativos do Brasil. Contudo, a situação que o país vivenciou nos últimos dias, na minha opinião, trazem consequências e conclusões à longo-prazo muito mais importates.
Não é o meu intuito neste fórum fazer juízo de valor, apoio ou críticas a qualquer tipo de movimento. A minha intenção é entender o impacto que as questões referentes ao país terão sobre os ativos financeiros locais e aos investimentos de curto e longo-prazo.
Na minha visão, a situação que o país viveu com este episódio dos últimos dias mostra o total despreparo do país para lidar com situações de crise, e uma sociedade que se mostra imatura, ou não preparada, para as mudanças e reformas necessárias no longo-prazo para a saúde econômica do país. Reforço que não estou julgando, fazendo juízo de valor, crítica ou tomando partido de nenhum dos lados. A falta de disposição de várias esferas da sociedade neste evento, assim como no debate da reforma da previdência no ano passado, mostra que será extremamente complicado para que o próximo governo, o próximo presidente e o próximo Congresso Nacional consigam avançar nas reformas econômicas, imperativas para o bom funcionamento econômico do país em um cenário externo mais desafiador.
Nas últimas semanas, vimos como a ausência de bases econômicas sólidas podem levar países a situação delicadas, com forte depreciação de seus ativos. Falo aqui dos eventos na Argentina e Turquia, ambas levadas a promover forte elevação das taxas de juros, além de intervenções no mercado de câmbio, com medidas adicionais de ajuste fiscal, com efeitos ainda mais recessivos e negativos para a sociedade geral.
Na atual conjuntura do ciclo eleitoral do Brasil, não vejo nenhuma plataforma, de nenhum dos candidatos competitivos, realmente capaz de alterar a situação do país. Além disso, a maior parte dos candidatos competitivos não mostra real intenção, posicionamento e, mais importante de tudo, convicção na necessidade das reformas. Finalmente, neste momento, fica dificil vislumbrar que teremos de fato uma mudança substancial no Congresso capaz de apoiar esta agenda liberal e reformista.
Assim, mesmo que momentos de acomodação e recuperação dos ativos locais venham a ocorrer nos próximos dias ou semanas, apenas a visibilidade da próxima administração será capaz de alterar o humor dos investidores, locais e externos, em torno dos ativos do país. Por ora, este ambiente traz volatilidade e incerteza aos portfólios e investimentos, e assim permanecerá. Mantenho meu viés de cautela, flexibilidade, agilidade e liquidez dos portfólios.


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