Dia Agitado. Incertezas permanecem.

A quinta-feira foi bastante agitada. Comentarei de maneira breve alguns dos eventos do dia. De maneira geral, contudo, os eventos de hoje apenas ratificam um cenário de cautela, em que deverá predominar a incerteza e a volatilidade dos mercados financeiros globais. Continuo com viés mais cauteloso, senão negativo, pelo menos no curto-prazo.

Os ativos de risco apresentaram dinâmica negativa, em reação aos eventos comentados abaixo. Destaque para forte pressão nos ativos emergentes, quedas das bolsas e commodities, mas alta nas taxas de juros. A maior parte dos eventos abaixo explica esses movimentos.

EUA/Guerra Comercial – O Governo Trump anunciou que irá seguir com a imposição de tarifas de importação em alguns produtos, como Aço, para países e regiões como México, Canadá e União Europeia. Após o anuncio, esses países e regiões anunciaram que irão adotar medidas de reciprocidade. Este caminho adotado pelos EUA deverá trazer um maior grau de incerteza ao cenário econômico e, consequentemente, aos ativos de risco.

No limite, ainda acredito que está postura do Governo Trump é “apenas” uma maneira de buscar alavancagem nas negociações comerciais bilaterais. Contudo, é óbvio que aumento o grau de incerteza do cenário, levando os investidores a demandarem um maior prêmio de risco nos mercados financeiros. O risco de um erro de política comercial aumenta drasticamente com este tipo de posição.

EUA/Economia – Os dados de hoje (Jobless Claims, Personal Income & Spending, Chicago PMI, Core PCE) confirmaram um cenário de crescimento saudável, até mesmo robusto, com mercado de trabalho apertado e acumulo de pressões inflacionárias. Os números recentes apenas reforçam esse quadro, em nada alterando o cenário para a política monetária no país. Ainda vejo o Fed elevando as taxas de juros entre 3 e 4 vezes este ano, com a manutenção de seu processo de redução de balanço. O mercado hoje embute menos de 50bps de alta de juros nos próximos 12 meses.

Europa/Inflação – A inflação na Europa apresentou alta acima do esperado, ficando muito próxima aos 2% objetivados pelo ECB. Mesmo que vetores pontuais expliquem parte da alta, também observamos uma aceleração do Core CPI. Ainda é cedo para cantar vitória na inflação na região, mas os números de hoje indicam que a maior parte dos países desenvolvidos devem permanecer em um ambiente de normalização monetária, retirando algum tipo de suporte aos mercados, que permaneceram ao longo dos últimos 10 anos.

Exceto por mudanças substancias no cenário de crescimento, o que os números ainda não indicam, ou um acidente financeiro, que leve a um forte aperto das condições financeiras, é difícil ver uma mudança de rumo, ou rota, por parte dos principais bancos centrais desenvolvidos.

Itália – Após idas e vindas, um governo dito populista e contra as principais reformas implementadas no país nos últimos anos, acabou sendo formado. Neste momento, o mercado está lendo este desfecho como “menos negativo” do que novas eleições. A despeito da retirada de um risco de curto-prazo, permanecem incertezas imensas no cenário e os investidores devem continuar a pedir mais prêmios nos ativos do país ao longo do tempo.

Espanha – O Governo Rajoy parece estar em situação delicada e novas incertezas podem afetar a Europa e os ativos da região.

China/PMI – O PMI Manufacturing do país apresentou uma surpreendente elevação. O país continua se mostrando como fonte de estabilidade global, diante de uma série de incertezas que afetaram os mercados nas últimas semanas. Precisamos monitorar apenas o processo de desalavancagem que vem ocorrendo no setor financeiro do país.

Brasil – No final da tarde de ontem o Tesouro anunciou que irá continuar a promover leilões de recompra de títulos públicos, cancelou os leilões de vendas e afirmou que promoverá emissões de duration mais curta. O anunciou ajudou a trazer alívio a um mercado bastante volátil ao longo da quarta-feira.

Como já afirmei aqui anteriormente, a postura do Tesouro e do BCB está correta. Contudo, essa atuação visa apenas trazer racionalidade e liquidez aos mercados locais, não necessariamente sendo suficiente ou capazes de alterar a direção e a dinâmica dos ativos do Brasil. Continuamos a mercê do quadro político incerto, de um panorama econômico delicado e de um ambiente externo mais desafiador.



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