Dinâmica ainda ruim. BCB muda atuação no câmbio.


A despeito da estabilização e de uma relativa recuperação dos ativos nos mercados desenvolvidos, especialmente nos EUA, ao longo de toda a semana, os ativos emergentes voltaram a operar sob forte pressão negativa na sexta-feira, após um acentuado porém breve “relief rally” na quinta-feira.
Não houve mudanças significativas de cenário, mas a dinâmica do mercado se mostra ainda bastante ruim e não pode ser ignorada. Os ativos no Brasil estão seguindo está dinâmica e tem sido um dos lideres destes movimentos, ficando atrás apenas de países com problemas internos maiores, como Argentina e Turquia, por exemplo.
Continuo vislumbrando alguma recuperação tática dos mercados emergentes, baseado em um cenário de crescimento global saudável, inflação ainda contida no mundo desenvolvido, uma melhora na posição técnica e nos preços e valuations dos mercados. As posições ainda são reduzidas devido a dinâmica ruim dos ativos de risco, e os instrumentos utilizados ainda buscam preservar o capital dos fundos na eventualidade de estarmos errados. Na manhã de ontem  adicionamos estruturas de opção para a eventualidade de o BCB optar por manter a Taxa Selic estável na próxima reunião do Copom, o que está me parecendo prudente neste momento, como comento abaixo.
No final da tarde de ontem, o BCB anunciou algumas alterações no programa de swap cambial. De maneira resumida, o BCB irá ofertar cerca de US$250mm em swaps todos os dias, ao invés de promover uma venda de cerca de US$2,8bi na última Ptax do mês. Com esta nova postura, o BCB terá ainda liberdade para, eventualmente, promover intervenções mais flexíveis e, eventualmente, mais agressivas. Ainda acho cedo para afirmar o impacto que esta mudança causará na dinâmica do câmbio.
O mercado local, na minha visão, está sinalizando ao BCB para ele não cair a Taxa Selic novamente em 25bps na reunião do Copom da semana que vem. Mesmo que o cenário de inflação esteja tranquilo, o crescimento se recuperando apenas gradualmente, o que mantém o hiato do produto ainda aberto, a variável cambial e a dinâmica do câmbio e da curva de juros, com forte steepening e forte alta das inflações implícitas, demostram que, talvez, seria mais prudente encerrar o ciclo de queda da Taxa Selic em 6,5%, neste momento, e acompanhar o cenário para os próximos passos.
As venda no varejo do Brasil divulgadas namanhã de ontem mostraram um quadro de recuperação do varejo basicamente dentro das expectativas do mercado. Com o número de ontem, os dados da semana confirmaram um quadro de recuperação gradual do crescimento do Brasil em um pano de fundo de inflação ainda baixa e controlada. Assim, vejo poucas mudanças no cenário econômico cíclico da economia local. O cenário eleitoral, contudo, segue incerto e indefinido, o que deve manter os investidores ainda cautelosos até que o ciclo eleitoral se torne mais claro.
No tocante ao cenário externo, vejo um crescmento global ainda saudável, a despeito de alguma flutuação em torno da tendência, especialmente na Europa. Os dados recentes da China e dos EUA mostram um crescimento estável nessas economias. Acho que é inegável que a inflação está em um processo de elevação nos EUA, mas o ritmo de alta ainda se mostra, de certa forma, gradual, mesmo que em bases mais elevadas do que no passado recente. Os países emergentes continuam sofrendo uma “corrida de capital”, mas seus fundamentos mudaram pouco de 2 meses para cá. Alguns países apresentam desafios e incertezas maiores do que os outros.
Este ambiente permite que o Fed continue em seu processo de normalização monetária. Por ora, contudo, não há a necessidade de acelerar o processo de alta na taxa de juros, do ritmo de 3 a 4 altas de 25bps por ano. A curva ainda precifica cerca de 50bps de alta de juros nos próximos 12 meses, o que me parece excessivamente baixo.
Este ambiente continua se caracterizando como um ambiente de final de ciclo econômico. Acho que passaremos por diversos momentos de “stop-and-go” nos ativos de risco ao longo do ano, como observamos nas bolsas dos EUA em fevereiro e agora estamos observando nos ativos emergentes.
Por isso, venho mantendo uma postura mais tática e cautelosa ao longo de todo o ano, e pretendo continuar a assim nos próximos meses. Na margem, acredito que haja espaço para alguma recuperação tática e pontual dos ativos EM e no Brasil, mas é verdade que a dinâmica continua extremamente ruim e merece atenção  cautela.



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