"Sweet Spot"

Os ativos de risco continuam muito bem suportados. Estamos vivendo em um “sweet spot”, em que o mercado concluiu que estamos em um ambiente de crescimento global fraco, mas sem risco elevado de recessão. Neste cenário, o Fed se mantém em compasso de espera no tocante a seu processo de normalização monetária, enquanto os demais bancos centrais das principais economias do mundo mantem uma postura de oferecer ampla liquidez a seus mercados.

Este ambiente acaba sendo positivo para os ativos de risco, especialmente aqueles que oferecem algum “yield” superior ao oferecido pelas economias maduras. Não à toa, estamos observando uma forte recuperação dos ativos emergentes, além de um desempenho relativo mais positivo dos ativos vistos como “yield assets”.

Nos últimos dias, em especial, tenho visto um foco (e uma demanda crescente) por ETFs de “Low Equity Volatility” e “EM Bonds”, que estão crescendo em volume e liquidez no mercado norte americano. Eu entendo (e respeito) o cenário de curto-prazo, mas imagino que uma quantidade crescente de investidores não entende de forma clara em que ativos estão investindo, o que pode criar algum problema futuro.

Em relação ao cenário descrito acima (“sweet spot”), acredito que temos que respeitar as tendências de curto-prazo. Para uma mudança drástica de direção, precisaremos observar um, ou mais, dos seguintes vetores: (1) valuations menos atrativos (algumas classes de ativos começam a entrar nesta classificação), (2) posição técnica menos favorável ou/e (3) uma mudança deste “sweet spot” (maior risco de recessão global, retorno da possibilidade de alta de juros nos EUA, entre outros).

Eu, particularmente, acredito que este cenário de curto-prazo seja um equilíbrio instável, diante dos riscos que se acumulam no cenário. Contudo, repito, que a dinâmica dos mercados mostra que devemos respeitar os movimentos, até que um (ou mais) das condições citadas acima seja(m) observada(s).

Nos EUA, o JOLTs apresentou uma forte criação de vagas de trabalho em abril, mas a abertura do indicador acabou sendo mais negativa do que o seu headline. O número é de abril, o que dificulta ainda mais a sua leitura. De maneira geral, precisaremos observar as próximas leituras do Jobless Claims, e os próximos Payroll antes de ter uma conclusão mais firme em torno do mercado de trabalho do país.

No Brasil, o IPCA de maio apresentou alta de 0,78% MoM e 9,32% YoY, levemente acima das expectativas. A despeito da surpresa no mês, vimos um quadro qualitativo mais favorável, com desaceleração dos índices de difusão e da inflação de serviços. A alta em maio acabou muito concentrada em poucos itens, e muitos administrados, tendência que deve ser revertida nos próximos meses. Ainda estamos em meio a um cenário de inflação desconfortavelmente elevada, mas a perspectiva de desaceleração permanece inalterada.


Em relação ao BCB, eu mantenho a visão que tenho afirmado aqui. Acredito que a estratégia ótima deste novo BCB seja manter os juros estáveis por mais alguns meses. Caso o cenário de desaceleração de inflação se confirme, é natural supor que as expectativas de inflação convirjam para a meta, ajudadas pela implementação de um ajuste fiscal. Com este cenário concretizado, o BCB será capaz de iniciar um ciclo mais agressivo de corte de juros.

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