Brexit: Uma visão preliminar, mais ainda apouco conclusiva.

Os periódicos de final de semana, assim como os sell-sides, ainda estão digerindo a decisão dos ingleses em deixar a União Europeia (EU). O único consenso mais forte que tenho observado fica por conta dos impactos negativos sobre a economia da Inglaterra, assim como para um menor crescimento global. Por hora, contudo, as revisões de crescimento para o resto do mundo (ex-UK) são, grosso modo, cosméticas, com números menores na faixa de 0,2%-0,3% de crescimento mais brando ao redor do mundo.

Os analistas ainda mostram otimismo que este evento seja pontual e localizado, com impactos contidos (sem grandes contágios ao resto do mundo). Eu acho cedo para fazer qualquer afirmação em relação a uma resultante mais negativa ou não deste evento sobre o resto do mundo, mas a aparente certeza dos sell-sides em relação ao baixo impacto sobre o resto do mundo me faz lembrar a crise de 2008 nos EUA. Em um primeiro momento, havia a certeza de que a crise permaneceria localizada. Os mercados emergentes apresentaram bom desempenho por 3-4 meses, mesmo com a crise nos EUA já em andamento. Depois, ficou claro o tamanho da crise e a interconectividade das economias. Hoje, não parece, por hora, haver problemas financeiros que amplifiquem uma eventual crise, mas o mundo encontra-se mais frágil e a política monetária do mundo desenvolvido menos potente. Quem vencerá a disputa?

As incertezas em torno do processo de saída da Inglaterra da EU ainda são gigantescas. A cena política da Inglaterra vive um momento de “revolta” e profundas mudanças em relação ao status-quo. Um novo Primeiro Ministro, e um novo governo, começam a serem esboçados.

Os impactos secundários destes movimentos, especialmente nos demais países da UE ainda são incertos, mas perigosos. O precedente aberto pela Inglaterra é preocupante para a União Monetária, especialmente em um período de enfraquecimento das elites e fortalecimento dos partidos políticos radicais e contrários a UE e suas políticas.

Eu espero um período de elevada volatilidade do preço dos ativos de risco. Ainda não vejo risco sistêmico nos mercados financeiros globais. Todavia, tenho receio de que os analistas estejam subestimando os impactos econômicos, políticos e sociais que o evento da semana passada venha a ter sobre a economia e os mercados financeiros globais.

Vale lembrar que já estávamos observando um cenário base de crescimento baixo, porém constante, com flutuações em torno da tendência. Um choque de confiança como este pode vir a ser visto, no futuro, como o “trigger” para uma desaceleração mais acentuada do crescimento econômico mundial. Além disso, a política monetária no mundo desenvolvido aparenta ter cada vez menos poder de combater estes choques, por motivos óbvios. Os bancos europeus, que já vinham em um processo de deterioração, encontram-se em situação ainda mais delicada neste momento.


Isso não quer dizer que os bancos centrais ao redor do mundo não atuarão. A primeira linha de contingencia serão as linhas de swap, para prover liquidez aos mercados. Depois, poderemos ver mais uma rodada de corte de juros e, consequentemente, novas rodadas de QE. Neste ínterim, os ativos de risco devem girar entre o pessimismo das incertezas geradas pelo processo, e o otimismo do ativismo dos bancos centrais. A resultante deste processo deve ser um mundo mais instável, com crescimento ainda mais baixo, mas com a ausência de uma crise mais aguda. Entretanto, neste ambiente de incerteza e fragilidade, cresce o risco de um período mais negativo para os mercados financeiros globais, com as crises de 2008 (EUA) e 2011 (Europa) ainda muito frescas na cabeça dos investidores.

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