Algumas observações.

Até o momento, a terça-feira está sendo de um movimento típico recuperação dos ativos de risco. Alguns pontos, contudo, me chamam a atenção:

- Por hora, o movimento de alta das bolsas dos EUA me parece tímido demais, especialmente frente a queda rápida e acentuada verificada na sexta-feira e ontem. Esperaria um movimento mais acentuado, mesmo que apenas aparentando ser um movimento técnico de recuperação. A fragilidade me chama a atenção.

- A mesma analogia pode ser feita para os bancos na Europa, que acabaram fechando o dia próximos a estabilidade, depois de dois dias de forte pressão. O movimento sinaliza para uma fragilidade no setor. Vale lembrar que os bancos europeus já vinham em um movimento de queda antes do Brexit. O evento apenas acelerou estes movimentos. Fica cada vez mais evidente que este setor passa por um problema estrutural mais sério, que precisará ser equacionado pelos policy makers, mais cedo ou mais tarde. O problema, como a história recente comprova, é que geralmente a atuação dos governantes costuma ser reativa, e não proativa. Assim, é capaz de observarmos novas rodadas de deterioração, antes que medidas concretas sejam adotadas para, definitivamente, resolver os problemas do setor bancário da Europa. Os bancos da Itália parecem ser a “bola da vez”.

- Os ativos emergentes estão apresentando forte apreciação, em um movimento clássico de busca por yield. O movimento faz sentido até o momento em que o mundo não entre em recessão ou um problema financeiro mais sério ocorra em algum lugar do mundo. A história em 2008 foi a mesma. Bom desempenho dos EM, até que a crise se mostrou mais agressiva do que o imaginado. O cenário base ainda é de um crescimento baixo, com flutuações em torno desta tendência, mas sem recessão ou crise financeira. Todavia, o brexit, e as duas observações acima, colocam este cenário em xeque.


- No Brasil, o RI ficou em linha com o que comentamos neste fórum mais cedo: O BCB irá divulgar hoje seu relatório de inflação, com a presença de seu novo presidente. Espero que a mensagem de Ilan seja clara e ortodoxa, ou seja, foco na meta de inflação. Os jornais de hoje estão dizendo que o centro da meta de 2018 não será alterada e ficará em 4,5%. Acredito que o mesmo será feito com a meta de 2017. Não vejo espaço, e nem necessidade, neste momento, de alteração na meta de inflação do país para os próximos 2 anos. O RI, e a mensagem de Ilan, foram acertadamente, na minha opinião, lidas como hawkish. O mercado está promovendo um ajuste de expectativa em relação ao ciclo de política monetária, com um forte flattening da curva de juros e queda das inflações implícitas. Acredito que o BCB manterá uma postura ortodoxa. Não há espaço para corte de juros no curto-prazo, mas é inegável que este espaço deverá surgir em algum momento do final deste ano ou começo de 2017. Assim, passado o impacto inicial da mensagem do BCB, é natural supor que teremos juros mais baixos no país no futuro. Nos atuais níveis de preço, acho saudável o mercado apresentar alguma consolidação. O movimento do BRL está seguindo o humor global a risco, com uma pitada adicional de otimismo com o Brasil e com a mensagem do BCB. Não vejo os ativos locais como “caros”, mas entendo que observamos um movimento rápido e acentuado de apreciação do BRL e fechamento de taxas de juros. Acho que a tendência positiva deve permanecer, mas movimentos de consolidação/realização de lucros podem vir a ocorrer.

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