Brexit = Risk-Off!
Em uma decisão surpreendente e totalmente inesperada pelo mercado, o Referendo na Inglaterra decidiu pela saída do país da União Europeia. As pesquisas dos últimos dias apontavam decisão na direção oposta, assim como a dinâmica dos ativos de risco, especialmente nos últimos dias, mostrou um claro viés dos investidores em retirar os hedges das carteiras para o evento propriamente dito.
Este evento me fez lembrar a sexta-feira imediatamente anterior a quebra da Lehman. Os ativos de risco apresentaram forte apreciação naquele dia, na expectativa de um bailout do banco. O argumento era de que o governo americano não deixaria o quinto maior banco do país quebrar. No domingo, não houve acordo. Na segunda-feira, observamos um forte sell-off dos ativos de risco. Os mercados chegaram a se recuperar para os níveis daquela sexta-feira nos dias subsequentes, mas depois o mundo entrou em uma espiral extremamente negativa, com movimentos rápidos e acentuados de piora dos ativos de risco. Naquele momento, o risco era sistêmico. Agora, não vejo risco sistêmico, mas um choque de expectativas, em um ambiente de econômica global fragilizada, com os instrumentos de política monetária limitados no "lower bound".
Os mercados financeiros globais estão reagindo de maneira clássica, em um movimento típico de aversão a risco: bolsas e commodities em queda, dólar forte, fechamento de taxa de juros dos países desenvolvidos, mas pressão nos ativos emergentes em geral.
Alguns bancos centrais ao redor do mundo já divulgaram comunicados com declarações que estão preparados para agira, provendo liquidez ao mercado, em uma tentativa de manter os mercados funcionais, e evitar rupturas. Acho que outros bancos centrais ao redor do mundo devem seguir a mesma postura.
Como comentei neste fórum ao longo da semana, por um lado, eu não acredito que a saída da Inglaterra da UE seja um “evento de cauda” como a quebra da Lehman, mas, por outro lado, acho que cria um precedente perigoso, de mensuração difícil, especialmente no quadro político da Europa, em um ambiente cada vez mais propício para o avanço de partidos radicais e pela busca de mudança do status-quo político e econômico. O impacto econômico, especialmente pelo efeito da incerteza, deveria ser relevante dentro deste contexto.
Nesta linha, alguns partidos de outros países da Europa, como França e Holanda, jpa vieram a público demandando um Referendo, nos mesmos moldes do Referendo Inglês, em uma tentativa de criar o debate em torno da União Europeia.
Preocupa-me que este choque de expectativas atinge o mundo em um período em que a política monetária de alguns países e regiões já se encontra em seu limite, com poder cada vez menor de atuação, em um ambiente em que a economia mundial já se mostra fragilizada. Vale lembrar que estamos as vésperas de uma eleição nos EUA,e muito próximos de importantes eleições na Europa, como na Espanha. O resultado do Referendo na Inglaterra, assim, cria um precedente perigoso para o quadro político mundial, com reverberações não desprezíveis para o crescimento global.
É natural que o debate no Brasil migre para a atuação do BCB. Por hora, acredito que eles buscaram prover liquidez e manter o mercado funcional. Acho difícil “abraçar” a tese de que irão cair juros, como Tombini fez na crise de 2011-2012. Eu prefiro esperar as primeiras sinalizações do Ilan antes de tentar entender a função de reação deste BCB, já que a inflação de curto-prazo ainda encontra-se preocupantemente elevada e, eventualmente, poderemos ter uma pausa na apreciação cambial.
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