FOMC & Temer

A quarta-feira foi bastante agitada, com desdobramentos que ainda me intrigam.

Nos EUA, o PPI ficou um pouco acima das expectativas do mercado, mas com um qualitativo mais positivo, especialmente nos núcleos. O Empire Manufacturing apresentou forte alta em junho, saindo de -9,02 para 6,01, muito acima das expectativas de -4,90. A produção industrial de maio, contudo, surpreendeu as expectativas do mercado com uma queda superior ao esperado. De maneira geral, os números não alteraram o cenário de um crescimento ainda relativamente baixo, porém estável, em torno de 1,5%-2,0% da economia do país.

O ápice do dia, contudo, ficou por conta da decisão do FOMC. A Goldman Sachs resumiu bem as principais alterações promovidas pelo Comitê:

The statement and SEP were more dovish than expected in several respects. First, the number of participants anticipating only one rate increase this year rose to six from just one in March—more than we had expected. Second, funds rate projections for 2017 and 2018 declined more than we expected: the median estimate for 2017 fell by 25bp to 1.6%, and for 2018 by 63bp to 2.4%. Third, the statement expressed slightly more concern about developments in inflation expectations, noting that market-based measures “declined” (instead of “remained low”), and that only “most” survey-based measures were little changed. Lastly, Kansas City Fed President Esther George voted in favor of holding policy rates unchanged—another indication of a more cautious mood about the committee.

A reação dos ativos de risco a decisão do Fed, contudo, foi muito mais mista do que eu imaginaria que poderia ser ou, em outras palavras, muito diferente do que observamos no passado recente (desde o pos crise de 2008). Vimos um movimento natural de dólar fraco e ouro em alta. Contudo, a reação das demais commodities foi mais mista, com o petróleo em forte queda. Os ativos emergentes também apresentaram reação menos otimista.

Algumas teses podem explicar estes movimentos mais contidos, mas ainda não tenho uma conclusão mais concreta em relação ao tema. Primeiro, o forte fechamento de taxas de juros globais, com os bancos centrais dos países desenvolvidos no “lower bound”, podem estar trazendo uma sensação de pouco poder da política monetária de agora em diante. Segundo, o Brexit pode estar funcionando como um amortecedor de otimismo no curto-prazo, e/ou realmente a fragilidade da economia global, (na Ásia e na China, em especial) estejam pesando mais na equação do que uma perspectiva de manutenção de juros estáveis por parte do Fed, já que o mercado já trabalha com um processo extremamente gradual de alta de juros.

No Brasil, além deste ambiente externo, que sem dúvida está ajudando a dar o tom dos ativos locais, tivemos alguns eventos locais. A divulgação da delação premiada de Sergio Machado trouxe novamente à tona o nome de Michel Temer como potencial envolvido em financiamento via “caixa 2” de campanha eleitoral, neste caso de Gabriel Chalita para a prefeitura de SP.

No tocante a inflação, ainda vemos sinais desconfortáveis da coleta de alimentação no atacado, com os IGPs ainda pressionados em meio a um mercado ainda bastante aplicado na curva de juros.

O Ministro da Fazenda divulgou oficialmente a PEC para o teto de gastos primários. As medidas ficaram dentro do esperado pelo mercado, sendo bastante positivas para o ajuste das contas públicas do país, caso seja aprovada.

Estes eventos ajudaram a dar um tom mais negativo para o mercado local de juros, a despeito de um bom desempenho do BRL e do Ibovespa. Aqui, mais uma vez, o quadro técnico parece estar predominando.


Acredito que as citações a Temer sejam superficiais, e de fácil defesa. A inflação de curto-prazo preocupa, e pode vir a adiar um eventual início de processo de queda de juros no país. Em meio aos ruídos de curto-prazo, a equipe econômica de Temer continua avançando a passos largos nos ajustes extremamente necessários ao país.

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