PMIs Globais e PIB Brasil.

No cenário externo, o destaque do dia ficou por conta da divulgação dos PMIs Manufatureiros Globais, que apresentaram uma preocupante desaceleração. O PMI Manufacturing dos EUA subiu de 50,8 para 51,3, mas detalhes qualitativos que ainda mostram um setor de manufatura fragilizado. A despeito da leve recuperação do PMI nos EUA, o mundo apresentou sinais evidentes de desaceleração.

Minha visão em relação ao cenário externo continua a mesma, ou seja, um mundo com baixo crescimento, ainda alavancado (ou se alavancando) não me parece saudável para alguns (ou vários) mercados, como os emergentes e as commodities.

Por hora, parece estarmos diante apenas de um período de crescimento estruturalmente baixo, em que os PMIs irão flutuar em torno de 48 e 52 pontos, sinalizando para um crescimento baixo porém estável. Contudo, quando a economia atinge uma velocidade de cruzeiro relativamente baixa, eleva-se os riscos de que qualquer choque possa levar o crescimento a uma recessão.

A PIMCO resumiu bem este cenário em um artigo divulgado hoje:

In recent years we have described “riding a wave” of central bank interventions, as a range of unconventional policies have been rolled out across countries, driving asset price returns. This wave-riding has worked well in the past. Looking out over the secular horizon, however, diminishing returns to central bank interventions – and the potential for policy activism to do more harm than good, notably in the case of negative policy rates – advise against such an approach. Debt levels globally remain very high, and the more levered sectors are relying on (potentially less effective) central bank support. While our baseline secular outlook sees a fairly benign macroeconomic path and fairly range-bound markets, there are a range of downside risks (discussed in detail above), including China and the eurozone, monetary policy exhaustion, political gridlock and the rise of populism. These potential shocks to the global economy increase the prospects for permanent debt write-downs over the secular horizon. Overall, we expect to have more cautious positioning in our portfolios, and to make capital preservation the number-one priority. It will be critical to target high quality income-generating assets in our portfolios but not necessarily the highest-yielding assets – we will tend to look for structural seniority, and we want to see sufficiently strong fundamentals or hard asset coverage to help investments weather the uncertainties over the secular horizon. We cannot rely solely on central bank support. The secular timeframe is likely to remain a very difficult environment for investing, and we will seek to avoid investments where there is a real risk of permanent capital loss.

No Brasil, o destaque ficou por conta do PIB (mais detalhes abaixo). Acho válido comentar, contudo, o melhor desempenho dos ativos locais, em um sinal de que o quadro técnico possa estar mais balanceado. Além disso, os ruídos políticos arrefeceram e a perspectiva de aprovação da DRU também parece estar ajudando o humor dos ativos locais. No final do dia, surgiu o rumor na mídia de que o STF poderia estar estudando uma nova ação contra alguma autoridade política, o que trouxe mais rumores ao mercado.

Trabalho com um cenário de baixo crescimento global no horizonte relevante de tempo. No tocante ao cenário interno, vejo um hiato do produto muito aberto (e ainda abrindo) que ajudará no processo de desinflação. O mercado de trabalho deverá manter uma trajetória de deterioração, reduzindo o espaço para os aumentos salariais. Finalmente, acredito que a recuperação do crescimento será em “L”, ao contrário dos outros momentos de crise vividos pelo país, quando uma recessão com queda de quase 8% do PIB era seguida de forte expansão da economia. Todos esses vetores me levam a concentrar risco no mercado local de juros.

O PIB Brasil, segundo nossa área econômica:

>> PIB veio melhor que o esperado (-0,3%t/t dessaz vs. Icatu: -0,6%t/t dessaz). No lado da demanda, o consumo veio melhor que o esperado, enquanto, no lado da oferta, a surpresa veio em serviços imobiliários e na indústria em “eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana” e “extrativa mineral”;
>> Embora acima do esperado, o consumo das famílias encolheu -1,7%t/t dessaz. No entanto, o consumo do governo subiu +1,1%t/t dessaz;
>> A formação de capital fixo encolheu -2,7%t/t dessaz;
>> Vale mencionar que mais uma vez a contribuição do setor externo foi importante (contribuindo com +1,6p.p.), compensando a forte queda da demanda doméstica (-1,34%t/t dessaz). A contribuição da variação de estoques (-0,55p.p.) fez a balança pender para uma queda de -0,3% t/t dessaz no PIB;
>> A demanda doméstica permanece encolhendo mais que o PIB. Vemos um ajuste macroeconômico em curso, com o gap de demanda doméstica fechando em relação ao PIB (na janela desde 2009);
>> O deflator real dos impostos indiretos sugere elevação de alíquotas (basta lembrar que vários estados elevaram ICMS);
>> O Deflator do PIB segue abaixo do IPCA (inflação média anual);
>> As taxas de poupança e investimento caíram mais uma vez (em 4 trimestres);

>> Estamos projetando queda ao redor de -4% em 2016, após a divulgação do PIB (antes a nossa expectativa era de -4,2%). A surpresa no PIB representa apenas mudanças marginas no cenário de juros. 

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