China em foco.

Com números bastante questionáveis na China e a proximidade do referendo na Inglaterra, os ativos de risco estão abrindo a semana em tom mais negativo.

O destaque da noite ficou por conta dos dados de atividade econômica na China. Por um lado, observamos uma estabilização da produção industrial e das vendas do varejo, até mesmo com uma aceleração razoável do crescimento sequencial (MoM desazonalizado) ao longo de maio. Por outro lado, contudo, o mês trouxe uma forte queda do Fixed Asset Investment (FAI). Os sell-sides trouxeram leituras bastante mistas em relação aos números de hoje, com alguns “aplaudindo” a estabilização de alguns números, enquanto outros mostraram preocupação com a ausência de uma estabilização mais firme do crescimento no país. A forte queda do FAI foi uma fonte consensual de preocupação por parte dos economistas.

Eu mantenho uma visão mais cautelosa em relação ao crescimento da economia da China. Ainda me parece cedo para falar que o país poderá passar por uma crise mais aguda, mas um cenário de desaceleração adicional da economia se mostra cada vez mais provável. Os dados de atividade econômica apresentam imensas dificuldades em se recuperar, mesmo diante de uma rápida e acentuada expansão do crédito no país nos últimos meses. Neste cenário, é necessário cada vez mais estímulos para se gerar cada vez menos crescimento, um ambiente que me parece insustentável diante do patamar de dívida/PIB que o país alcançou nos últimos anos. Assim, é natural supor que o crescimento chinês será menor no futuro, com riscos crescentes à estabilidade financeira de um mercado de crédito extremamente frágil e sem soluções óbvias.

No Brasil, está crescendo a pressão sobre o BCB para adotar uma meta de inflação ajustada. Segundo o Valor: Economistas do mercado financeiro consideram positiva a ideia de estender o prazo para o cumprimento da meta de inflação pelo Banco Central, defendida pelo ex­presidente do BC Armínio Fraga. Para os analistas consultados, muitos com passagem pela diretoria da autoridade monetária, essa seria uma forma de reforçar a credibilidade no sistema de metas de inflação, por oferecer ao mercado um cenário mais realista. O que ainda gera dúvidas é qual o momento adequado para fazer essa alteração e também se a medida deve preceder uma redução da meta de inflação mais à frente. Se o BCB entrar nesta onda, reforça minha visão positiva com relação a queda dos juros reais no país. Está postura ajudaria a parte curta da curva de juros, caso confirmada. No curto-prazo, prefiro manter exposição na curva de juros reais, para ter certeza que o BCB irá embarcar nesta “onda” do mercado. No atual cenário de inflação, vejo a curva curta de juros nominais bem precificada.

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Na Inglaterra, as pesquisas de opinião em torno do Brexit, divulgadas ao longo do final de semana, mostram uma corrida ainda extremamente emparedada, sem que possa dizer com certeza qual o resultado do referendo. Por hora, vemos um momento positivo para o “Leave”, mas ainda longe de uma certeza, como a pesquisa anunciada na sexta-feira a tarde mostrou (55% Leave, 45% Remain). Existem inúmeras questões em torno das pesquisas, o que torna o evento binário e de previsão difícil. É natural supor que o mercado ficará bastante sensível e reativo a qualquer notícia nesta direção, já que a data do referendo está se aproximando (23 de junho). Nos últimos dias, estamos observando um momento mais positivo para o “LEAVE” o que, naturalmente, em meio a um cenário de fragilidade do crescimento global, está gerando uma movimento de aversão a risco.

Na China, o segundo homem mais importante do FMI, em um evento pré agendado no país, deu as declarações mais duras e diretas em torno do problema do mercado de crédito no país que uma autoridade de um organismo internacional já proferiu. Segundo a Bloomberg:

“Corporate debt remains a serious -- and growing -- problem that must be addressed immediately and with a commitment to serious reforms,” David Lipton, the IMF’s first deputy managing director, said in the text of a speech to an economics conference on Saturday in Shenzhen, China. China has made “limited progress” in addressing corporate debt and restructuring, Lipton said. He gave an estimate of total debt at 225 percent of GDP and corporate debt at 145 percent of GDP, “which is very high by any measure.”  “With the rapid increase in credit growth in 2015 and early 2016, and the continued high rates of investment, the problem is growing,” said Lipton, a former U.S. Treasury and White House official. “This is a key fault line in the Chinese economy. It is surely within China’s powers to address this problem. And it is important that China tackles it soon.” In addition to addressing the problem quickly, China must fix balance sheets at companies as well as banks, and improve governance to prevent a new debt bubble, he said. Lipton and other IMF staff members are meeting with officials in China as part of an annual assessment of the nation’s economy.

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