Bebianno, Inflação no Brasil, Crescimento Global e China.
O
momento me parece oportuno para tratar, ou repensar, alguns temas, de curto e
longo-prazo, que estão em voga no cenário atual.
Brasil/Política/Bebianno – O Ministro da Secretária Geral da Presidência, forte apoiador de
Jair Bolsonaro, foi literalmente fritado e, aparentemente, segundo a mídia,
será exonerado de seu cargo. O ruído começou após Bebianno ser acusado pela mídia
de promover “candidatos laranjas” pelo PSL. Vale reforçar que, por ora, são
apenas acusações e notícias na mídia, sem nenhuma investigação formal ou
condenação que se tenha notícia.
Acho
muito difícil tomar partido de qualquer um dos lados e minha intenção neste
fórum nunca foi (ou será) tomar um lado político, mas apenas fazer uma análise
dos fatos e seus desdobramentos para o cenário econômico e os mercados
financeiros.
Acredito
que, talvez, o modo como a situação tenha sido conduzida tenha sido errado, ou
seja, a forma de condução do processo. Contudo, só saberemos se a decisão (de
exonerar o ministro) foi acertada (ou não) a longo-prazo.
Existe
uma linha de raciocínio de que Bebianno era uma figura chave no governo, na ala
política, para as negociações junto ao Congresso. Sua saída seria uma grande
perda ao governo. Outra linha defende que manter uma pessoa acusada (não investigada
formalmente ou condenada, reforço) em seu cargo seria uma fragilidade política
na hora das negociações junto ao congresso.
Por ora, acredito que este
evento seja apenas um ruído de curto-prazo. Ainda não vejo este evento como um
divisor de águas no governo. De qualquer forma, precisaremos estar atentos a
condução política de Bolsonaro e Cia. O risco interno para o país continua a
ser de implementação da agenda de reformas econômicas e a ala política é figura
central nesta agenda.
Brasil/Inflação – Existe
um debate sobre a aparente elevação (muito gradual, diga-se de passagem) da
inflação de serviços. Não há conclusões ou consenso sobre este tema, ainda.
A
inflação corrente continua baixa e abaixo da meta. É verdade que já vemos
sinais de aceleração, gradual e incipiente, da inflação de serviços. Não vemos,
entretanto, sinais de uma aceleração preocupante da inflação.
Precisamos
monitorar o qualitativo da inflação no detalhe. Continuo sendo da teoria de que
a Taxa Selic ficará estável no horizonte relevante de tempo. Ainda vejo como
baixa a probabilidade de uma queda adicional da Taxa Selic. Sigo não gostando
do risco/retorno da parte curta e intermediária da curva de juros. Prefiro
alocações na parte longa da curva de juros reais. A inflação implícita, nos
atuais níveis, pode ser um bom hedge de portfólio.
Internacional/Crescimento – No cenário internacional continuamos a ver dados ruins de
crescimento, em especial na Europa e em partes da Ásia. Nos EUA, já sinais mais
claros de desaceleração da economia, mesmo que ainda em níveis que podem ser
considerados saudáveis.
Continuo
preocupado com a direção da economia global. Ficaria mais tranquilo, ou menos
negativo, se observa-se algum sinal de estabilização do crescimento. Ainda não
há sinais nesta direção.
China/Crédito – Os
dados de crédito de janeiro divulgados na China na sexta-feira mostraram forte
aceleração. Os números mostram um esforço redobrado do governo para estabilizar
a economia. Nos últimos anos já virou regra para os policy makers chineses acelerarem concessões de crédito, estímulos
fiscais e monetárias para estabilizar a economia.
Agora,
o mercado continua acreditando que a China será capaz, uma vez mais, de conter
a desaceleração de sua economia, e por isso, vemos uma melhora do humor global
a risco.
Com
uma dívida/PIB na ordem de 280%, continuo me questionando se a China não está em
um ponto de inflexão que merece uma atenção ainda maior. Não tenho conclusão
sobre isso, mas sigo cauteloso com o cenário estrutural, de longo-prazo, para o
país, mesmo sabendo que no curto-prazo, de maneira cíclica, exista espaço para
estabilização da economia ou dos ativos financeiros mais dependentes da demanda
do país.
Acordo Comercial/China/EUA – As informações entre os avanços nas negociações são bastante
conflitadas. Ao que tudo indica, estamos caminhando para uma extensão do tempo
dado por Trump (começo de março) para um acordo.
Os
ativos de risco apresentaram forte recuperação este ano, em muito puxados pela
expectativa de um acordo entre os dois países. A ausência de um acordo, neste
momento, poderia levar a uma correção de preços, uma realização de lucros.
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