Atividade Fraca, “Crise Política”, Dólar forte e sinais mais positivos da China.


Os ativos de risco tiveram uma quarta-feira mais positiva e estão mantendo esta tendência na manhã de hoje. Novamente, as expectativas de um acordo para o orçamento dos EUA, evitando uma nova paralisação do governo (“shutdown”), e as esperanças de um acordo comercial entre os EUA e a China estão dando sustentação aos mercados financeiros globais.

Na China, as exportações de janeiro apresentaram alta relevante, saindo de uma queda de 9,1% YoY em dezembro para uma alta de 4% YoY no mês passado. O número ajuda a dirimir um pouco os receios de uma desaceleração ainda mais acentuada do crescimento global neste inicio de ano. Contudo, devido as distorções do feriado de Ano Novo Lunar no país, além das questões envolvendo as tarifas, tornam a análise do número ainda um pouco complicada. As importações mantiveram-se em patamar negativo, mostrando certa fragilidade da demanda interna chinesa.

Ontem vimos mais um movimento de dólar forte no mundo, capitaneado por uma inflação nos EUA um pouco mais alta do que as expectativas. Comentei sobre isso ontem mesmo (aqui: https://mercadosglobais.blogspot.com/2019/02/eua-inflacao.html).

O Brasil não ficou de fora deste movimento e vimos o dólar voltar ao nível de 3,75. Acho de certa forma surpreendente o péssimo desempenho de nossa moeda vis-à-vis os movimentos já ocorridos na bolsa e no mercado de juros. Os fluxos de fato mostram que não está havendo entrada de recursos estrangeiros e as apreciações dos ativos locais está totalmente concentrada em alocações dos próprios brasileiros. Tendo a acreditar que em algum momento os fluxos retornarão, mas estou de fato impressionado com esta ausência. Um sinal de alerta pode ser acionado. Mantenho recomendações de alocações no Real apenas via estruturas de opção com perda limitada e alocação baixa para moderada.

Caminhando para o cenário econômico, as vendas no varejo de dezembro apresentaram queda superior as expectativas no Brasil. Vale lembrar que a queda (em torno de 2% no mês) segue um mês de forte alta em novembro. A advento da “Black Friday” nos últimos anos mudou o hábito de consumo do brasileiro. O Natal, que antes era o grande momento de compras, foi deixado para escanteio, e a “Black Friday” acabou tomando o seu lugar como a data mais importante para o consumo local. Esta mudança de habito ainda não é muito bem representada nos métodos estatísticos, o que explica parte da surpresa negativa de ontem.

De qualquer maneira, continuamos em um ambiente de surpresas baixistas para o crescimento do país. Trabalhamos com uma alta do PIB em torno de 2% este ano, mas este número está se tornando mais um teto de crescimento do que uma previsão central. Ainda não vejo motivo para pânico, mas sem dúvida alguma é um vetor para termos atenção especial.

No campo político, o governo Bolsonaro parece passar por sua primeira “crise existencial”. A mídia convencional continua buscando informações que possam comprometer o governo e o partido do atual presidente, com algumas informações que de fato precisam ser melhor endereçadas por Bolsonaro e Cia. Se não bastasse, o entorno do Palácio do Planalto precisa agora administrar uma rixa entre um de seus filhos e um importante Ministro palaciano.

É inegável que existe uma curva de aprendizado para este governo em termos de administração pública, organização política e comunicação. Acho que faz parte do processo de aprendizado de um grupo politico que nunca esteve no poder.

Contudo, passado o otimismo inicial dos investidores locais com as sinalizações deste governo, precisaremos ter sinais concretos de organização e capacidade de avanço da agenda econômica. Caso contrário, ficaremos a mercê do ambiente global. No curto-prazo, estes ruídos podem afetar negativamente a dinâmica de preços, pois os locais me parecem alocados e os estrangeiros não mostram as cartas.

Ainda não acho que seja o momento de alterar a visão estrutural positiva. Contudo, vale adicionar algumas proteções e administrar as posições de maneira ativa, seja via tamanhos ou instrumentos.


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