Brasil, mostra a tua cara! Ajuste fiscal mostra-se de difícil execução.

Os ativos de risco estão abrindo em tom levemente positivo, na ausência de notícias relevantes. Reforço o que comentei na noite de ontem: Na ausência de mudanças substanciais de cenário, ou de ruídos pontuais, o mercado deverá seguir o roteiro do “Goldilocks”. Lembrando, crescimento global saudável, inflação ainda baixa no mundo desenvolvido e condições financeiras frouxas. Isso deve favorecer a busca por ativos de risco. De maneira geral, vejo teses específicas de investimentos, mas pouca visibilidade de grandes tendências. O cenário macro global parece construtivo/positivo, mas existem riscos crescentes, com probabilidades ainda baixas, porém impactos relevantes nos preços dos ativos. No Brasil, é verdade que existem avanços relevantes ocorrendo na economia, e o cenário cíclico parece positivo e sem perspectivas de mudanças substanciais no curto-prazo. Contudo, também vejo preços menos óbvios e, em algumas classes de ativos, uma posição técnica comprometida. Os riscos do cenário também me parecem elevados, mesmo que o curto-prazo dê ares de tranquilidade ao ambiente local.

No Brasil, o governo anunciou na noite de ontem a revisão da meta fiscal. O déficit primário do governo central deverá ficar em R$159bi para 2017 e 2018. Estes números já vinham sendo ventilados e, aparentemente, já haviam sido digeridos pelo mercado. Já vinha comentando neste fórum que via a revisão da meta de 2018 com preocupação, por mostrar as elevadas dificuldades do país em promover ajustes cíclicos em problemas estruturais. De qualquer maneira, os R$159, por mais que eu veja como negativos, já havia sido assimilado pelo mercado.

O que mais me surpreendeu na revisão de ontem foi a alteração das contas públicas de 2019 e 2020. O déficit de 2019 foi revisado de R$65bi para R$139bi e 2020 de superávit de R$10bi para déficit de R$65bi. As medidas de ajuste adicional apresentadas são bastante positivas e mostram o enorme esforço que a equipe econômica está exercendo para ajustar as contas públicas nacionais. Contudo, mostram o tamanho do problema existente, e como medidas paliativas estão se tornando escassas e menos potentes. Por exemplo, o aumento da contribuição social do servidor público, de 11% para 14%, uma medida de bastante apelo popular e apela junto à mídia, só irá arrecadar cerca de R$2bi. O que estou dizendo aqui é que existe um esforço positivo de ajuste, mas um esforço por si só não é suficiente para resolver os problemas estruturais da economia.

Vejo duas saídas para este problema. Um esforço conjunto da classe política para promover reformas estruturantes, como a Reforma da Previdência, ou um surpresas muito grande de crescimento nos próximos anos, que ajudará a arrecadação de maneira surpreendente.

Em suma, achei as revisões de 2018, 2019 e 2020 extremamente preocupantes e negativas. Tenho enorme dúvida se o mercado continuará leniente, dando o benefício da dúvida a este governo e a este Congresso ou se, em algum momento, irá abandonar este “namoro”. Na dúvida, mantenho recomendações de neutralidade, com exposição a parte curta da curva de juros, majoritariamente via estruturas de opção e comprado em inflação implícita na parte intermediária da curva. Recentemente, adicionamos uma pequena call/spread de USDBRL taticamente.

A agencia de rating S&P manteve o Rating e Outlook do país estáveis na noite de ontem, mas tirou a nota de crédito de “credit watch”, ou seja, não veem necessidade de revisões da nota no curtíssimo-prazo (3 meses). Acho desnecessário comentar uma medida como esta logo após as revisões apresentadas pelo governo e o quanto isso afeta a credibilidade, já abalada desde a crise de 2008, nas agencias globais de rating.


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