Águas turvas, mas sinais de exagero se acumulam.

O final de semana foi de poucas novidades relevantes ao cenário, mas alguns eventos pontuais que merecem ser mencionados. Neste momento, com a liquidez ainda prejudicada, os sinais ainda são de aversão a risco, com o dólar forte contra EM e High Yields, porém mais fraco contra EUR, JPY e CHF.

A segunda-feira será de feriado nos EUA, com apenas alguns mercados futuros operando parte do dia e com a liquidez reduzida. Como comentei neste sábado: Acredito que pelo menos um dos seguintes eventos precisam ocorrer para uma estabilização do humor global a risco: (1) Sinais de estabilização da economia global, (2) Reação mais explícita dos policy makers, (3) Níveis de preço mais atrativos, (4) Uma certeza mais clara da real situação da econômica chinesa e quais serão suas políticas cambial, monetária e fiscal daqui para frente.
ECB será o primeiro banco central relevante que terá a oportunidade de sinalizar sua postura em meio a uma crise mais aguda do ponto de vista do aperto das condições financeiras, com a reunião de política monetária agendada para está semana. O mercado não espera nenhuma atuação nesta reunião, especialmente diante dos últimos anúncios e da sinalização da Ata da última reunião, divulgada na semana passada. Eu vejo espaço para um discurso mais incisivo e agressivo por parte de Draghi frente a surpresa negativa de inflação e diante do aperto das condições financeiras.

No Oriente Médio, após os EUA anunciaram o fim de grande parte do embargo sobre os produtos do país, as bolsas da região tiveram um dia de rápida e acentuada queda.

Na China, segundo a ML: The big news over the weekend was the PBOC is preparing to raise the reserve requirement ratio of CNH deposits placed onshore by CNH clearing banks and CNH deposits placed in onshore agent banks by offshore participating banks from Jan. 25. This is its latest bid to stem speculation in the currency . Potential knee-jerk impact could be lower $CNH spot and higher CNH forward points (and forward/forwards).In the rates space, this announcement could see higher onshore swaps, higher CNY bond yields, higher CNH CCS and higher dim sum bond yields. Market participants suspect the planned reserve increase is intended to soak up additional liquidity in the offshore yuan, or CNH, market as the PBOC tries to stem speculation of further depreciation in the currency. 

No Brasil, gostaria de reforçar minha visão de que os sinais econômicos continuam mostrando deterioração adicional da economia. No final da semana passada, observamos mais alguns sinais nesta direção. Segundo nossa Área Econômica:

>> A taxa de desemprego da PNAD veio em linha com o esperado (9%) e deve continuar em tendência de alta nos próximos meses em função do forte  quadro de contração que estamos; A força de trabalho tem crescido fortemente na PNAD (+2,25%a/a) e com isso a taxa de participação tem subido rapidamente (61,6% em outubro). Uma boa parte do aumento do desemprego da PNAD é contada pelo avanço da taxa de participação, ainda que a população ocupada esteja encolhendo (-0,3%a/a) e exercendo pressão altista no desemprego; Também há uma precarização nas condições de trabalho: empregados com carteira perdendo participação e o número de conta própria subindo rapidamente; O rendimento nominal tem sido relativamente forte na PNAD na comparação ano/ano (+8,4%a/a), mas não o suficiente para compensar a inflação. Entretanto, a leitura mensal anualizada mostra o rendimento nominal da PNAD subindo apenas 3,9%; Massa salarial real contrai 1,2%a/a, mais por conta do rendimento real a/a do que a população ocupada a/a.

IBC-Br @ -0,52% (vs. BBG: -0,90%) e @ -6,14%a/a (vs. -6,75%a/a), com alguma revisão para cima na série original nos meses anteriores (o que puxaria a proxy do PIB algo como +0,1pp na taxa ano/ano). Com esse resultado, o downside risk para a nossa projeção de PIB no quarto trimestre (de -1,5%t/t dessaz e -5,9%a/a) reduziu consideravelmente. - O cenário segue de forte contração do PIB em 2015 (-3,8%) e em 2016 (-3,5%, com downside);Demanda doméstica segue contraindo mais que o PIB no ano/ano; A leitura ano/ano do IBC-Br foi melhor que as pesquisa setoriais (PIM, PMC, PMS) sugeriam; Hiato continua ficando mais negativo.

No que tange a coleta de inflação, Deterioração na margem. Upside risk se avoluma para janeiro…


Eu passei o final da semana passada visitando alguns clientes pelo Brasil. De maneira geral, o ano começou da mesma maneira que terminou 2015: Pouquíssima propensão a adicionar risco nas carteiras, com as alocações em RV sendo reduzidas ainda mais, muito interesse pelos papéis atrelados à inflação (NTNB), especialmente na barriga da curva e alocações estruturais em dólar relativamente estáticas.

No cenário econômico global, a narrativa dos mercados continuou a mesma. Os ativos de riscos chegaram a ameaçar uma recuperação/estabilização na quinta-feira, mas acabaram sendo massacrados na sexta-feira. A semana se encerrou com os mercados nos móveis mais deprimidos em muito tempo. O movimento foi um clássico risk-off, com bolsas e commodities em queda, dólar forte contra EM e High Yields, mas fraco contra G3, fechamento de taxas de juros nos países desenvolvidos e forte pressão sobre os ativos emergentes.

O que começou como um receio em torno da saúde da economia da China se espalhou para um medo mais generalizado em torno da economia mundial. Os dados recentes apontam para uma desaceleração mais acentuada dos EUA, com o PIB do 4Q podendo ser negativo ou próximo de zero. A Europa ainda mostra um crescimento estável, em torno de 1,5%, mas é a região mais afetada por uma eventual crise mais aguda na Ásia e na China. Os países emergentes continuam em situação delicada, devido a fundamentos frágeis e a total ausência de estabilização de suas economias.

Na minha visão, a desaceleração dos EUA é cíclica, e deverá ser revertida nos próximos meses. A Europa ainda parece bem posicionada para uma recuperação. Contudo, não há dúvidas de que o ajuste da Ásia, nos EM e na China, em especial, levará mais tempo do que o imaginado anteriormente. Podemos esperar uma recuperação em "L" dessas economias, o que deverá causar receios e volatilidade nos mercados.

De maneira geral, acho que pode estar havendo algum exagero negativo neste momento, mas precisamos respeitar a dinâmica dos mercados, pois estão, desde o começo do ano, passando uma importante mensagem em relação à economia global.

Acredito que pelo menos um dos seguintes eventos precisam ocorrer para uma estabilização do humor global a risco: (1) Sinais de estabilização da economia global, (2) Reação mais explícita dos policy makers, (3) Níveis de preço mais atrativos, (4) Uma certeza mais clara da real situação da econômica chinesa e quais serão suas políticas cambial, monetária e fiscal daqui para frente.

Brasil continua a mercê do cenário externo, em meio a um vácuo de notícias políticas. Na área econômica, continuo vendo deterioração adicional do cenário com eventos que me preocupam sobremaneira. Dilma sinalizou que o governo poderá capitalizar a Petrobras, o que deveria piorar ainda mais a percepção da solvência soberana. O governo continua insistindo no aumento da oferta de crédito, em meio a ausência absoluta de demanda. O setor corporativo vive um grave credit crunch, com um montante relevante de dívida local e externa vencendo neste primeiro trimestre do ano.

BRL ainda é um grande destaque positivo de performance entre os seus pares. A teoria de uma balança comercial mais forte, fluxos para M&A e redução da posição comprada dos estrangeiros são alguns dos argumentos para este movimento relativo. Na minha visão, mais cedo ou mais tarde a moeda terá que se ajustar a nova realidade do país e do mundo.

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