Copom em Foco.

O Copom acabou de anunciar a decisão de manter a taxa Selic estável. O mercado precificava uma alta de 25bps. Como comentei mais cedo:

A reunião do Copom de hoje será uma das mais interessantes dos últimos tempos. O mercado precifica hoje uma alta de 25bps nesta reunião. A curva deixou de precificar um ciclo relativamente concentrado de alta de juros nas próximas 4-5 reuniões do Copom para precificar altas mais espaçadas e concentrada no ano de 2017. Será extremamente importante a comunicação do BCB (se é que ela vale de alguma coisa após os eventos recentes). Gostaria de entender a “função de reação” do BCB no atual estágio do ciclo econômico. Em 2011, ele adotou postura frouxa, promovendo um “cavalo de pau” nos juros. Desde fins de 2014, o BCB adotou postura mais dura, promovendo um ciclo relevante de alta de juros. Resta a dúvida de como o BCB irá reagir diante dos desafios locais e externos. Para isso, a sinalização do comunicado de hoje será fundamental.

Segundo o comunicado do Copom (friso meu):

"Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, econsiderando a elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 p.p.
Votaram pela manutenção da taxa Selic em 14,25% a.a. os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Luiz Edson Feltrim e Otávio Ribeiro Damaso. Votaram pela elevação da taxa Selic para 14,75% a.a. os seguintes membros do Comitê: Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon."
O comunicado dá poucas sinalizações em torno do futuro da política monetária. Teremos que esperar a Ata da reunião para elucidar os próximos passos do BCB. De qualquer maneira, fica cada vez mais claro que o comitê começa a se mostrar menos coeso, com decisões divididas podendo se tornar a norma, e não mais casos isolados, como em outras bancos centrais ao redor do mundo (mal comparando, o Fed ficou anos com diretores votando contrariamente as decisões do comitê).

Assim, não podemos descartar que o ciclo de alta de juros tenha se encerrado, nem cenário de novas altas de juros ou de quedas de juros no futuro não muito distante.

Olhando de hoje, acredito que a curva de juros irá fechar entre 30 e 50bps na parte curta (até o Jan17), com um “bull steepening” nos demais vértices. O mercado trabalhará com um ciclo de alto muito mais moderado de agora em diante. Espero um desempenho relativo mais negativo do BRL em relação a seus pares, e acredito que a moeda poderá testar os piores níveis recentes em relação ao USD (4,25/4,30).

A decisão de manter os juros é totalmente compreensível diante dos riscos locais e externos, como bem apontou o BCB. Contudo, a conduta do processo de sinalização (e de comunicação) foi muito ruim. O BCB vinha sinalizando (Ata, RI e discursos oficiais) a necessidade de ajuste da política monetária diante da inflação galopante e das expectativas desancoradas. No começo desta semana, elevara-se as pressões políticas sobre o BCB, de acordo com a imprensa. Na terça-feira, a mídia reporta uma reunião, não agendada, entre Dilma e Tombini. No mesmo dia, Tombini solta uma nota a  imprensa, totalmente não usual, sinalizando para a possibilidade de uma mudança na postura do BCB. E hoje a decisão de manutenção dos juros é anunciada. Cada um pode tirar suas próprias conclusões...

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