Brasil em foco.

A Ata do Copom foi percebida como uma Ata dovish pelo mercado. Grande parte dos economistas de sell-side alteraram as suas expectativas para manutenção da taxa Selic ao longo deste ano. Em alguns casos, já existem casas esperando cortes de juros como o próximo passo de política monetária deste BCB.

Os mercados locais reagiram de acordo, com uma pequena questão. A curva de juros nominais apresentou forte fechamento de taxas, em um pequeno movimento de “bull steepening”. A curva deixou de precificar um ciclo adicional de alta de juros superior a 250bps, para um ciclo módico em torno de 50bps (basicamente um pequeno prêmio de risco).

A curva de juros reais, contudo, ficou praticamente estável, acarretando em uma forte queda das inflações implícitas. A sinalização da mídia em torno do potencial ajuste das bandeiras tarifárias de energia podem explicar parte do movimento.

Neste exato momento, estou reavaliando meu cenário, com questões ainda indefinidas na minha cabeça. Por um lado, vejo uma inflação corrente ainda elevada, expectativas de inflação desancoradas, um quadro fiscal sem perspectivas de ajuste, e pouco prêmio de risco na curva de juros (sem falar dos sinais inequívocos de leve guinada para a nova matriz econômica). Por outro lado, o cenário externo me preocupa, as lembranças de 2011 ainda são muito frescas na minha cabeça, a intenção do BCB parece clara, e vejo sinais de que pode haver “ajuda do governo” no controle da inflação de administrados. A curva de juros tem pouco prêmio de alta, mas e se o cenário for mesmo de queda de juros no final deste ano? Enfim, hoje tenho muito mais dúvidas do que certezas, o que me mantem longe de posições direcionais e estruturais neste mercado.

No momento em que termino este comentário, fontes afirmam que Nelson Barbosa está anunciando um pacote de R$83b de estímulo ao crédito. Como tenho insistido ao longo da semana, a “saga” deste pacote se parece muito com a “saga” do déficit fiscal primário para 2015. O governo ventila na mídia um número ruim. Conforme o mercado vai se acostumando com o número, o déficit (ou o tamanho do pacote) vai sendo aumentado. O pacote de estimulo começou com R$50b, passou para R$60b, depois R$70b e, agora, é anunciado em R$83b.

Eu não vejo este caminho com bons olhos. Este modelo já foi utilizado no passado (crise de 2008), sem sucesso, e com consequências desastrosas para a economia no longo-prazo. Confirmado o anuncio, seria mais um passo na direção de uma política econômica mais heterodoxa desde a mudança do ministro da fazenda. Os ajustes estão sendo feitos de maneira gradual e suave, sem uma guinada brusca à esquerda. Contudo, é inegável o caminho que o governo está trilhando. Na minha visão, um caminho errado e extremamente perigoso.


Os ativos externos estão passando por um justo período de consolidação, após um começo de ano de elevada volatilidade. Ainda vejo riscos elevados provenientes da China, mas o país pode ser capaz de “empurrar com a barriga” problemas que, inevitavelmente, irão reaparecer no cenário. Meu viés ainda é negativo, mas tenho em mente que um período de consolidação/ estabilização não pode ser descartado no curto-prazo.

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