O "Consenso" Negativo de Davos
Os ativos de risco estão abrindo a semana com leve viés negativo, devolvendo pequena parte do rally observado na sexta-feira. A China manteve o fixing do CNY relativamente estável, no que parece ser uma nova postura diante dos ruídos criados após a rodada de depreciação observada no inicio do ano, o que pode vir a ajudar a dar algum suporte aos mercados no curto-prazo. Estruturalmente, contudo, parece claro que os fortes fluxos de saída de capitais do país manterão uma pressão para a depreciação da moeda chinesa ainda por algum tempo.
O final de semana foi de news flow esvaziado, com a mídia apenas repercutindo o Fórum Econômico Mundial em Davos. Os sinais emitidos pelos principais lideres mundiais foi um tanto quanto negativa para o cenário econômico e para mercados financeiros globais. Acredito que podemos ver estes sinais de duas maneiras: A primeira, é que tecnicamente os mercados ficaram muito negativos com os ativos de risco no curto-prazo. A segunda, é que o racional dos investidores, neste momento, é "sell the rallies". Assim, a despeito de melhoras pontuais (“rellief rallies ou rebounds”), apenas a divulgação de dados econômicos que mostrem um mundo ainda saudável, será capaz de reverter este mau humor dos mercados financeiros globais. Impressiona-me como os investidores perderam a confiança na capacidade dos bancos centrais ao redor do mundo em estabilizar a economia mundial.
Para finalizar este tema, a proposta do Primeiro Ministro do Japão, para que a China implemente controle de capitais, mostra o teor e a gravidade com que os lideres mundiais estão vendo o cenário para a economia chinesa e seus impactos para o resto do mundo.
No Brasil, a pesquisa Focus divulgada pelo BCB esta manhã já mostrou uma forte deterioração das expectativas de inflação, com o IPCA para 2016 passando de 7,00% para 7,23% e para 2017 saindo de 5,40% para 5,65%. A revisão é uma clara reação do mercado a maneira como a decisão do Copom da semana passada foi conduzida. O BCB precisará, agora, de uma nova estratégia para conter a escalada das expectativas. Com sua credibilidade abalada, será necessário uma Ata do Copom bastante dura para, no mínimo, desfazer o mal entendido criado com a decisão de quarta-feira passada.
No final de semana, a mídia deu destaque a uma potencial investigação mais direta sobre o ex-presidente Lula. Em outra matéria veiculada na mídia, o artigo dá a entender que o retorno do ano legislativo pode marcar uma nova investida da oposição contra o governo, mesmo com o impeachment mais distante, mas com o objetivo de minar a imagem do governo e do PT. Acredito que o impacto imediato é a paralisia do governo, que manterá a estratégia de se defender das acusações, mas sem a força para implementar qualquer ajuste fiscal ou econômico. O impeachment, por outro lado, também parece distante. O cenário base, assim, será de "mais do mesmo", ou seja, um governo fragilizado e paralisado o que, na minha visão, é o pior dos mundos para o país.
Na China, a mídia internacional teve acesso as minutas da última reunião do PBoC, onde foi decidido uma vultuosa injeção de liquidez no mercado local, ocorrido na semana passada. As minutas mostram um banco central, de certa forma, meio atônito com os últimos eventos ocorridos no país, e sem uma convicção grande nos instrumentos a serem usados para lidar com as pressões que atingem a economia neste momento. A política monetária chinesa, ao contrário dos países desenvolvidos, segue uma dinâmica em que as decisões muitas vezes são tomadas sem aviso prévio. Não há uma agenda oficial de reunião de política monetária, e nem as minutas são divulgadas ao mercado de maneira explícita, como aparentemente ocorreu desta vez.
Na Alemanha, o IFO recuou de 108,6 para 107,3 pontos, abaixo das expectativas de 108,4 pontos em janeiro. A queda é totalmente compreensível diante de toda turbulência mundial por que passa o mundo neste momento. Por hora, o indicador continua em patamar saudável, consistente com um crescimento em torno de 1,5%-2% do país.
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