Dia de estabilização.

Os ativos de risco estão apresentando recuperação, após uma alta das bolsas na China depois de um fixing do CNY mais baixo (apreciado) do que no dia anterior. A estabilização ainda me parece frágil e incipiente, mas é razoável após a forte deterioração observada nestes primeiros dia de 2016. Eu mantenho minha visão de que a direção e a dinâmica do CNY será o elemento fundamental para o humor dos ativos de risco no curto-prazo. Os dados econômicos de EUA e Europa continuam saudáveis, deixando os riscos de contágio econômico e financeiro por conta dos eventos que se desenvolvem na Ásia e na China, em especial.

A agenda do dia terá como principal destaque os dados de mercado de trabalho de dezembro nos EUA, com importância redobrada sobre o Payroll, UR (Unemployment Rate) e AHE (Average Hourly Earnings). Uma combinação de números fracos pode vir a afetar negativamente o humor global a risc, já que crescerá o receio em torno do crescimento global. Números em torno das expectatativas podem ser vistos como “goldilock”, ou seja, positivos. Não alteram o cenário de um crescimento estável, e nem alteram o cenário para a política monetária nos EUA. Dados muito fortes, contudo, podem levar a mais uma rodada de reprecificação da curva de juros, promovendo forte alta de taxas, dando suporte ao dólar e acabando por afetar negativamente o humor para as bolsas e commodities.

No Brasil, o destaque da agenda ficará por conta do IPCA. Nosso viés é para um número acima de 1,1% MoM. Na ausência de notícias no campo político, e com o cenário econômico negativo porém sem novidades relevantes, os ativos locais devem seguir o humor global a risco.

A mídia vem dando atenção as declarações, aparentemente ortodoxas dadas por Dilma ontem, em café da manhã com jornalistas. Na minha visão, contudo, o artigo de Claudia Safatle no Valor de hoje (reproduzido abaixo) resume bem o cenário. Fora isso, a Operação Lava-Jato continua a todo o vapor e novas denúncias começam a vazar para a mídia, novamente afetando o entorno do Palácio do Planalto. Este cenário deverá manter Dilma bastante fragilizada politicamente. Segundo Claudia Safatle:


A ordem no governo é estabilizar o crescimento. Fazê­lo parar de cair para, em um segundo momento, conseguir que a atividade econômica volte a crescer. Simultaneamente a essa tarefa, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, precisa se livrar da marca de "pai da nova matriz econômica" e conquistar credibilidade junto ao mercado. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, nessa nova etapa do governo Dilma Rousseff, também não pode perder a margem de credibilidade que conquistou nos últimos tempos. É assim, trilhando caminhos pantanosos que ambos, Barbosa e Tombini, vão buscar tirar a economia brasileira do fundo do poço em que se encontra. A troca de Joaquim Levy por Nelson Barbosa significa mudança, mas esta deverá ser uma "guinada silenciosa", na visão de um atento observador da política econômica. Silenciosa porque nada será feito de forma escancarada nem o governo vai se aventurar em medidas tresloucadas. A engenharia montada para o pagamento das "pedaladas", que levou o Tesouro Nacional a irrigar com R$ 55,8 bilhões o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa e o FGTS é um modelo que pode inspirar novas decisões. Algo que não seja nem tanto ao mar nem tanto à terra. A operação de "despedalada" aparentemente não tem impacto fiscal futuro. Mas se os recursos forem usados para reforçar a carteira de empréstimos dos bancos públicos, como indica o governo, significará uma conta de subsídios à frente. O BNDES, por exemplo, emprestará com base na TJLP, taxa de juros de longo prazo de 7,5% ao ano.

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