China
Não há nada substancialmente novo para adicionar hoje, além de tudo
o que já foi comentado ao longo da semana. Os ativos de risco tiveram um dia de
total aversão a risco, apenas dando continuidade ao movimento observado nos
últimos dias. Uma tendência de depreciação do CNY, as vésperas da primeira alta
de juros nos EUA depois de cerca de uma década, em meio ao surgimento de novos
ruídos em alguns países emergentes, estão sendo os principais pilares para este
movimento.
Na China, o PBoC
divulgou alguns papers que, a grosso modo,
sinalizam para um sistema cambial mais livre, em que a moeda irá ser
determinada por uma cesta de outras moedas, que agora poderá passar a ser
divulgada pelo PBoC. Ainda é cedo para afirmar qual será o real impacto desta
medida, mas uma moeda mais livre pode implicar em novas rodadas de depreciação
da moeda, outflows do país, pressão
nas moedas EM e ser negativo para o humor global a risco.
No Brasil, a
discussão em torno da meta fiscal de 2016 está a pleno vapor. De um lado, a
Fazenda buscando manter a meta de 0,7%. De outro lado, o Planejamento em busca
de uma meta mais flexível. Os eventos recentes na África do Sul são um exemplo
de como pode ser perigoso abandonar uma política econômica ortodoxas quando se
está com os fundamentos fragilizados, em um cenário externo conturbado.
Na África do Sul, o
presidente tentou acalmar o mercado reafirmando o compromisso fisca. Por hora,
contudo, sua sinalização foi insuficiente para desfazer a trágica mudança do
Ministro da Fazenda realizada esta semana.
Nos EUA, o “redemption freeze” promovido por um
reconhecido fundo de crédito do país apenas adicionou ruído a um mercado já
fragilizado. As vendas no varejo de novembro superaram as expectativas do
mercado, o que acabou levando a pequenas revisões altistas para os trackings do PIB do 4Q. O PPI também
mostrou sinais menos baixistas para a inflação, enquanto o Michigan Confidence
apresentou leve alta na primeira prévia de dezembro. Nenhum dos indicadores
altera a perspectiva para um crescimento em torno de 2% neste final de ano e
não muda o cenário para a alta de juros por parte do Fed na semana que vem.
Aproveitei a sexta-feira para balancear ainda mais os
portfólios, reduzindo as posições compradas em USD, já que as estruturas de
opção ganharam delta nos últimos dias. Continuo buscando “opcionalidades” de
alta na bolsa brasileira, para caso o impeachment volte a pauta de discussão.
Além disso, a curva curta de juros, já precificando praticamente 4 altas de
60bps nas próximas reuniões do Copom, merece atenção especial. Ainda não
acredito que seja o momento de uma alocação agressiva neste ativo, mas vale
ficar atento para eventuais posições oportunistas aplicadas.
Vale lembrar que os movimentos de reprecificação dos ativos
emergentes tem ocorrido em curtos e concentrados espaços de tempo. O mercado
passa por reprecificações discricionárias. Depois passa por um período de
acomodação até que uma nova rodada de reprecificação, na ausência de reformas
estruturais, ocorra. Parece que estamos no meio de mais uma dessas rodadas de
reprecificação. Cabe realizar até onde este ajuste irá no curto-prazo, pois
será seguido por um período de realização de lucros/consolidação.
Estruturalmente, não alterei em nada minha visão. O período de
juros zero nos EUA chegou ao fim, a China crescerá estruturalmente menos do que
no passado e os países emergentes ainda precisam apresentar reformas
estruturais que garantam uma melhora sustentável do crescimento de suas
economias.
Minha visão estrutural em relação aos mercados permanece inalterada.
Não vejo valor nas bolsas dos EUA nos atuais níveis, frente as inúmeras
incertezas de cenário. Devemos ver uma volatilidade mais alta em torno dos
atuais níveis (1950-2050), com as oportunidades sendo criadas em setores
específicos. Acredito que o dólar ainda tenha espaço para mostrar bom
desempenho contra as moedas emergentes e dependentes de commodities, e vejo o
atual equilíbrio dos ativos no Brasil como um “equilíbrio instável”. Acredito
que observamos uma deterioração adicional dos fundamentos econômicos
(crescimento, inflação, fiscal e etc) nas últimas semanas, que não estão sendo
devidamente precificados nos ativos locais. O
aumento expressivo da probabilidade do impeachment adiciona um cenário mais
binário para os ativos do Brasil, o que requer uma maior cautela na
estruturação dos portfólios.
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