Risk On!

O terça-feira foi um tanto quanto interessante. O dia foi marcado por um movimento global de “risk-on”, liderado por uma recuperação do mercado de crédito nos EUA. Neste momento, o HYG e JNK (ambos ETF e HY Bonds nas bolsas dos EUA) sobem mais de 1%, o que trouxe alívio as bolsas ao redor do mundo. O petróleo manteve a trajetória de alta verificada ontem, e opera em alta de 4% neste momento. O movimento positivo ao redor do mundo ajudou a dar suporte as taxas de juros nos EUA, as vésperas da reunião do FOMC. O dólar ficou mais forte contra G10, porém mais fraco como EM.

O terça-feira foi o primeiro dia de alívio dos mercados após uma rodada rápida e acentuada de deterioração. Me parece cedo para afirmar que o pior tenha ficado para traz, mas os sinais de estabilização hoje são animadores. Por hora, contudo, a dinâmica dos ativos de risco me parece mais de um short squeeze pontual do que uma estabilização definitiva.

Brasil – O destaque do dia ficou por conta de mais uma fase da Operação Lava-Jato. Desta vez, o foco ficou por conta de mandatos de busca a apreensão, em sua maioria, em escritórios e residências de pessoas filiadas, em mandato ou ligadas ao PMDB. A operação de hoje adiciona mais uma pitada de complexidade a um cenário político já conturbado. Se, por um lado, enfraquece a vertente do PMDB que é a favor do impeachment do atual governo, por outro lado, adiciona insatisfação naquela vertente que, até o momento, vinha dando apoio ao governo Dilma. Acredito que a probabilidade de um desembarque definitivo do PMDB do governo tenha se elevado após os eventos recentes.

Em discurso no Congresso, Alexandre Tombini, Presidente do BCB, manteve a sinalização de que pretende ajustar as taxas de juros com o intuito de levar a inflação de volta a meta. Contudo, uma pequena mudança em seu discurso pode ser interpretada como um pouco mais dovish. Na nossa intepretação, Tombini buscou ajustar as expectativas em torno do ciclo total de juros que será necessário para conter a escalada das expectativas da inflação:

>> Discurso do Tombini no dia 10 de dezembro
Nesse contexto, independentemente do contorno das demais políticas, o Banco Central adotará as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação, de modo a trazer a inflação o mais próximo possível do centro da meta, em 2016, circunscrevendo-a aos limites de tolerância estabelecidos pelo CMN, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017.
>> Discurso do Tombini no dia 15 de dezembro
Nesse contexto desafiador, independentemente do contorno das demais políticas, o Banco Central adotará as medidas necessárias para assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação em 2016, circunscrevendo a inflação aos limites de tolerância estabelecidos pelo CMN, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017.

De acordo com mídia, fontes afirmam que a meta de superávit primário para 2016 será menor que 0,7%. Os rumores mais recentes falam em um superávit próxima a 0,1%. Na minha visão, se isto for confirmado, as chances de Joaquim Levy deixar a pasta da Fazenda se elevam consideravelmente. A perda do grau de investimento por mais uma agência de classificação de risco também deve ocorrer mais cedo do que tarde. Os ativos locais deveria reagir negativamente a esta confirmação.

EUA – O Core CPI de novembro apresentou alta de 0,2% MoM e 2% YoY. Dentro das expectativas do mercado. O Empire Manufacturing saiu de -10,74 para -4,59 em dezembro, acima das expectativas. O NAHB Housing Market Index caiu de 62 para 61 pontos em dezembro, abaixo das expectativas de 63 pontos. Nenhum dos números de hoje alteram as expectativas para a reunião do FOMC de amanhã, assim como não mudam o cenário para um crescimento estável em torno de 2,0%-2,5% nos próximos anos e uma inflação gradualmente altista.

Europa – Na Alemanha, o ZEW – um dos principais indicadores de confiança de toda a região, subiu de 54,4 para 55,0 pontos em dezembro, acima das expectativas do mercado. O número mostra um cenário de crescimento ainda saudável na Europa.


Mercados – Mantenho minha visão recente. Eu vejo um cenário nebuloso pela frente, o que justifica posições menores e mais balanceadas. Os índices de bolsa dos EUA e Europa me parecem mais ajustados nos atuais níveis, mas existe um risco imensurável no mercado de US HY hoje que é de difícil previsão. Continuo vendo uma tendência de alta do dólar no mundo, mas precisamos admitir que uma parte relevante do movimento já tenha ocorrido. É natural que os movimentos se tornem mais erráticos e voláteis (vide o ZAR nos últimos dias). As commodities podem ser incluídas em um cenário parecido com o dólar. Não podemos descartar movimento pontuais, porém rápidos e acentuados, de correção nesta classe de ativos, a despeito da manutenção de uma tendência baixista. Começo a ver valor na parte curta da curva de juros no Brasil, mas a ausência de um ajuste fiscal crível pode levar o mercado a precificar altas muito além daquelas já embutidas nos vértices mais curtos da curva nominal de juros. Ainda gosto de carregar posições compradas em NTNBs curtas.

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