China, Brasil e EUA

Gostaria de fazer uma breve reflexão de alguns eventos que vamos precisar digerir neste final de semana.

China – Os números de atividade econômica de novembro, no país, divulgados nesta madrugada, ficaram acima das expectativas do mercado, mostrando sinais claros, mesmo que incipientes, de recuperação do crescimento. Ainda é cedo para afirmarmos que o pior tenha ficado para trás no que diz respeito a economia do país, mas crescem as chances de estarmos passando por um momento de recuperação cíclica do crescimento chinês.

Diante da forte pressão que sofreram os ativos dependentes da demanda da China nos últimos meses e, especialmente, nos últimos dias, é natural esperar algum movimento de recuperação dessas classes de ativos. Como a posição técnica do mercado nesta direção me parece bastante negativa (Short/UW Commodities e EM, por exemplo) não podemos descartar movimentos pontuais, rápidos e acentuados, de recuperação desses ativos, o famoso “short squeeze”. Contudo, esse movimento podem vir a ser compensando pela incerteza em relação ao futuro do CNY e aos novos ruídos provenientes do mercado de crédito nos EUA.

Brasil – O debate em torno da meta fiscal de 2016 continua a todo vapor. Dilma encontra-se em uma situação delicada em torno deste tema. De um lado, Joaquim Levy, o mercado financeiro e as agências de classificação de risco, clamam pela manutenção da meta de superávit fiscal de 0,7%. Por outro lado, Nelson Barbosa e, principalmente, sua base de apoio no Congresso, fazem pressão para uma meta mais moderada (ou flexível) diante do cenário pífio de crescimento. Acredito que abandonar a meta de 0,7% seria extremamente negativo para o país e para os ativos locais. O exemplo recente do que ocorreu na África do Sul, que alterou seu ministro da fazenda ortodoxo, por um nome menos conhecido pelo mercado, levou a uma depreciação de cerca de 10% da moeda local, com forte abertura de taxa de juros e queda da bolsa, em cerca de uma semana.

O cerco a pessoas próximas ao Planalto na Operação Lava-Jato e, agora, na Operação Zelotes, promete enfraquecer ainda mais a imagem do governo nos próximos dias. Lula já foi oficialmente intimado a depor em torno de MPs que favoreceram setores específicos da economia. Em resposta a mídia, disse que as MPs foram assinadas por Dilma. Delcídio do Amaral continua preso. Novos empresários ligados a empreiteiras foram presos na sexta-feira em investigações de desvios de recursos, desta vez ligados a transposição do Rio São Francisco. Este tipo de mídia tende a colocar o governo em situação ainda mais delicada perante a opinião pública.

Neste ambiente, será fundamental medir o apoio popular nas manifestações agendadas para amanhã, em todo país. Confesso que não estou vendo grandes movimentações, na mesma magnitude daquelas vivenciadas meses atrás. O apoio popular é fundamental para que o Congresso seja fortalecido no apoio de um eventual processo de impeachment.

EUA – As bolsas do país fecharam nos lows na sexta-feira. Os problemas no mercadod e crédito parecem estar se aprofundando ou, no mínimo, ganhando atenção especial da mídia. Nos atuais níveis de preço das bolsas, do USD e dos spreads de crédito, já houve um importante aperto das condições financeiras no país. Acredito que estes movimentos ainda não são capazes de alterar a perspectiva de alta de juros na reunião do FOMC da semana que vem. Todavia, caso estes movimentos de acentuem nos próximos dias, não podemos descartar uma mudança de dinâmica da política monetária por parte do Fed. Não sou especialista nesta classe de ativo e estou acompanhando o cenário como observador distante, mas parece que teremos um mar revolto pela frente no que tange esta classe de ativos em um mundo onde os juros dos EUA não serão mais zero.

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