Ajuste de posições no USD.

A queda de 50,1 para 48,6 pontos do ISM Manufacturing de novembro nos EUA, abaixo das expectativas de 50,5, e atingindo o menor patamar desde 2009, levou a um movimento de queda do dólar no mundo, ajudado por um quadro técnico que vinha se deteriorando nas últimas semanas, com o acumulo de posições compradas na moeda norte americana.

O número surpreende pela magnitude da queda nos últimos meses, se tornando quase que uma tendência de enfraquecimento do setor. Contudo, vale lembrar que o setor industrial representa hoje uma parcela pequena da economia e, mesmo fragilizado por um dólar forte e por uma economia global fraca, o setor de serviços tem dado conta de manter o crescimento total da economia estável, em torno de 2,0%-2,5%.

O número não altera a posição do Fed em relação a política monetária de curto-prazo, mas certamente deveria manter o processo de alta de juros extremamente gradual. Eu vejo a correção do dólar no mundo como um ajuste de posição e preços. Obviamente, parece que precisaremos de novo ímpeto para uma nova rodada de fortalecimento da moeda norte americana, mas ainda trabalho com um cenário estrutural de dólar mais forte no mundo, pontuado por momentos de correções como o atual.

No Brasil, os ativos locais operaram com um olho no cenário externo, descrito acima, e digerindo a divulgação do PIB do 3Q. O PIB apresentou uma queda de 1,7% QoQ, acima das expectativas de queda de 1,2% QoQ. Além disso, observamos revisões baixistas nos trimestres anteriores. A abertura do indicador foi um tanto quando negativa (abaixo, temos mais alguns detalhes comentados por nossa Área Econômica).

A bolsa apresentou mais um dia de queda, puxada pelo tenebroso cenário econômico local. O dólar operou em queda, seguindo o movimento global, mas com uma clara underperformance em relação aos seus pares, enquanto a curva de juros apresentou fechamento de taxas e flattening, em um misto de menor crescimento, ajuste técnico e impulso externo.

Eu ainda vejo espaço para novas rodadas de depreciação ou underperformance dos ativos locais, exceto por uma melhora substancial do cenário político local. Confesso que não concordo com o movimento da curva de juros, mas o mercado ainda parece estar digerindo a surpresa do Copom. Talvez na Ata, fique mais claro a estratégia do BCB.

A noite de hoje será importante do ponto de vista político. O Conselho de ética está reunido neste momento em torno das investigações que envolvem Eduardo Cunha. O Congresso tentará votar a nova meta fiscal de 2015 e a LDO de 2016. Caso esses vetores sejam equacionados hoje, será uma indicação de força do governo, mesmo diante da prisão de seu líder no Senado. Caso contrário, poderemos sofrer mais uma rodada de deterioração dos ativos locais. Em meio a este ambiente, a agência S&P está em Brasília analisando a situação do país.

>> A surpresa no PIB (-1,7t/t dessaz vs. BBG: -1,2%t/t dessaz) ficou mais por conta do passado (da revisão para baixo na série original do PIB) do que do trimestre corrente (de fato, a taxa ano/ano do PIB de -4,5% não ficou tão distante do consenso de -4,2%a/a).
>> De qualquer maneira, como houve revisão para baixo no primeiro e no segundo trimestre, além de alguma surpresa para baixo no terceiro trimestre, a tendência do PIB de 2015 é que caia por volta de -3,5% (utilizando a nossa atual projeção para o último trimestre). Para 2016, estamos agora trabalhando com queda de -3,1%a/a (por conta do carrego pior);
>> A formação bruta de capital fixo foi o destaque negativo, caindo 4%t/t dessaz. O consumo das famílias caiu 1,5%t/t dessaz. No lado da oferta, agricultura, indústria e serviços caíram -2,4%, -1,3% e -1%t/t dessaz, respectivamente;

>> Os estoques puxaram a taxa dessaz de crescimento do PIB para baixo no 3º trimestre em 0,8p.p., enquanto o setor externo ajudou o PIB em 0,8p.p.

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