Brasil: Turbulências a frente.

Os ativos de risco estão operando próximos a estabilidade está manhã. A agenda do dia terá as contas externas no Brasil como destaque, já que a agenda dos EUA será esvaziada. O Estado está reportando que Nelson Barbosa dará uma coletiva para investidores locais e externos as 12h00 de hoje. Acredito que ele tentará adotar um discurso de continuidade em relação a política econômica que está sendo adotada até o momento. Contudo, no final de final, ficou claro que o discurso da nova equipe econômica está sendo ajustado para cada público específico. Para as bases do governo, o discurso é que política econômica sofrerá ajustes, buscando uma retomada mais rápida do crescimento. Para o mercado, o discurso de continuidade do ajuste fiscal é o que deverá prevalecer. Continuo esperando que o novo Ministro da Fazenda vá encontrar um mercado financeiro extremamente cético em relação a sua indicação. Ele precisará mostrar ações concretas, ou vitórias reais no caminho do ajuste fiscal para que todos se convençam de sua ortodoxia econômica, pelo menos no que tange ao ajuste fiscal.

De acordo com a Folha de hoje, Entre deputados, 42% são a favor  e 31% contrários ao impeachmentDecisão caberá a 27% dos deputados que não se posicionaram, aponta Datafolha.


Na Espanha, as eleições parlamentares concluíram sem uma vitória “limpa” de nenhum partido, o que pode tornar o cenário político do país um pouco mais conturbado nos próximos meses. Segundo do DB,
  • The Spanish general election confirmed the end of the PP-PSOE political duopoly at national level. But the main surprise was the extent of the underperformance of liberal-reformist Citizens relative to opinion polls. This changes the post-election scenarios – a centre-right coalition cannot reach a majority – and injects even greater political uncertainty. This is unlikely to be a positive development for markets.
  • Radical-left antiestablishment Podemos gained the most relative to opinion polls. Investors should not ignore Podemos' strong performance, its chances of heavily influencing the policies of the next government have increased but they remain low in our view. Similarly, while we think that the outlook for further structural reforms is not positive, the chances of outright reform reversal remain low. As in Portugal the most likely outcome is reform standstill.
  • Overall the main risk remains political impasse due to the unprecedentedly fragmented parliament. A potential PP-PSOE grand coalition would bring together the two largest parties in Spain, but it could be read as an attempt to resist change. A PSOE-Podemos-Citizens coalition would also have a large majority, but it would be unstable and probably damage Citizens. Indeed, we do not have enough elements to conclude whether a grand-coalition, a tripartite agreement or a new election is the most likely scenario. Even if a new government is formed we doubt it would last the full legislature. We provide a timetable and the mechanics of government formation. 
  • Avoiding chronic politically uncertainty will become increasingly important. We expect central banks' global liquidity tap to gradually tighten over 2016. Furthermore, although the speed of Spain's recovery has been remarkable in 2015, the journey to reduce its large net external debt will last well beyond the current decade in our view.

Na noite de sexta-feira Nelson Barbosa foi nomeado o novo Ministro da Fazenda do país. Devido a seus laços históricos com o antigo Ministro Guido Mantega e sua histórica defesa da “nova matriz econômica”, o novo Ministro irá ter que lidar com um mercado financeiro extremamente desconfiado a seu nome e suas intenções em relação a política econômica. Barbosa assumiu com um discurso de continuidade do ajuste fiscal, mas ponderou que este ajuste necessita de alguns ajustes. O Ministro sinalizou para a possível implementação de incentivos à alguns setores da economia, mas mantendo o foco no ajuste fiscal (talvez, ou quase certamente, de maneira mais gradua do que o ajuste proposto pelo antigo Ministro Joaquim Levy). Acredito que a nova equipe econômica encontrará imensas dificuldades em convencer o mercado de que uma guinada não está sendo executada na economia. Espero novas rodadas de pressão sobre os ativos locais, até que fique evidente que o país não abandonará a ortodoxia econômica.

No sábado, o STF quebrou o sigilo telefônico e fiscal do Presidente do Senado, Renan Calheiros, que já era investigado pela Operação Lava-Jato. Além disso, a mídia afirma que há evidências que o Vice Presidente Michel Temer possa ter se favorecido de recursos ilícito, também no curso da Operação Lava-Jato. Assim, caso confirmado essas investigações, teremos um cenário em que todos os potenciais substitutos diretos da Presidente da República, em um eventual afastamento desta, estariam com problemas graves para assumir o cargo. Na minha visão, estes eventos complicam ainda mais o cenário para um eventual impeachment, reduzindo a sua probabilidade.

O cenário econômico continua catastrófico. A recessão se aprofunda, o mercado de trabalho deteriora-se, a inflação segue perigosamente elevada e a troca do Ministro da Fazenda traz ainda mais desconfiança ao cenário. O ajuste fiscal, que já estava em risco, terá novos obstáculos pela frente. No campo político, parece que somos um país a deriva, praticamente desgovernado, sem que o horizonte relevante de tempo traga algum tipo estabilidade ao cenário. Quem será o Presidente da República daqui a 12 meses? E quem comandará a Câmara ou o Senado Federal? Existirá o PT e o PMDB no futuro? Hoje, temos mais questionamentos do que conclusões. De maneira geral, os mercados financeiros não reagem bem a incerteza e instabilidade. Apertem os cintos que teremos turbulências pelo caminho.

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