Impeachment e ECB.

Os ativos de risco estão operando sem grande movimentações esta manhã, na expectativa da decisão do ECB na Europa (mais detalhes na seção Europa abaixo). Na agenda do dia, além do ECB, teremos a Ata do Copom e a Produção Industrial (nosso viés é de um número mais negativo do que o consenso) no Brasil e o ISM Non-Manufacturing, Durable Goods e Jobless Claims nos EUA como destaques.

Os ativos locais devem utilizar o dia para digerir a decisão de abertura do processo de impeachment (mais comentários abaixo). A despeito da primeira reação positiva do EWZ, a reação dos sell-sides, até o momento, foi de cautela e com viés mais negativo. Um novo downgrade da nota de crédito do país pode ser antecipado para qualquer momento. Podemos esperar uma total paralisia do Congresso em todos aqueles quesitos importantes para o ajuste econômico e uma deterioração ainda maior do quadro de crescimento.

Brasil - O Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acatou um dos pedidos de impeachment do atual governo que estava em análise. Assim, tem início um processo que tem tudo para ser incerto e conturbado.

Eu tenho sentimentos mistos em relação ao impacto do processo nos ativos locais. Por um lado, acredito que será um processo permeado por incerteza e que irá paralisar o Congresso, o que deveria ser visto como negativo pelos mercados locais. Por outro lado, a simples possibilidade de uma troca de comando da economia, em meio a um quadro técnico totalmente negativo com relação aos ativos brasileiros, poderia levar a um movimento, pelo menos pontual, de recuperação dos ativos locais. O EWZ, ETF de Brasil na bolsa de NY, subiu de cerca de 2,5% após a notícia, interpretando os últimos eventos como positivos para o país.

O processo é relativamente rápido, e poderá ter uma definição até o final de fevereiro e começo de março. A oposição precisa de 2/3 dos votos da Câmara para acatar o impeachment, empossando o vice-presidente Michel Temer (vide os próximos passos deste processo abaixo). Ainda me parece cedo para afirmar qual será o desfecho deste processo.

De maneira geral, acredito que os portfólios precisam estar mais balanceados neste momento, devido ao “upside risk” de uma eventual troca de comando do país. Mesmo não havendo o impeachment, ainda existe um cenário de Dilma sair fortalecida deste processo. Não estou alterando definitivamente minha visão negativa em torno dos fundamentos locais. Apenas estou apontando para os riscos positivos de curto-prazo que os eventos de hoje podem trazer a um mercado excessivamente posicionado contra os ativos brasileiros.

Ainda no início da noite, o Congresso aprovou a nova meta de déficit fiscal para 2015, tirando mais uma “corda do pescoço” do governo no curto-prazo.

Segundo a CAC Consultoria Política, de Brasília:

A aceitação do pedido de impeachment, por uma liderança política enfraquecida por várias denúncias, não muda as condições estruturais da conjuntura. O PMDB está no governo e deu, hoje mesmo, votos para aprovar as mudanças na LDO de 2015, nas duas Casas do Congresso. Boa parte de suas lideranças está implicada no mesmo escândalo que afeta o governo. PT e PMDB formam uma aliança política e eleitoral desde 2005.  Esses são os fatos sobre o governo Dilma, mas todo o governo é vulnerável a uma conspiração e o núcleo de esquerda do governo é relativamente pequeno no Congresso. Se o PMDB decidir, em bloco, participar de uma conspiração para ocupar a presidência, terá muitos aliados.  Essa é a questão nesse preciso momento: se o pedido de impeachment dará início a uma conspiração política. Similar à que promoveu a mudança de governo no Paraguai.

De acordo com o Economista do Banco Brasil Plural, Mario Mesquita:

Here are the next steps:

-          The House sets up a Special Committee to issue a recommendation to the Floor (probably tomorrow).
-          President Rousseff will then have ten congressional sessions in which to present her defense
-          After that the Special Committee will have five congressional sessions to recommend approval or rejection of impeachment
-          48hrs after the (non-binding) recommendation, the impeachment proposal will be voted on at the floor, 342 out of 513 votes are needed to begin impeachment proceedings
-          If the proposal is accepted, president Rousseff would need to step aside for 180 days, pending her trial by the Senate

Europa - A quinta-feira terá como destaque a decisão do BCE na Europa. O mercado já espera o anuncio de medidas substanciais de estímulo monetário, e o mercado me parece, em parte, posicionado para este cenário. Pegando o comentário do Morgan Stanley sobre o tema, acredito que o mercado esteja esperando as seguintes medidas:
 The Eonia market and the EGB curve have discounted quite a bit of easing into tomorrow’s ECB meeting. Roughly 14 bps of cuts to the deposit rate are priced into the Eonia curve, while the broad based move lower in term premiums suggests the market is expecting a sizeable expansion of asset purchases (>€15bn per month). Given these lofty expectations, the market is understandably worried that the ECB will underwhelm.

From a technical standpoint, here is what I think would classify as a positive surprise:

1)      ≥15bps deposit rate cut
2)      ≥€15bn increase in monthly asset purchases
3)      Extension of QE program to or beyond March 2017 (6 month extension)
4)      Commitment to ease policy further if needed in the coming meetings

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