Update

A terça-feira foi marcada pelo aumento da incerteza no cenário de curto-prazo, especialmente no tocante ao ambiente externo. Não tivemos informações novas relevantes no tocante ao Brasil.

O dia foi marcado por dados econômicos mais positivos nos EUA, que acabaram elevando as incertezas em torno do timing do começo de um processo de alta de juros no país. A despeito desta incerteza, contudo, o mercado acabou focando na situação calamitosa que se encontra a Grécia. Assim, o curto espaço de tempo para um acordo entre a Grécia e seus credores parece ter sido o vetor fundamental para um movimento mais acentuado de “risk-off” dos ativos de risco.

Os mercados estão reagindo dentro daquele cenário que tínhamos desenhando desde o final de semana. A despeito de um robusto Durable Goods nos EUA, observamos um forte fechamento de taxas longas de juros nos EUA e na Europa, com claro viés de flattening nos EUA. A situação na Grécia parece estar levando a um “fly-to-quality” dos mercados, dando suporte adicional ao USD e colocando pressão nas bolsas e nas commodities ao redor do mundo.

Acredito que o cenário base ainda seja de um acordo entre a Grécia e seus credores, mas o mercado está dando um “empurrão”, na forma de um contágio para os demais ativos de risco, para que os policy makers europeus acelerem o processo de negociação. Certamente, o risco de um evento de cauda cresce a cada novo dia, e os mercados estão precificando este cenário.

Nos EUA, acredito que veremos uma recuperação gradual porém saudável da economia, o que irá abrir espaço para o Fed dar início a um processo de alta de juros ainda no segundo semestre deste ano. Setembro me parece a data mais provável hoje. A curva de juros coloca em torno de 50% de probabilidade deste cenário.

No Brasil, o ajuste fiscal está sendo feito de uma forma não linear e tortuosa. Ainda não vejo o Ministro Levy se afastando do cargo no curto-prazo, mas os riscos hoje são maiores do que a alguns dias atrás, o que demanda algum prêmio de risco adicional nos mercados locais.

Mantenho minha visão descrita neste fórum nos últimos dias. Otimista com o USD, pessimista com US Bonds (parte intermediária da curva) e commodities, vendo oportunidades de compra de “seguros baratos” nas puts de bolsas norte americanas e acreditando em um cenário mais desafiador para os ativos emergentes no curto-prazo.

No Brasil, o BRL está na banda de cima do range de 3,05-3,15 que propus durante a semana. O mercado deveria trabalhar um pouco nestes níveis, mas o cenário externo e os ruídos locais acabaram colocando um viés um pouco mais altista para o dólar no curto-prazo. Ainda vejo valor em carregar posições aplicadas na curva de juros, mas em tamanho taticamente menor do que no passado recente, em conjunto com posições vendidas em BRL. Os fundamentos locais ainda pressupõem um câmbio mais depreciado e juros mais baixos no longo-prazo. O cenário para o mercado de renda variável segue desafiador, já que a qualidade do ajuste fiscal se torna cada vez mais negativa.

EUA – O dia foi marcado por uma forte alta do Durable Goods Orders em abril, uma leve recuperação do Consumer Confidence em maio e mais um mês de alta nos preços dos imóveis. O New Home Sales apresentou uma alta expressiva em abril. Está se configurando, assim, um ambiente de recuperação do crescimento neste segundo trimestre do ano.

Brasil – O mês de maio foi mais um mês negativo para a confiança do consumidor e para a confiança do setor de serviços (vide gráficos). Não há qualquer sinal de recuperação do crescimento no curto-prazo. Acreditamos que o mercado poderá revisar o crescimento deste ano para -2% em breve, o que irá ser um vetor adicional de ajuda no combate à inflação. Aliado aos dados do CAGED divulgados na semana passada, os indicadores de confiança colocam um claro viés de baixa para o crescimento deste ano, cujas as expectativas já estão bastante deprimidas.


A curva local de juros precifica mais altas de 46bps, 20bps e 5bps nas próximas reuniões do Copom, permanecendo bastante invertida, com quedas expressivas precificadas a partir do começo do ano que vem. Por hora, o BCB vem mantendo um discurso duro e os rumores recentes apontam para a continuidade desta postura. Os sinais preliminares da mídia deixam transparecer que o BCB não está muito confortável com o mercado já precificando quedas agressivas de juros no ano que vem. A comunicação oficial do BCB ainda não tocou neste assunto e só me parece pertinente faze-lo após encerrado este ciclo de alta de juros.

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