Dia de agenda esvaziada

Em um dia de agenda esvaziada no Brasil e no mundo, os ativos de risco estão abrindo a semana revertendo, em parte, os movimentos verificados na sexta-feira. A manhã está sendo marcada por uma leve queda das bolsas e das commodities, uma alta do USD e uma pequena abertura de taxas nos países desenvolvidos. As bolsas na China reagiram positivamente ao corte de juros anunciado ao longo do final de semana, mas fica claro que os ativos que dependem da demanda do país mostram dinâmica antagônica, com ativos como o AUD, NZD, Commodities, e etc, apresentando pressão, a despeito da alta de 3% no China Composite. Assim, desenha-se na China o mesmo pano de fundo observado nos EUA, Japão e Europa nos últimos anos. A perspectiva de afrouxamento monetário dá um forte ímpeto as bolsas, mas não promove o mesmo efeito sobre os ativos que efetivamente dependem de uma aceleração da demanda real proveniente da China.

Na agenda do dia, destaque para a reunião do Eurogroup na Europa, onde as perspectiva de algum acordo junto a Grécia são remotas.

Os dados de emprego nos EUA mostraram um mês de março ainda pior do que o divulgado anteriormente, mas uma recuperação ao longo do mês de abril. Como bem resumiu o economista do JPM: the trend in job growth is going from great to goodA ausência de uma recuperação mais robusta neste começo do Segundo trimestre está, definitivamente, eliminando a probabilidade de uma alta de juros no meio deste ano. Por hora, ainda não vejo motivo para descartar o começo de um processo de alta gradual de juros em setembro. Ainda vejo chances relevantes de uma recuperação da economia nos próximos meses, o que irá permitir a continuidade do processo de normalização monetária por parte do Fed.

Em um ambiente de menor incerteza do cenário no curto-prazo, precisamos separar movimentos de curto-prazo, das tendências de longo-prazo nos ativos de risco. Com a Treasury 10yrs não rompendo o patamar de 2,25%, em um pano de fundo em que a economia norte americana ainda parece passar por um “soft-patch”, é natural esperar um período de consolidação das taxas de juros nos países desenvolvidos, até que dados econômicos mais fortes venham a ser divulgados. Assim, faz sentido o movimento de descompressão nas moedas, commodities e ativos emergentes em geral, observado nos últimos dias. No longo-prazo, contudo, ainda não vejo motivos para alterar a visão de recuperação da economia norte americana, de um menor crescimento estrutural da China e de uma recuperação gradual, porém constante, da economia na Europa. Neste ambiente, espero que, em algum momento do tempo, possamos ver novas rodadas de pressão nas commodities e nos ativos EM, alta no USD e abertura de taxas de juros nos países desenvolvidos.

Em suma, vejo uma janela de curto-prazo que pode vir favorecer um melhor desempenho dos ativos de risco, em especial nos países emergentes. Contudo, qualquer sinal de piora na posição técnica, ou reversão do cenário de crescimento nos EUA, será visto como motivo para o retorno das tendências que prevaleceram grande parte deste começo de ano. Assim, os movimentos positivos de curto-prazo devem continuar a ser vistos como momentos de acomodação, e não inversão das tendências que prevaleceram neste começo de ano, e tem todos os ingredientes para voltarem a imperar nos mercados, leia-se, USD forte, queda no preço das commodities, abertura de taxas de juros nos EUA, pressão sobre os ativos emergentes, entre outras. Em termos de alocação a risco, tenho dificuldades em apostar em movimentos que julgo serem de curto-prazo, contra os fundamentos. Aproveitaria o momento atual para alocar risco na direção em que acredito que os fundamentos irão apontar nos próximos meses, como recuperação da economia norte americana, fraqueza do crescimento na China, recessão no Brasil, mas com um ajuste fiscal sendo efetivado, e recuperação lenta, mas gradual, da economia europeia, em um ambiente de política monetária expansionistas na região, com inflação baixa.

Brasil – O final de semana não trouxe grandes novidades ao cenário econômico ou político. Após a reprecificação da curva local de juros, com uma postura percebida como mais dura por parte do BCB, continuo vendo valor na parte intermediária e longa da curva, especialmente em um ambiente externo, de curto-prazo, onde não parece haver pressa por parte do Fed em dar início a um processo de alta de juros, e com um novo corte de juros na China. Ainda acredito em uma depreciação gradual do BRL que, na minha visão, faz parte de um ajuste saudável para a economia.

China - O destaque do final de semana ficou para os desenvolvimentos na China. Em abril, o CPI saiu de 1,4% YoY para 1,5% YoY, abaixo das expectativas de 1,6% YoY. O PPI, por sua vez, se manteve estável em -4,6% YoY, abaixo das expectativas de -4,5% YoY. Frente os sinais claro e inequívocos de fragilidade na economia, em um ambiente de inflação baixa, o PBoC anunciou um corte de 25bps, linear, na “lending rate”, elevando o “deposti rate” de 1,3x para 1,5x da “lending rate”. A medida já era em grande parte esperada. Se, por um lado, é positivo saber que o PBoC está atento ao cenário de fraqueza do crescimento, por outro lado, a medida pode acabar sendo vista como uma dose inferior a necessária para lidar com a perspectiva de baixo crescimento no país. O mercado pode vir a questionar a disposição do PBoC em anunciar medidas mais agressivas para conter a espiral de desaceleração econômica na China. Em suma, leria a medida como neutra no curto-prazo. Podemos esperar alguma estabilização do crescimento nos próximos meses, mas a China ainda me parece um grande risco ao cenário econômico global ao longo deste ano.

Como venho comentando ao longo dos últimos meses, e ratifiquei neste fórum a dois dias atrás, o cenário para a economia chinesa se mostra extremamente desafiador. A despeito de uma série de medidas colocadas em prática nos últimos meses, a economia aparenta uma imensa dificuldade em mostrar alguma estabilização e/ou recuperação do crescimento. O modelo chinês vem se mostrando esgotado, sem que os policy makers locais tenham condições, por hora, de reenergizar a economia. Assim, é natural esperar que novas medidas de suporte ao crescimento sejam divulgadas nos próximos dias, expectativa essa que ajudou a recuperação das bolsas do país ao longo das últimas semanas. Ainda vejo a China como o principal risco para a economia mundial este ano, a despeito da animação do mercado local de renda variável, que parece reagir as expectativas de novos afrouxamentos monetários, além de questões técnicas, como a interconexão das bolsas da China e Hong Kong, e a ausência de oportunidades de investimentos em outras classes de ativos, já que o mercado imobiliário e de crédito passam por um período de correção.

No que tange a oportunidades de investimentos, vejo a recuperação dos ativos que dependem da demanda chinesa como uma recuperação técnica e pontual. Mesmo que o mercado leia a medida de hoje como positiva, acredito que não altera o cenário desafiador de longo-prazo. À medida que fique claro que a desaceleração da China será um vetor estrutural, e não cíclico, assim como um processo de alta de juros nos EUA se mostrar necessário, independente de quando efetivamente irá ocorrer, espero que as commodities voltem a operar sobre pressão, deixando ativos dependentes da China, como ações ligadas a commodities, commodities currencies (AUD, NZD, CAD, BRL entre outras),  expostas negativamente a este cenário. O pano de fundo continua extremamente desafiador para os países com déficits gêmeos e, especialmente, que ficaram muito expostos ao mercado de commodities. 

Grécia – Um artigo na Bloomberg afirma que Merkel estaria sobre pressão de seu partido para deixar a Grécia sair da União Europeia. Esta postura poderia tornar a União e o Euro mais fortes, segundo membros de seu partido. A notícia não foi confirmada ou negada pela líder da Alemanha. A situação na Grécia segue tensa e indefinida. A medida que o tempo passa, e os recursos do país se tornam mais escassos, o mercado deverá ficar mais sensível ao noticiário. 

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