China: Inflação baixa e corte de juros

O destaque do final de semana ficou para os desenvolvimentos na China. Em abril, o CPI saiu de 1,4% YoY para 1,5% YoY, abaixo das expectativas de 1,6% YoY. O PPI, por sua vez, se manteve estável em -4,6% YoY, abaixo das expectativas de -4,5% YoY. Frente os sinais claro e inequívocos de fragilidade na economia, em um ambiente de inflação baixa, o PBoC anunciou um corte de 25bps, linear, na “lending rate”, elevando o “deposti rate” de 1,3x para 1,5x da “lending rate”. A medida já era em grande parte esperada. Se, por um lado, é positivo saber que o PBoC está atento ao cenário de fraqueza do crescimento, por outro lado, a medida pode acabar sendo vista como uma dose inferior a necessária para lidar com a perspectiva de baixo crescimento no país. O mercado pode vir a questionar a disposição do PBoC em anunciar medidas mais agressivas para conter a espiral de desaceleração econômica na China. Em suma, leria a medida como neutra no curto-prazo. Podemos esperar alguma estabilização do crescimento nos próximos meses, mas a China ainda me parece um grande risco ao cenário econômico global ao longo deste ano.

Como venho comentando ao longo dos últimos meses, e ratifiquei neste fórum a dois dias atrás, o cenário para a economia chinesa se mostra extremamente desafiador. A despeito de uma série de medidas colocadas em prática nos últimos meses, a economia aparenta uma imensa dificuldade em mostrar alguma estabilização e/ou recuperação do crescimento. O modelo chinês vem se mostrando esgotado, sem que os policy makers locais tenham condições, por hora, de reenergizar a economia. Assim, é natural esperar que novas medidas de suporte ao crescimento sejam divulgadas nos próximos dias, expectativa essa que ajudou a recuperação das bolsas do país ao longo das últimas semanas. Ainda vejo a China como o principal risco para a economia mundial este ano, a despeito da animação do mercado local de renda variável, que parece reagir as expectativas de novos afrouxamentos monetários, além de questões técnicas, como a interconexão das bolsas da China e Hong Kong, e a ausência de oportunidades de investimentos em outras classes de ativos, já que o mercado imobiliário e de crédito passam por um período de correção.

No que tange a oportunidades de investimentos, vejo a recuperação dos ativos que dependem da demanda chinesa como uma recuperação técnica e pontual. Mesmo que o mercado leia a medida de hoje como positiva, acredito que não altera o cenário desafiador de longo-prazo. À medida que fique claro que a desaceleração da China será um vetor estrutural, e não cíclico, assim como um processo de alta de juros nos EUA se mostrar necessário, independente de quando efetivamente irá ocorrer, espero que as commodities voltem a operar sobre pressão, deixando ativos dependentes da China, como ações ligadas a commodities, commodities currencies (AUD, NZD, CAD, BRL entre outras),  expostas negativamente a este cenário. O pano de fundo continua extremamente desafiador para os países com déficits gêmeos e, especialmente, que ficaram muito expostos ao mercado de commodities. 

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